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08/03/2023 às 16:28

Movimento machista põe em risco segurança e direitos das mulheres, avaliam especialistas

Atuação vai na contramão da sociedade, já que as mulheres estão, cada vez mais, conquistando espaços e protagonismo

Gabriella Arantes

Movimento machista põe em risco segurança e direitos das mulheres, avaliam especialistas

Foto: Reprodução internet

Para chegarmos até aqui, nós já rompemos muitas barreiras! Avanços em leis contra a discriminação e acesso à educação e as oportunidades só foram conquistados através de muito esforço, principalmente das nossas antecessoras. No entanto, o discurso retrógrado de um movimento machista que vem se propagando nas redes sociais está colocando em risco muito daquilo que construímos até agora.

Trata-se do movimento "red pill", ou pílula vermelha, em alusão ao filme Matrix que, na obra, apresenta tal pípula como um "despertar para a verdade". No entanto, a ideia do grupo, que em sua maioria é formado por homens, é criar estratégias de opressão do comportamento feminino contemporâneo. Na visão desses opressores, as mulheres devem ser tratadas com inferioridade em relação aos homens.

Para a delegada da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Jozirlethe Criveletto, o grupo cria na internet um universo misógino - termo que se refere à propagação do ódio contra mulheres - e fere tudo aquilo que conquistamos. 

“A realidade é que esses homens se sentem superiores como se a mulher valesse ainda como um cavalo, conforme séculos atrás que chegamos a valer o preço de um. Éramos vendidas e estupradas. O que eles estão fazendo é um retorno, um retrocesso [...]. É uma negação de que o ser humano é igual. Nós somos iguais em direitos e obrigações. [...] Eles querem mostrar que o perfil de submissa é natural, querendo naturalizar a submissão da mulher. E tem aqueles que justificam por meio de argumentos religiosos e pela Ciência, o que ainda é pior’, afirmou 
Jozirlethe ao Leiagora.

Ainda conforme a delegada, essa ideologia que vem sendo propagada coloca em perigo a segurança física e psicológica das mulheres. De acordo com a especialista, o perfil dos agressores de mulheres é similar aos ideais desses movimentos machistas. 

“Quando você começa a observar o perfil das vítimas e dos agressores, dá para perceber que é o perfil do ciclo de violência. Isso traz um agressor misógino que tem sentimento de posse da mulher e quando ela não corresponde àquilo que ele deseja, ele começa a ter ódio contra a mulher e acaba se transformando em vingança. [...] Já na relação doméstica, percebemos isso. E eu acredito que esse movimento destaque bem esse perfil de homens que querem que a mulher seja submissa”, disse. 

Para a militante e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Lélica Lacerda, os grupos machistas são criados com base na decadência da sociedade patriarcal, porque as mulheres estão cada vez mais colocando essa sociedade em xeque.

“Se há algumas gerações você tinha famílias em que o homem saía para trabalhar e a mulher cuidava de casa, hoje isso é uma realidade praticamente superada. As mulheres todas trabalham e não faz mais sentido a gente trabalhar como os homens, nos responsabilizarmos como os homens e termos que viver submetidas ao mandos e desmandos masculinos. [...] E o que eu percebo é que nós mulheres estamos caminhando para frente na história, construindo o novo. Tenho certeza que o mundo que a gente sonha vai vir das nossas mãos”, explicou Lélica ao Leiagora

O crescimento do feminismo no Brasil também se tornou uma ameaça para esses indivíduos e eles não estão sabendo lidar com isso. “Eu vejo que o feminismo vem tomando uma proporção muito grande, vem se popularizando e saindo da universidade. Trata-se de lutas que as mulheres vêm travando todos os dias em grupo ou sozinhas. Eu sinto que os homens estão sem saber como lidar com isso. E nisso de não saber como lidar, alguns vão para um caminho interessante de se abrir e buscar conhecimento. [...] Mas tem homens que, diante do avanço das incertezas, eles buscam resgatar o antiquado, o velho e arcaico”, contou.  

A professora acredita que esse ambiente virtual de desigualdades fomenta ainda mais o discurso de ódio contra as mulheres. “Tudo isso cria um ambiente favorável e propício para que as violências sigam se perpetuando e esses tipos de discurso de ódio seguem nessa crescente que estamos observando”, avalia Lélica.

Ainda segundo a militante, ainda não há nenhum movimento parecido com esse no nosso estado. Contudo, o machismo ainda segue entranhado na nossa cultura. 

“[Aparentemente] não existe movimento institucionalizado e organizado. Mas a gente enfrenta no nosso cotidiano o nosso padrão de cultura. [...] Não sei se tem o movimento, mas, se tiver, polariza ainda mais a luta de classes. Mas, na verdade, é que o senso comum dos homens de Mato Grosso é bastante atrasado”, concluiu.
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