O deputado estadual Lúdio Cabral (PT) criticou a desarmonia entre o governo de Mato Grosso, sob Mauro Mendes, do União Brasil, e o governo federal, liderado pelo presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, quando o assunto são as demarcações de territórios indígenas. Para Lúdio, o gestor estadual precisa "reconhecer que não está mais sob a vigência do governo Bolsonaro".
A declaração foi feita quando Lúdio foi questionado sobre a postura opositora do governador à demarcação do território Kapôt Nhinore, no Araguaia. Mauro prometeu agir política e juridicamente contra a TI, em uma reunião com a bancada federal do estado, cuja maioria é apoiadora do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, do PL. "Ele [Mauro] está em uma outra realidade e precisa se sintonizar com essa outra realidade", defendeu Lúdio.
A crítica de Lúdio reforça o que foi dito pelo também petista e deputado estadual Valdir Barranco, que, em defesa das demarcações, citou a agenda de Lula com os povos originários, fazendo questão de lembrar que a pauta foi vitoriosa nas urnas. "Quem votou no Lula votou sabendo dos compromissos dele com desmatamento zero, com garimpo zero, com respeito aos povos indígenas, com respeito às comunidades quilombolas, com respeito à agricultura familiar, com respeito às mulheres, com respeito à comunidade LGBTQIA+", disse Barranco.
Nesta semana, Lúdio realizou uma audiência na Assembleia Legislativa para discutir a saúde indígena, oportunidade em que a presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt), Eliane Xunakalo, criticou a concessão de licenças ambientais pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) para empreendimentos extrativistas, como a mineração, ou que tenham impactos no entorno dos territórios.
"Prejudica porque o entorno envolve o nosso território. Os rios que essas licenças impactam, a água poluída de mercúrio vai correr para o nosso território. O que garante que nós não seremos contaminados? Isso mata o rio, os peixes serão contaminados. Então precisamos discutir essa área de amortização", explica, dizendo que já enviou ofícios à Sema.
Eliane Xunakalo também comentou a declaração do governador contra as demarcações de territórios indígenas. "A gente recebe com muita tristeza essa postura do governador, que diz ser tão amigo do cacique Raoni. Acredito que, se tirassem a casa do governador, como ele reagiria? Eu acho que gastar energia contra um povo que está há mais de 20 anos buscando esse território...acho que deveria usar todas energias o governador para promover o bem-estar da população, realmente para quem precisa, como a população que está nas periferias".
A terra indígena Kapôt Nhinore foi demarcada no dia 28 de julho e desde então começou a correr prazo de 90 dias para manifestação contrárias antes de ser possível a homologação. O território protegeria a aldeia de nascimento do cacique Raoni Metyktire, que subiu a rampa do Planalto no dia 1º de janeiro com Lula, no ato da posse.