Efêmero: qualidade daquilo que é passageiro, temporário, transitório. Nos meus estudos de Literatura, em vários momentos me defrontei com autores cuja obra girava em torno da tal ?efemeridade da vida?. Jovem ainda saindo da adolescência e entrando na idade adulta, eu tinha a consciência ? longínqua ? de que a vida acaba, frágil que é. Mas, nunca esse ponto efetivamente tocou muito fundo em mim. A juventude parece ter em alguns um certo efeito entorpecente com relação à finitude da vida. Afinal, o mundo está ali, logo à frente e pronto para ser conquistado, mudado, melhorado! O que poderia ser mais forte do que nós? Então, chega a idade adulta e, de um jeito ou de outro, ou o sistema começa a nos engolir, ou vivemos à margem dele. Ambas as opções com suas dores e delícias. A maioria acaba optando pela primeira, por uma série de justificativas. Assim, as poucas revoluções que questionam o sistema tornam-se históricas quando ocorrem ? para o bem ou para o mal ?, e a grande roda que movimenta o mundo tende a se manter firme. O adulto, em geral, sonha menos que o jovem, e bem menos que a criança. O tal amadurecimento parece impor isso. E, talvez, uma das maiores dores do ser maduro resida justamente na noção de que a vida, antes tão intensa e ilimitada, começa a dar sinais de que é frágil e, o pior, de que é uma situação que pode deixar de existir a qualquer momento, pelos motivos mais banais possíveis. Não que um adulto seja mais propenso à efemeridade da vida; ela é efêmera desde o nascimento. Na juventude a eternidade é só uma sensação, cuja existência permite aos sonhos ganharem asas e, quem sabe, alçarem voos. A coluna da semana passada falava justamente sobre o tempo e o imprevisto sobrevirem a todos. Pois os últimos dois dias mostraram a este que vos escreve que o quanto a vida pode ser efêmera. Não ?a vida?, em geral, aquela que pulsa em todo lugar, mas ?a minha vida?, a que habita em cada um de nós ? ou na qual habitamos ? e sem a qual deixamos de existir, pelo menos neste plano. No domingo tivemos a eleição de um novo presidente da República. Fatos como este naturalmente nos remetem a olhar para a frente, para os próximos quatro anos, para o tal futuro. Alguns com olhos esperançosos de um país que vai mudar de verdade, e para melhor sob suas perspectivas. Outros com olhos menos brilhantes, até receosos do que pode sobrevir à nação. Para o otimismo ou o pessimismo, esse olhar para o porvir lança um desejo de futuro, um querer o amanhã para ?viver e ver? a promessa dos dias vindouros. E, não mais que de repente, o imprevisto pode chegar e mostrar para cada um de nós o quão frágil esse desejo de futuro pode ser. Literalmente, de um instante para o outro, esse futuro pode não mais existir para nós, e o incidental acidental pode se tornar derradeiro, impondo a nós o espelho que a infância sabiamente não vê e a juventude costuma ignorar, para o bem de ambas. O futuro que almejamos pode não estar lá para nós. ?Para morrer, basta estar vivo?, dizia minha avó. E o importante é que cá estamos, vivíssimos, e fazendo planos para o futuro incerto dentro de nossa existência efêmera. Planos de melhorar, de manter, de romper, de resistir e confrontar. Planos de mudar, aumentar, construir. Planos de permanecer, de controlar, de cuidar. Planos, muitos planos. O amanhã precisa ser planejado, e o hoje precisa ser vivido. Sejamos hoje quem planejamos anteriormente que seríamos, para que hoje possamos planejar quem amanhã seremos. E se o imprevisto sobrevier, que venha arrebatador e que nos leve com nosso desejo de amanhã. Infinitamente pior seria um previsto chegar e nos levar sem qualquer aspiração pois, neste caso, efetivamente já teríamos sido levados e, talvez, nem teríamos notado. Tenhamos hoje o gozo da existência, da alegria da vitória, da força da resistência.