Nosso jornalista Iury Lupaudi recebeu o atleta Kaike Angelim, nos estúdios do LTV, para bater um papo sobre esporte, sonho e solidariedade. Natural do interior de Mato Grosso, o lutador de Jiu Jitsu irá representar o Brasil em Abu Dhabi.

Kaike conta que é apaixonado por esporte desde criança. ?Eu comecei a praticar Karatê lá na minha cidade, Paranatinga, mas durou pouco tempo ? por um ano só ?porque acabaram as aulas lá. E aí ficou aquele sonho na cabeça, e com 17 para 18 anos eu vim pra Cuiabá e comecei a treinar Muay Thai?, explica.

E não parou por aí.?Fiz bastante luta de Muay Thai, de Kickboxing e, como meu foco principal era o MMA, eu comecei a treinar o Jiu Jitsu?, completa o esportista.

Ele se identificou tanto com o esporte que não largou mais. ?Vai fazer cinco anos que estou no Jiu Jitsu. Me destaquei muito rápido, graças a Deus e a todo a minha equipe?, comemora.

Para conseguir participar de um campeonato nos Emirados Árabes, Kaike chegou a vender água nas avenidas da capital mato-grossense. ?Quando nós começamos a ação, eu e mais três colegas que também vão para Abu Dhabi, tiramos uma foto dessa venda de água no sinal, já que eu tive a ideia para arrecadar dinheiro para ir para Abu Dhabi?, diz.

Ele conta que a foto fez tanto sucesso, que começou a repercutir nas redes sociais, e chegou até ao conhecimento do sheik do país. ?Em dois dias deu mais de dois mil compartilhamentos. Muita gente repostou, o pessoal postava no stories e ia compartilhando. Três dias após essa foto publicada, eu recebi uma mensagem da assessoria do sheik Mohammed Bin Zayed, dos Emirados Árabes, que dizia bem assim: ?O sheik viu a sua história e quer te ajudar a vir pra Abu Dhabi?. Na hora, não acreditei?, revela Kaike.

O atleta conta que a passagem aérea foi comprada em apenas 24 horas. ?Aí eu vi que era real e começou a tomar uma proporção muito grande?, afirma ele, ressaltando que, além da passagem, o sheik arcou com os custos da hospedagem, alimentação, inscrição e uniforme.

Sem entender a razão de tanta bondade, Angelim começou a pesquisar. ?Realmente, o sheik é uma pessoa muito bondosa, que ajuda muitas pessoas, e ele é conhecido lá por realização de sonhos. E eu não sei por que motivo, mas ele me escolheu para estar realizando o meu sonho?, alegra-se.

O esportista se diz grato pelas oportunidades recebidas. ?Eu agradeço muito, porque foi graças a todas essas pessoas, que tiraram um minutinho do seu tempo para compartilhar essa publicação, que ela chegou até Abu Dhabi?, argumenta.

Ele reconhece que nem todos em Mato Grosso consegue ter as mesmas chances. ?O apoio ao esporte aqui é muito difícil. Graças a Deus, eu tenho algumas empresas que me apoiam, e eu agradeço, porque foi graças a elas que eu conquistei todos os títulos que conquistei até hoje. E graças a esses títulos que me dá uma visibilidade para eu poder participar desses eventos mundiais?, diz.

?Mas o apoio aqui é muito difícil, o esporte é muito carente. Infelizmente, os poderes públicos não apoiam de forma alguma?, lamenta o atleta.

Ele comenta, inclusive, que seus colegas, que estavam vendendo água com ele para arrecadar dinheiro, não tiveram a mesma sorte. ?Esses três atletas ainda estão vendendo água no semáforo para conseguir ir para Abu Dhabi?, alega.

A paixão pelo esporte é tão grande, que ele criou uma forma de ajudar pessoas necessitadas por meio de práticas desportivas. ?É um projeto social para crianças carentes dos bairros da região da nossa academia ? que fica no bairro Campo Verde próximo ao Alphaville. Nós abrimos o projeto totalmente gratuito para crianças que não têm condições de pagar?, conta Kaike.

Pai de uma menina de quatro anos, o lutador vem de uma família humilde e afirma, com convicção, de que o esporte mudou a sua vida.?Graças a Deus, eu nunca passei por situações de passar fome, mas eu tive uma infância muito difícil. E hoje tudo o que eu tenho é através do esporte, tudo o que conquistei foi através do esporte?, diz ele, agradecido.

Gratidão, aliás, é a palavra-chave do atleta. ?Eu sou muito grato. E uma forma de eu poder retribuir tudo isso para a sociedade é ajudando essas crianças.?

Questionado sobre se irá trazer a medalha para o Brasil, Kaike demonstra autoconfiança: ?Estou treinando muito para isso, me preparando muito, porque eu quero trazer esse ouro pra casa?, afirma.

No entanto, não deixa a humildade de lado. ?Graças a Deus, estou bem dentro do Brasil e do mundo, estou conseguindo ficar bem no ranking, mas têm muitos atletas que estão melhores que eu. Eu tenho essa consciência de que tenho que melhorar muito para ser o primeiro?, argumenta.

Desistir nunca foi uma opção. O rapaz sempre andou lado a lado com a persistência. ?Desde que eu comecei, coloquei na minha cabeça: Eu vou fazer o que for preciso para realizar o meu sonho e eu não vou parar enquanto eu não conseguir?, diz.

E nem tudo foram flores. Em meio à euforia de organizar toda a viagem para Abu Dhabi, Kaike teve que lidar com uma situação muito triste de sua vida: a morte de sua avó. ?Eu tive essa notícia ao meio-dia, apenas três horas depois de ter fechado todo o meu contrato com a assessoria do sheik. Foi um momento muito difícil, eu tive que me deslocar para a cidade de Paranatinga imediatamente, minha mãe não passava muito bem por conta da perda, e eu imaginei que tudo o que eu havia conquistado de alegria tinha ido por água abaixo?, lembra

?Não foi fácil, mas minha mãe e minha família me deram total apoio. (...) Eu tive que ser muito forte, tive que conseguir engolir todo aquele sofrimento naquele momento para conseguir fazer tudo para que esse sonho fosse possível?, finaliza Angelim.

Confira a entrevista completa:

Direto da Redação, Maisa Martinelli/ Iury Lupaudi