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01/09/2020 às 17:58

Queimadas em MT já atingem área cinco vezes maior que Cuiabá

Além do tamanho da área, um estudo categorizou as queimadas por biomas, categorias fundiárias e municípios mais afetados no estado

Maria Clara Cabral

Queimadas em MT já atingem área cinco vezes maior que Cuiabá

Foto: Corpo de Bombeiros

Em 2020, o fogo já atingiu 1,7 milhão de hectares de Mato Grosso, uma área cinco vezes maior que a capital do estado, Cuiabá. No estado, foram identificados 15 mil focos de queimadas no período entre janeiro e 17 de agosto.

Dos biomas, o Pantanal foi o mais impactado proporcionalmente, com uma área de vegetação nativa queimada nove vezes superior ao quantitativo de desmatamento na região dos anos de 2018 e 2019, 
que somaram 59.950 hectares. Neste ano, as chamas já atingiram 560 mil hectares, consumindo 9% do Pantanal matogrossense. 

O estudo também mostrou que 95% do fogo no bioma incidiu sobre áreas de vegetação nativa.

Os dados são detalhados em nota técnica do Instituto Centro de Vida (ICV) com base em dados da plataforma Global Fire Emissions Database, da NASA (National Aeronautics and Space Administration) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O estudo identificou o tamanho da área incendiada no estado e categorizou as queimadas por biomas, categorias fundiárias e municípios mais afetados em todo o estado. Também analisou os locais de origem e áreas afetadas pelos maiores incêndios no Pantanal durante o período proibitivo decretado no dia 1º de julho e que segue até 30 de setembro.

“Os dados tornaram possível uma espacialização da área atingida. Dessa forma, conseguimos ter uma estimativa da área e não somente dos números de focos de calor”, explica Vinícius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, que assina a nota junto a Ana Paula Valdiones e Paula Bernasconi.

O estudo passou pela revisão de Douglas Morton, do Goddard Space Flight Center da NASA.

LEIA MAIS: Secretário alerta: incêndios raramente ocorrem sozinhos; são criminosos


Distribuição dos incêndios por categoria fundiária. Fonte: ICV

Onde o fogo incide

O documento aponta que metade da área afetada por incêndios em 2020 incidiu em imóveis rurais inscritos no Cadastro Ambiental Rural (CAR), com 874 mil hectares contabilizados. A categoria é seguida das áreas não cadastradas, que tiveram 367 mil hectares consumidos pelo fogo.

“Esses imóveis [cadastrados no CAR] ocupam a maior área no estado, então quando o fogo sai de controle, ele também se alastra neles. Mas o dado também é um indicador da origem da queimada principalmente nos imóveis rurais privados, de uso agropecuário, e mostra a associação do uso do fogo na sequência do desmatamento para a limpeza da área”, explica Vinícius.

Em terceira posição e com o registro de 307 mil hectares figuram as Terras Indígenas (TIs), das quais as mais impactadas foram as TIs Pareci e Parabubure, ambas localizadas no Cerrado. Nessas localidades, a situação também é crítica, já que as TIs concentram 18% de toda a área afetada pelos incêndios no estado.

Entre os biomas, a Amazônia registrou 37% das áreas, seguida do Pantanal, com 32%, e do Cerrado, com 31%.

O município com maior área afetada por incêndios foi Poconé com mais de 312 mil hectares atingidos e o correspondente a 18% de toda a área incendiada no estado. O município é seguido de Barão de Melgaço e Cáceres. Juntos, os três municípios localizados no bioma Pantanal respondem por 31% da área impactada pelo fogo no estado no período analisado.



Impactos socioeconômicos e covid-19

As consequências dos incêndios são amplos, conforme o estudo do ICV. “Vão desde os impactos para a biodiversidade e equilíbrio ambiental até prejuízos econômicos, como o comprometimento do potencial turístico tão importante para a região", cita a nota.

"Um dos maiores impactos ocorre na saúde da população local com o aumento da frequência de doenças respiratórias, em meio ao auge da pandemia do Covid-19 na região”, complementa.

Pesquisa da Fiocruz realizada nas áreas mais afetadas pelo fogo na Amazônia em 2019 mostrou que o número de crianças internadas com problemas respiratórios dobrou. Isso acarretou em um custo excedente de R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS), e esse ano os pesquisadores preveem um cenário ainda pior.

O que fazer

O estudo do ICV, que atua no monitoramento apenas de dados públicos, especialmente quantitativos, não aponta os responsáveis pelo fogo.

Em entrevista ao Leiagora, o secretário adjunto de Meio Ambiente de Mato Grosso, Alex Marenga, admite que, os incêndios são quase 100% criminosos, já que começam por ação humana e acabam se alastrando com rapidez devido a causas naturas – como o período de seca e, no caso do Pantanal, ao acúmulo de materiais combustíveis.

Conforme Vinicius Silgueiro, os dados com relação aos imóveis rurais privados são importantes para ações de responsabilização pelos incêndios, já que a maior parte se concentra nos imóveis rurais inscritos do Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Alex Marenga também explicou que, de fato, a Secretaria do Estado de Meio Ambiente (SEMA) possui CPF do proprietário, endereço, e-mail e telefone que são, em sua maioria, notificados automaticamente.

No entanto, o representante do governo diz que a estrutura empregada no combate, fiscalização e punição aos incêndios criminosos já é a melhor já empregada na história.

Organizações e institutos como ICV, por sua vez, cobram maior transparência de dados e uso de ferramentas. Redução dos recursos do IBAMA que acabam levando a sensação de impunidade.

“Nosso último estudo mostra que 1.075 imóveis foram responsáveis por 70% de todo o desmatamento, em um universo de 180 mil propriedades que o estado deve ser, então é uma porção muito pequena que esta sendo responsável por essa situação. A fiscalização e responsabilização é possível e pode ir mais a fundo”.

Com informações da assessoria ICV
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