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Notícias / Cultura Popular

31/10/2021 às 18:14

Dia do Saci e as assombrações indígenas brasileiras

O saci é uma lenda? O Entretê trouxe algumas perspectivas desse saber ancestral

Priscila Mendes

Dia do Saci e as assombrações indígenas brasileiras

Foto: Ilustração de Mariana Catacci

Trinta e um de outubro é dia de quê? Isso mesmo, Dia do Saci. Pelo menos para alguns defensores das culturas brasileiras. Chegou a ser proposto como data oficial no país, por meio de um projeto de lei de 2003, mas que foi arquivado.

Mesmo não sendo oficial no país todo, há estados (como São Paulo) e diversos municípios brasileiros que celebram a data, a fim de valorizar a cultura nacional, por meio desse representante.

Não, não é coincidência. O dia foi escolhido para contrapor diretamente o Halloween. A proposta é, por meio de eventos culturais e esportivos, apresentar para crianças e adultos as histórias míticas brasileiras.

Desde 2003, ano do projeto de lei na Câmara Federal, foi criada a Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), composta por um grupo de pesquisadores do folclore nacional, que nasceu em São Luís do Paraitinga (SP) e, hoje, conta com associados do Brasil todo. No manifesto oficial, inspirado no Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, a Sosaci brada: “Só o saci nos une. Sacialmente. Etnicamente. Culturalmente”.

Saci é uma lenda brasileira?

Você rapidamente descreverá um menino de pele escura, com apenas uma perna, gorro vermelho, muito travesso, que habita as florestas. E isso é uma lenda? É folclore?

Quem primeiro registrou a cultura oral sobre saci foi Monteiro Lobato, em 1921. O historiador e antropólogo Câmara Cascudo apresentou, no Dicionário do Folclore Brasileiro (1954), o saci-pererê como uma "entidade maléfica em muitas, graciosa e zombeteira noutras oportunidades. Pequeno negrinho, com uma só perna, carapuça vermelha na cabeça que o faz encantado, ágil, astuto. Amigo de fumar cachimbo, de entrançar as crinas dos animais, depois de extenuá-los em correrias, durante a noite, anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, inlocalizável e assombrador".

Por outro lado, a cientista social Marta Tipuici, indígena da etnia Irantxe/Manoki (de Brasnorte - MT), registrou que saci e outros seres encantados não são lendas ou mitos. “Para meu povo, um conhecimento ancestral é história, pois é algo que ainda vivemos, é real”, registrando como a cultura brasileira é rica e ampla.

Yaguarê Yamã, professor, escritor e geógrafo amazônida, indígena maraguá, convidou para a reflexão sobre considerar ‘folclore’ tais seres encantados. “Aprenda a olhar com outros olhos e entenderá porque nós, povos nativos, defendemos que o que é nosso não seja tratado com desrespeito por não indígenas. E que, se é nosso, ninguém se aproprie criando com isso nova roupagem e o qualificando como simplesmente "folclore brasileiro". Entenda, porque não aceitamos como figura folclórica o que para nós é religiosidade. Respeitar é bom, divulgar nossos mitos é melhor ainda, mas não se apropriar deles é ser digno”, publicou em uma rede social.

Para saber mais

O professor Yaguarê Yamã indicou alguns livros de autoria dele para conhecer mais sobre os seres encantados indígenas, na categoria “Literatura Indígena Fantástica (de Assombração)”:

- O povo das histórias de assombração - editora Cintra
-Contos da floresta - editora Peirópolis
- Mapinguary: o dono dos ossos (Contos Indígenas de Assombração) - editora Mercuryo Jovem
- O totem do rio Kãwéra e outros contos fantásticos - editora Imperial Novo Milênio
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