Cuiabá, quinta-feira, 02/05/2024
09:59:05
informe o texto

Notícias / Artes visuais

30/01/2023 às 19:19

No dia do quadrinho nacional, quadrinistas cuiabanos contam como é fazer a arte em MT

Ric Milk e Dani Dias concordam que quadrinho é uma paixão, mas viver de quadrinhos é um trabalho muito difícil

Paulo Henrique Fanaia

No dia do quadrinho nacional, quadrinistas cuiabanos contam como é fazer a arte em MT

Foto: Reprodução Ric Milk

No dia 30 de janeiro de 1869, o cartunista brasileiro Angelo Agostini publicou na revista Vida Fluminense a primeira história em quadrinhos do Brasil, “As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte”. Para lembrar a data, em 1984, a Associação dos Quadrinistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo instituiu o dia 30 de janeiro como o Dia do Quadrinho Nacional, momento em que a arte é celebrado por todos os quadrinistas, ilustradores e cartunistas do país.

Quase todos já tiveram a oportunidade de pegar uma história em quadrinhos nas mãos e poder contemplar uma arte rica em desenhos e narrativas escritas. O Brasil é repleto de quadrinistas incríveis. De Mauricio de Sousa à Laerte Coutinho, os quadrinhos nacionais são feitos para todos os públicos e para todos os gostos.

O Entretê conversou com alguns quadrinistas de Cuiabá para saber como é produzir essa arte em Mato Grosso.

Com uma carreira de 30 anos produzindo e ilustrando histórias em quadrinhos, o cuiabano Ricardo Leite, ou Ric Milk, tem uma carreira consolidada no Brasil e no mundo. Vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor publicação infantil em 2011 com a obra “Pequenos Heróis” e tendo participado até mesmo da coletânea MSP+50, onde 50 artistas brasileiro foram convidados para ilustrar histórias da Turma da Mônica em homenagem aos 50 anos de carreira de Mauricio de Sousa, Ric conta que a paixão pela arte começou ainda criança.

A mãe e os irmãs mais velhos sempre consumiram quadrinhos, em especial as aventuras do cowboy Tex. Desde então, Ric se apaixonou pela arte e aos 13 anos publicou sua primeira tirinha de humor em um jornal de Mato Grosso. Depois disso, passou a estudar para aprimorar o trabalho.

Ric tem um currículo de respeito, tendo publicado as obras Volcanya Blues (Brasil); Graffiti (em Portugal), Inkshot e Fist of Justice (ambas nos Estados Unidos), Dreamworks Tales (Inglaterra) e sendo editor da revista Gorjeta, mas seu trabalho de maior carinho é Turma do Mato, uma obra voltada as crianças que trabalha de forma lúdica história do Brasil, lendas do folclore nacional e conscientização da natureza. Para ele, escrever história infantis é o ponto alto do trabalho, pois as crianças são o melhor público que existe.

Mas nem tudo é fácil para ele. Mesmo com uma carreira consolidada, Ric conta que ser quadrinista no Brasil é complicado.

“Aqui não tem mercado, você tem que procurar fora. A sensação que eu tenho com relação ao quadrinho nacional é que você tem que ser uma estrela internacional para poder se dar bem aqui ou participar de uma Graphic Novel grande para ter sucesso. Os quadrinistas independentes estão lutando até hoje. Tem muita gente que eu conheço, quando eu participava de um grupo independente de quadrinistas, que tá ralando ainda. Me considero independente na parte autoral, mas eu trabalho muito pra fora, muito quadrinho por encomenda. Eu vivo de desenho, não posso reclamar, mas na parte autoral, de lançar seu produto, ter seu livro vendendo, é muito difícil. Nós não valorizamos o que é nosso, o mercado desvaloriza muito quem produz aqui”, lamenta Ric, que afirma que, mesmo com todos os percalços, ama o que faz.

Atualmente Ric está produzindo os últimos livros de Turma do Mato, seu trabalho mais querido e está trabalhando em ilustrações para uma publicação que será feita na República Tcheca.

Quem também conversou com o Entretê foi a quadrinista, ilustradora e artista plástica Dani Dias. A cuiabana teve a primeira história em quadrinhos publicada em 2021. Intitulada “Distúrbio”, a HQ é uma publicação independente, viabilizada pela plataforma de financiamento coletivo “Catarse” e o enredo conta a luta da autora, então adolescente nos 90 e 2000, contra a anorexia.

“O livro é autobiográfico de um problema que tive na adolescência. Ele teve uma recepção muito boa e me fez acreditar que eu consigo fazer quadrinhos porque essa linguagem é muito rica e bem artesanal. A pessoa tem que ser apaixonada por isso”, conta Dani Dias.

Consolidada nas artes plásticas, o quadrinho surgiu na vida de Dani ainda na adolescência quando ela visitava a casa de um primo que lia as histórias de Conan, o Bárbaro. Encantada pelos desenhos e pelas histórias, ela começou a rabiscar algumas coisas, mas foi apenas quando começou a estudar e fazer oficinas que teve a real conexão com a produção das histórias.

Dividida entre o ateliê de artes, as ilustrações que faz para livros adultos e infantis e ser mãe do pequeno Yuri de 1 ano de idade, Dani ama contar histórias da vida real e, embora esteja dando um tempo nos quadrinhos para focar nos primeiros anos do filho, ela já está maquinando na cabeça a produção de novas histórias baseadas na vivência da maternidade e da família, afinal, contar histórias reais é o que cativa a sua alma.

“Tive influências de artista do Brasil que tem uma pegada comum, como os que falam da vida real, não necessariamente os de heróis. Já gostei muito de X-Men, mas amei quando li os quadrinhos do Lourenço Mutarelli que fala muito da via, ele cria quadrinhos para falar sobre coisas do dia a dia e através disso ele superou muito e acho lindo isso, de você superar situações através dos quadrinhos e ajudar outras pessoas. Por isso eu decidi que minha primeira história seria sobre algo que aconteceu comigo e vi que tem pessoas que se identificaram”, conta a ilustradora cheia de sorrisos.

Dividindo as sensações de Ric Milk, Dani conta que viver de quadrinhos no Brasil é uma coisa muito difícil e, consolidar uma carreira, é ainda mais difícil ainda.

“Hoje me dedico ao meu ateliê onde me dedico a várias atividades, eu faço quadros, faço ilustração para livros, pintura em parede como qualquer artista que tem que se virar porque ainda não tenho uma carreira já consolidada, mas quando o cara tem uma carreira forte e consolidada com o público ele pode se dedicar aos quadrinhos, mas isso é algo raro, bem difícil. Hoje no Brasil muitos vivem de apoio e você pode pedir que pessoas te ajudem para você continuar produzindo conteúdo. A maioria trabalha com ilustrações para livros para poder pagar as contas, mas ser quadrinista é isso, é paixão. Você não se importa se vai ter publico grande, porque é algo que você precisa fazer”, diz Dani Dias.

Para conhecer os trabalhos dos quadrinistas, basta entrar nas páginas do Ric Milk e da Dani Dias.
Clique AQUIentre no grupo de WhatsApp do Entretê e receba notícias de Cultura e programações artísticas.

1 comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do site. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

  • César Pizzato Quadros 30/01/2023 às 00:00

    Não podemos esquecer do Prof. MOACYR FREITAS, brilhante quadrinista, escreveu a história de Cuiabá em quadrinhos. FANTÁSTICO. Minhas homenagens ao brilhante Professor.

 
Sitevip Internet