Um pedreiro tenta provar que está vivo, em Campo Verde, depois de descobrir que foi dado como morto após ser assassinado em Sorriso, no norte de Mato Grosso. Paulo Roberto Gonçalves, de 41 anos, descobriu que ‘estava morto’ quando não conseguiu fazer uma compra em uma loja de autopeças, no mês de outubro.
Para tentar resolver a situação, a Defensoria Pública de Mato Grosso protocolou, nesta semana, uma ação para comprovar que Paulo está vivo.
Ele mora em Campo Verde desde 2003 e foi declarado morto, inclusive com certidão de óbito emitida pelo Segundo Serviço Notarial e de Registro Civil de Sorriso, onde supostamente teria falecido no dia 26 de janeiro de 2012, apesar de nunca ter ido ao município na vida.
Paulo descobriu que havia algo de errado com seu Cadastro de Pessoa Física (CPF) quando foi a uma loja de autopeças em outubro, mas não conseguiu efetuar a compra, que seria a prazo.
Chegando em casa, baixou um aplicativo no seu celular para fazer uma consulta e, para sua surpresa, constava que o titular do CPF havia falecido.
“Primeiramente, senti medo. A gente não sabe quem errou. Imagine só, estar andando pela rua, ser parado por uma blitz, o policial pede a documentação, eu poderia até ser preso. Já vi casos parecidos”, revelou.
Natural de Diadema, região metropolitana de São Paulo, ele já morou em Presidente Prudente-SP, Campo Grande e Coxim, no Mato Grosso do Sul, e reside em Campo Verde.
A família dele mora em Campo Grande e ele sempre viaja para Cuiabá realizar serviços, mas nunca esteve em Sorriso.
Paulo foi a uma delegacia para tentar esclarecer o caso e foi informado pela Polícia Civil que o homem enterrado com seu nome foi vítima de um homicídio.
Ele seria um ladrão, que teria tentado assaltar um estabelecimento comercial, entrou em luta corporal com um segurança e, após ter sido golpeado com um capacete, foi asfixiado até a morte.
O vigilante chegou a ser preso, mas depois foi solto, pois o juiz considerou que ele agiu em legítima defesa – o caso nem chegou a ir a júri.
Consta na certidão de óbito, em nome de Paulo Roberto Gonçalves, que ocorreu um reconhecimento de pessoa, expedido pela Polícia Civil de Sorriso.
O caso é visto com estranheza por Paulo. Nenhum familiar dele foi até Sorriso ‘reconhecer o corpo dele’.
Mesmo com tamanha confusão com seu nome, o pedreiro ainda pensa no homem enterrado como se fosse ele em Sorriso. Ele se sente injustiçado e também acha que a pessoa enterrada foi vítima de uma injustiça.
Pode parecer estranho, mas Paulo nunca precisou do seu CPF, já que é autônomo e recebe por serviço, sempre em dinheiro. A esposa dele tem conta em banco e gerencia as finanças da família.
Eles têm dois filhos, um deles inclusive nasceu em 2019, quando o pai supostamente já estaria morto.
Além de não poder fazer compras a prazo, Paulo também não conseguiu ainda se vacinar contra a covid e realizar uma cirurgia de hérnia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em decorrência do problema com seu CPF.
Paulo chegou a entrar em contato com um advogado particular, mas percebeu não teria condições de arcar com os honorários.
Diante disso, procurou o Núcleo de Campo Verde da Defensoria Pública.
(Com assessoria)