Dez meses após a morte de MC Kevin, a mãe dele, Valquiria do Nascimento, vê a carreira como empresária uma maneira de preservar o patrimônio artístico do filho. Logo após a morte de Kevin, o empreendedorismo era uma maneira de sobreviver e manter o padrão de vida construído pelo filho.
“Nos quatro primeiros dias [após a morte], eu ainda estava tentando assimilar o que estava acontecendo, no quinto dia já tomei um choque de realidade porque eu tinha que pagar minha casa e não tinha dinheiro. Foi quando eu vendi o primeiro show e já deu dinheiro para eu pagar a casa”, contou Val ao Metrópoles.
Logo depois, Val vendeu o segundo show e engatou a carreira no meio artístico trabalhando para a Elenko Music. Foi assim também que a família de MC Kevin conseguiu continuar morando no mesmo condomínio de luxo em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo.
Agora, o lar de Val é composto por quatro filhos (o mais velho tem 28 anos e a mais nova tem 15), cinco netos, o marido e genros. Ela leva os netos de manhã para escola e depois começa a agenda de empresária.
“Estou trabalhando, lutando, cuido das coisas dele, porque é herança da filha dele que é pequena. Enquanto eu puder cuidar, vou cuidar para ela ter um futuro”, afirmou mencionando Soraya, filha de seis anos de Kevin.
Antes de morrer, Kevin teve uma conversa com Val para orientá-la sobre projetos futuros. Ela dará continuidade nesses trabalhos e pretende lançar uma música por ano.
“Tenho que fazer dar certo. Kevin não deixou nada de patrimônio de casa, carro, financeiro, porque o que ele ganhava, ele gastava. Ele era um jovem que queria curtir a vida e realmente ele curtiu”, disse.
Portas abertas
No entanto, o jovem que morreu aos 23 anos de idade deixou as portas abertas para a mãe continuar com o trabalho que ele a incentivava.
“Ele deixou meu trabalho, meu artista que hoje é o quinto no Spotify. É um legado que ele deixou. Eu tenho certeza que não vamos voltar atrás. É daqui para frente”, disse Val se referindo ao artista Vulgo FK.
Na sexta-feira (18/3), duas músicas com participação de FK estavam no top 20 Brasil do Spotify: Oi, Como Ce Tá? na 10ª posição e Pandora na 17ª.
“É o que me faz viver. Essa representação vem por mim, porque os meninos se espelham muito em mim e querem muito que eu esteja perto, porque é como se o Kevin estivesse também”, conta Val. “Tenho meus artistas, o Vulgo FK que está em ascensão, tenho o Dena, o Martim e pretendo ter outros artistas”, complementou.
Antes de seu filho se tornar o MC Kevin, Val pedia carona na rua para conseguir chegar ao trabalho de camareira, ela também já foi passadeira, babá, empregada doméstica, diarista e ambulante.
“O funk mudou a minha vida, a da minha família e muda a vida de muitas famílias. Porque o Kevin começou uma vida errada, se não fosse o funk ele não teria mudado. Tudo que sei fazer hoje artisticamente eu agradeço ao meu filho. Ele aprendeu comigo e eu aprendi muito com ele”, disse Valquiria.
Valquiria nasceu em São Paulo, foi criada na favela Parque Novo Mundo, estudou até a antiga oitava série do ensino fundamental, teve o primeiro filho aos 14 anos e já foi despejada nove vezes.
“Tudo que aprendi foi fazendo com a vida. A vida nos ensina o caminho que devemos seguir. Eu venho de uma vida sofrida desde que eu nasci, minha mãe me deu para outra pessoa eu tinha dois meses de idade. Ali começou minha caminhada de vida.”
MC Kevin morreu em 16 de maio do ano passado aos 23 anos após cair do 5º andar de um hotel da Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio. O inquérito sobre a morte do cantor foi arquivado por “ausência de provas de crime”, mas no último dia 17 a mãe de Kevin solicitou reabertura das investigações.
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