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30/03/2023 às 15:58

Vídeo | A superação do choque de gerações na sucessão familiar no agronegócio em MT

A união entre o olhar tecnológico da nova geração e a experiência dos mais velhos pode, sim, gerar bons frutos

Jardel P. Arruda

Vídeo | A superação do choque de gerações na sucessão familiar no agronegócio em MT

Foto: Jardel P. Arruda/Leiagora

Com um iPad na mão, o engenheiro agrônomo Guiverson Bueno, de 24 anos de idade, contempla um talhão de milho recém-plantado na Fazenda Alvorada Bueno e, no tablet, confere se tudo está como o planejado. É importante manter todas as coisas que estão sob controle humano dentro da menor margem de erro possível, pois o clima tem humor próprio. 

No aparelho, estão informações que podem ser definidas como um raio-x da propriedade: mapeamento, desenho da bordadura da lavoura, quantas sementes foram plantadas por metro quadrado, quanto de cada produto deveria ser utilizado no solo, resultados de testes de fungicidas, testes de variedades e várias outras informações.

O uso dessa tecnologia era inimaginável em 1986, quando o avô dele chegou a Lucas do Rio Verde, junto com o pai, e adquiriram as terras onde estão até hoje. E continuaria sendo assim, ainda hoje, não fosse por Guiverson mostrar ao pai, Guinorvan Bueno, de 52 anos, como o tablet poderia facilitar o serviço e melhorar a produtividade, ao ser combinado com a experiência de quem aprendeu na prática.

A história do “ponto de virada” no uso da tecnologia ali é digna de filme: Com o iPad, o software certo e análise de dados, Guiverson entendeu que era melhor subir de 60 mil plantas para 66 mil plantas de milho por hectare. O pai não queria mudar, então o filho fez escondido: em um talhão da fazenda usou a população de 60 sementes, no outro 66. O resultado foi um aumento de 10 sacas de milho por hectare, investindo 10% a mais de sementes. 

“Hoje, o pai também não trabalha sem o iPad. Ele sabe o quanto é importante ter dados à mão e como avaliar esses dados. [...] Meu pai veio com 15 anos de idade, nunca estudou Agronomia. Eu tenho a parte técnica, mas ele tem muito conhecimento de campo. Ele sempre dá a palavra final, mas eu aumentei a produtividade”, conta Guiverson, orgulhoso.

 
Mais difícil do que parece

A implementação de novas tecnologias a partir de filhos nas propriedades familiares do agronegócio são parte de um processo maior, que tem nome e sobrenome no mundo do agronegócio: sucessão familiar. Contudo, se isso parece natural na teoria, na prática, é um processo complicado e pouco comum.

De acordo com estudo publicado na Revista Científica da Faculdade de Ciências Contábeis e Administrativas de Cachoeiro de Itapemirim (Faccaci), dos cerca de 90% dos negócios agrícolas brasileiros classificados como familiares, 30% chegam à segunda geração e 10%, à terceira. Os motivos são variados, mas algo comum é o choque de gerações.

“Tem alguns colegas de escola, que também eram filhos de produtores, mas não ficaram na área. É um problema de geração. Ele chega, quer mudar a ideia da família, do negócio, o jeito que trabalha e isso é um grande problema. Não tem como fazer uma sucessão direta, de um ano pro outro. Ele tem 19 anos, 20 e poucos e tem aquela rebeldia. Não tem aquela paciência de ir aprendendo”, disse Guiverson.

Tudo em família

Uma das coisas que a sucessão familiar possibilita, por mais óbvio que pareça, é manter o negócio dentro da família. Os 496 hectares da Alvorada Bueno são todos cuidados somente por membros da família Bueno, desde a plantação ao serviço de escritório.

Enquanto Guiverson conta um pouco da história de como passou a ganhar espaço na administração da fazenda da família nessa transição de uma geração para outra, o irmão mais novo, Júnior Bueno, de 21 anos, pilota uma máquina para aplicar defensivos agrícolas no milho. 

Família Bueno. Da esquerda para direita, Natania Lunkes, Guiverson, Guinorvan, Sandra e Junior (Crédito: Acervo pessoal)

Um irmão foca na análise de dados e em fazer o planejamento, o outro é o “fera das máquinas”. Cabe a ele pilotar, consertar e dar toda consultoria necessária em relação a esses equipamentos utilizados na fazenda.

Já a parte de escritório, emissão de notas, contas a pagar, recebimentos e pedidos ficam a cargo da esposa de Guiverson, Natania Lunkes, de 25 anos. A função de coringa, aquela que ajuda onde mais precisa, dando suporte de emergência, fica a cargo da matriarca da família, Sandra Rither Ferreira Bueno, de 46 anos. E ao patriarca, Guinorvan Bueno, cabe a administração geral e palavra final em todos os assuntos.

“Não temos funcionários. Quando aperta, contratamos uma pessoa para ajudar na colheita, quase sempre um estudante de agronomia que quer aprender um pouco mais na prática. Mas é tudo em família”.

Retorno às raízes 

O boom de crescimento de Lucas do Rio Verde que, em 35 anos de existência, passa dos 80 mil habitantes, segundo a prévia do censo do IBGE de 2022, afastou a comunidade que antes era próxima por ser oriunda de um assentamento rural da reforma agrária e tomou proporções de polo do agronegócio, segundo explicou o presidente do Sindicato Rural do município, Marcelo Lupatini.

Marcelo, por si só, já é um representante da nova safra de produtores e da sucessão familiar nas propriedades rurais (Crédito: Sindicato Rural de LRV)

Como consequência, propriedades rurais tradicionalmente tocadas por famílias passaram a ter problemas para manter o negócio no seio familiar. Algumas vezes, porque filhos foram estudar fora e não retornaram, mas muitas outras devido ao choque de gerações em função da falta de preparo para o momento do pai passar o bastão aos filhos.

Por isso, a sucessão familiar veio ao centro das atenções do Sindicato Rural de Lucas do Rio Verde, que criou um grupo de estudos sobre o tema, a Academia de Liderança. O trabalho, que começou em 2022, inicialmente teve 20 alunos, mas agora o grupo já conta com mais de 60 pessoas.

“Focamos na parte de reinventar o sindicato rural, porque o produtor vinha cada vez menos e isso incomodava o sindicato rural. O jovem não estava vindo para o sindicato, o filho estudou fora, vimos propriedades menores sendo vendidas devido à falta da sucessão e isso nos preocupava”, explicou Marcelo. 

Com essa aproximação das filhos junto ao sindicato rural, a primeira geração de produtores também se reaproximaram da instituição. Agora, no entanto, presenciando uma renovação que começa com o próprio Marcelo, que aos 37 anos é o mais jovem presidente de sindicato rural de Mato Grosso, e já tem expectativa para o próprio filho, quando tiver idade, também participar do curso.
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