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Notícias / Agro e Economia

30/03/2023 às 14:35

O plano do 'profeta do milho' para estocar CO2 do subsolo e negativar a emissão do gás

O projeto visa contribuir significativamente com a redução da emissão dos gases de efeito estufa, que influenciam na mudança climática e prejudicam os produtores

Jardel P. Arruda

Comprimir todo o dióxido de carbono produzido no processo de fermentação da levedura do milho durante a produção de etanol em tamanha pressão que o produto químico não estará nem na forma gasosa, nem na líquida, nem mesmo na sólida, mas, sim, no estado de fluído supercrítico, para que possa ser enterrado a dois quilômetros no subsolo, debaixo de uma camada de rochas.

Em resumo, esse é plano da FS Bioenergia, empresa especializada na produção de etanol de milho e DDG (grão seco destilado para nutrição animal). A iniciativa visa a não apenas zerar a pegada de carbono na fumaça esbranquiçada que sai das chaminés da unidade localizada em Lucas do Rio Verde, mas torná-la negativa. 

Pegada de carbono, apesar de ser um termo estranho, é sobre compensar a emissão do gás para determinados serviços, seja na entrega de um delivery, seja para uma viagem de avião. O termo se refere ao cálculo da emissão total de gases de efeito estufa (GEEs), incluindo o dióxido de carbono (CO2). 

Um plano audacioso, pode-se dizer, até porque, é preciso destacar que ao se falar em preservação ambiental, os gases de efeito estufa são os grandes vilões para o tão falado aquecimento gobal, responsável pelo aumento da temperatura do planeta, além das mudanças climáticas que, inclusive, impactam diretamente o produtor que sofre tanto com chuvas em excesso, quanto com a seca prolongada.

Atualmente, todos os esforços de governos, instituições internacionais e organizações, como a ONU, são justamente para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

E daí vem toda a importância desse projeto, batizado de BECCS (Captura e Armazenamento de Carbono de Bioenergia). Além de inédito no hemisfério Sul, é um dos cinco do tipo em todo mundo e poderá trazer ganhos de duas formas: primeiro, em conceito, transformando a cadeia de produção ligada a essa unidade da FS em uma grife global de sustentabilidade; segundo, com mercantilização dos créditos de carbono.

“São duas perspectivas. Um mundo sem sustentabilidade não terá futuro. Então, dentro do nosso propósito, precisamos fazer com que as tecnologias avancem e nós consigamos sustentar melhor o planeta. Outro lado é que, em algum momento, vai existir uma monetização em relação a isso. [...] Existe um mercado voluntário de carbono em que as novas gerações acreditam. É uma aposta no futuro”,  explica Fabrício Vieira, diretor comercial da FS.

Tecnologia, custo e sustentabilidade

Ao todo, o projeto custa em torno de R$ 350 milhões. Por enquanto, a empresa realizou estudos de sismologia. Atualmente, está na fase de contratação do poço exploratório, o qual será utilizado para testar se os primeiros resultados conferem e as rochas serão capazes de armazenar o dióxido de carbono.

“O processo de perfuração é muito parecido com o utilizado na indústria do petróleo. [...] Por trás disso, tem todo um estudo geológico para garantir que as rochas vão ter a capacidade de retenção. Vai ser algo parecido com a champanhe. Quando você abre a champanhe, você vê as bolhas saindo. Nós vamos deixar essas bolhas confinadas”, explicou Everson Medeiros, diretor industrial da FS Bioenergia.


Além de produtora de Etanol e DDG, FS funciona como centro de desenvolvimento de novas tecnologias (Crédito: Jardel P. Arruda)
 

Se o resultado dos testes do poço exploratório também for positivo, a próxima etapa será a perfuração do poço para iniciar a compressão. A perspectiva é começar a atividade já em 2024 e a previsão é que o BECCS seja capaz de estocar 423 mil toneladas de CO2, que iria direto para a camada de ozônio.

Profecia verde

Apostas no futuro fazem parte da gênese da FS Bioenergia. Marino Fraz, fundador da empresa, precisou buscar sócios nos Estados Unidos para viabilizar uma indústria de etanol que usa apenas o milho como matéria prima. Ele foi um dos pioneiros na defesa do milho como um dos alicerces econômicos do agronegócio, quando o grão era tido como sem valor comercial, e agora aposta na sustentabilidade.



Etanol de milho impactou na valorização do grão (Crédito: Jardel P. Arruda)

“Eu falei que iríamos produzir 15 milhões de toneladas de milho em 2015 e eles acharam que eu estava louco. Esse ano, Mato Grosso, sem derrubar nenhuma árvore, vai produzir 40 milhões de toneladas de milho. [...] Vou deixar mais uma dica para vocês: Daqui a 3 ou 4 anos, plástico de fonte fóssil vai ser proibido e plástico biodegradável virá todo do etanol de milho de Mato Grosso”, profetizou Marino.

E essa política é incorporada à política da empresa como parte do ideal da FS. Para adquirir milho, a empresa checa se as propriedades de origem são livres de problemas ambientais e até trabalhistas. “Fazemos a prospecção de onde vem o milho, nenhuma ocorrência ambiental ou de trabalho análogo”, resume Fabrício.
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