A Delegacia de Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) indiciou nesta segunda-feira (13) por racismo as influenciadoras Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves, que deram uma banana e um macaco de pelúcia para duas crianças negras.
O indiciamento é referente a criança que recebeu o bicho de pelúcia. Atualmente, mãe e filha são investigadas em outros três inquéritos na Decradi.
O caso veio à tona em maio deste ano após a advogada Fayda Belo, especialista em direito antidiscriminatório, denunciar o fato. A advogada destacou que o vídeo apresenta o chamado “racismo recreativo”, que ocorre quando alguém usa de “discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão”.
Rita Salim, delegada da Decredi e responsável pelo inquérito, afirma que a conduta da dupla foi considerada racismo. Já que elas escolheram crianças negras e usaram dos artifícios de banana e macaco para presenteá-las.
""A conduta delas é considerado como racismo, por conta da cor da pele, da raça [das crianças]. Mas, dentro do contexto, elas realizaram uma conduta que chamamos de racismo recreativo. Não é admitido você discriminar, constranger e usar de meios vexatórios para expor uma pessoa por meio de diversão. Isso é crime. Além disso, expor ao racismo é um agravante", disse Salim, que completou:
"Esse indiciamento é da criança que recebeu como presente um macaco de pelúcia. Existem outros procedimentos que estão em fase de investigação.
De acordo com a delegada, mãe e filha negaram que cometeram algum tipo de crime.
"Elas alegam que selecionam crianças para fazer uma brincadeira e que esses menores podem escolher dinheiro ou presente e a criança ao abrir encontrou um bicho de pelúcia, um macaco. Elas disseram que era por brincadeira e não houve a intenção de ofender. Mas, o fato é que existe uma brincadeira reiterada e elas sempre publicaram, nesse contexto [imagens] de crianças negras, pretas, bananas, macacos de pelúcia. O que se vê é que elas fazem isso só com crianças negras".
Os vídeos que circularam nas redes sociais são de Kerollen, que tem um canal no qual publica vídeos junto com a filha, Nancy. As duas vivem no Rio de Janeiro. A dupla tem mais de 1 milhão de seguidores no Instagram, 13 milhões de inscritos no Tiktok e postam vídeos de assistencialismo, testes de maquiagem e pegadinhas.
Em um dos registros, Kérollen conversa com um menino negro em uma calçada e questiona se ele gostaria de ganhar um presente ou R$ 10. Ele opta pelo pacote, mas, ao perceber que se tratava de uma banana, responde “só isso?”, afirma que não gostou e sai andando. Nancy ainda diz: “Você gosta”.
Em outra gravação, Nancy para uma menina na rua e faz uma proposta similar, oferecendo a opção de a criança escolher entre R$ 5, ou uma caixa. A criança opta pelo “presente”, abre a caixa, vê que se trata de um macaco de pelúcia, aparenta ter ficado feliz, abraça o brinquedo e agradece à influencer.
O vídeo onde as duas crianças aparecem foram apagados.
O g1 tenta contato com a defesa das influenciadoras.
Influenciadoras sem redes sociais
Em junho, a juíza Juliana Cardoso Monteiro de Barros, da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso da Comarca de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, determinou o bloqueio das redes sociais das influenciadoras Kérollen e Nancy.
O bloqueio foi para atender o pedido do deputado estadual Vitor Junior (PDT), que é membro da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Na decisão, a juíza ainda pediu investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) para apurar possíveis infrações ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em razão de "vídeos expondo crianças, adolescentes e idosos a situações vexatórias e degradantes".
O pedido de bloqueio nas contas de Kérollen e Nancy é valido por seis meses. A determinação também impede que as influenciadoras criem novos perfis nas plataformas digitais. Caso a ordem seja descumprida, elas poderão ser multadas em R$ 5 mil por dia.
A decisão pelo bloqueio dos perfis nas plataformas YouTube, Instagram e TikTok da dupla indica ainda que os vídeos com conteúdo discriminatórios e vexatórios possam ter sido "monetizados", gerando lucros para as influenciadoras. Além do bloqueio dos perfis das duas, a liminar pede a remoção dos vídeos suspeitos.