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12/04/2020 às 16:00

Psicólogo fala sobre a saúde mental na quarentena e os efeitos das fakes news: 'sensação de descontrole'

Para ele, bombardeio de notícias fabricadas numa velocidade incontrolável e com apelos de inverdades acaba causando ainda mais insegurança na sociedade

Alline Marques

Psicólogo fala sobre a saúde mental na quarentena e os efeitos das fakes news: 'sensação de descontrole'

Foto: Imagem Ilustrativa

Durante este período de quarentena, em que boa parte da sociedade foi colocada em isolamento, mesmo que trabalhando em casa, o contato com a vida social ficou limitada. As reuniões são onlines, os encontros virtuais e até os shows agora são assistidos de casa sem a presença dos amigos. Isto acaba por gerar angústia, solidão, impaciência, insegurança, ansiedade e muitos outros sentimentos. 

Pensando nisso, o Leiagora foi ouvir um profissional para falar sobre este momento atípico que vivemos e saber o quanto as notícias, e principalmente, as fake news, impactam a saúde mental das pessoas.

Alaelçon Gomes, que é psicólogo e neuropsicólogo no Espaço Terapêutica TranquilaMENTE, comentou a situação que muito embora nos sejam próximos por uma questão fictícia (das telas de cinemas e das páginas de livros), nos era até então distantes, por realidade. “Não me lembro (pelo menos não na minha geração) de nos colocar em situação como as que se nos mostram”.

Alaelçon faz uma observação ainda bem pertinente: “a quarentena e o isolamento são dois termos que se apresentam com aspectos distintos entre si, mas que podem provocar os mesmos sentimentos negativos”. E é claro que os impactos de tanta mudança na vida, no dia a dia, são os mais variados possíveis.

O profissional explica que nos adultos a tendência é que eles tenham uma forte sensação de insegurança, provocada principalmente pela incerteza do futuro econômico do país e o bombardeio de informações negativas.

“Notícias de empresas enfraquecidas por não suportar ficar muito tempo com portas fechadas, a preocupação com o desemprego e a incapacidade de honrar compromissos antes assumidos, somado ao fato de muitos adultos, bem como os idosos, fazerem parte do grupo de risco e se verem no meio de um verdadeiro bombardeio de informações sobre mortes, acaba se configurando a um ato terrorista”.

De acordo com Alaelçon, as notícias são fabricadas numa velocidade quase que incontrolável e, muitas delas, com forte apelos de inverdades tão bem disfarçados que nos fazem duvidar sobre em quem acreditar.

Não saber exatamente distinguir entre o verdadeiro e o falso nos dá uma sensação de descontrole, uma vez que, no fundo, acabamos por desconhecer ou não identificar o que é fato. E esse descontrole nos desespera, gerando um quadro de ansiedade, que pode ainda, nos remeter a um quadro de depressão, nos tornando impotentes diante da situação”.

É bom destacar que nem todos são impactados por estes sentido, pois muitos têm um poder de resiliência maior e conseguem lidar com a questão com menos dificuldades do que outros. Por outro lado, muitos, levados por seus históricos de crenças limitantes, podem se ver em situações que os fragilizam ainda mais.

Muito se fala sobre a teimosia dos idosos, mas Alaelçon ressalta que é muito importante salientar que mudar abruptamente uma rotina não é algo simples e tão bem aceito. Ainda mais quando pode haver uma tendência de cristalização de pensamentos. “As informações controversas também podem contribuir para a adesão ou não adesão de isolamento ou quarentena, pois para alguns o cenário é seríssimo. Já para outros, apenas um resfriadinho”.

O profissional pontua ainda que a divergência de opinião entre as autoridades e a falta de consenso entre os governos municipais, estadual e federal, não ajuda em nada.

“De um  modo geral, todos nós estamos sem informações precisas sobre o que fazer, concorda? Município por um lado, Estado por outro, Federação por outro ainda mais diferente....libera, não libera...é gravíssimo....é é gripezinha....Não é fácil para ninguém!”. 

Então, o que fazer? 

“Uma dica que costumo dar aos meus clientes/pacientes é a de que eles precisam entender que o que está acontecendo no mundo é algo que eles não podem controlar. Mas isso não implica em dizer que eles não podem controlar nada. Eles podem e devem controlar seus comportamentos em relação ao que lhes acontece. E pode ser que eles não controlem o início do pensamento, mas a sua continuidade eles podem e devem controlar”.

Quais as estratégias então? 

Para aqueles que tendem a ficar petrificado pelo medo ao assistir programas jornalísticos, torna-se necessário o desligamento destas notícias. Isto vale para as redes sociais também. “Se fazem parte de grupos ou redes sociais onde somente circulam esses tipos de notícias, saiam desses grupos”. 

Quais as opções?

Optem por ler um livro ou assistir a um filme leve, que promova esperança. Revisitem antigas habilidades ou descubram novas, como pinturas ou tricôs....”Enfim, usem de atividades que permitam você se desfocar do problema”. 

Uma dica valiosa:É muito importante que cada indivíduo tenha percepção sobre seus limites e pratique o limite e o respeito pela liberdade do outro (no tocante à divergências de opiniões). Essa é uma questão puramente relacional”. 

O problema, de acordo com Alaelçon, é que, numa linha genérica, os conflitos relacionais não estão se dando, necessariamente, pelo que está acontecendo agora. É algo que foi construído ao longo do tempo e exigir que que se crie um comportamento de uma hora pra outra, não é simples. Leva tempo e demanda um grande esforço. 

Como lidar com a ansiedade gerada pela incerteza? 

Para controle do quadro da ansiedade, isso sempre vai variar de indivíduo para indivíduo.

Mas note uma coisa: quadro de ansiedade não implica em síndrome de ansiedades (patologia), como TAG - Transtorno de Ansiedade Generalizada ou Síndrome do Pânico. Nesses casos, o indicado é mesmo uma avaliação psiquiátrica. Muitos profissionais estão atendendo, em caráter excepcional, por meio de tecnologia de videoconferência e isso pode ser de muita valia para algumas pessoas que estejam passando por sofrimento emocional nesse momento.

É muito perigoso traçarmos uma receita generalizada, até porque cada indivíduo responde de uma forma, ao seu modo. “Importante mesmo é: ao sentir esses desconfortos, procure ajuda profissional, porque os sintomas podem ser desde a exibição de um quadro até a evolução para um transtorno”.
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