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Notícias / Teatro

06/11/2021 às 11:13

Conheça Regina, a ex-presa que interpreta as próprias dores no espetáculo Bereu

A peça teatral encerra temporada neste sábado e domingo, na sala Anderson Flores, no Cine Teatro, sempre às 19h30

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Conheça Regina, a ex-presa que interpreta as próprias dores no espetáculo Bereu

Foto: Divulgação

Abandono, desrespeito, falta de dignidade, invisibilidade são alguns dos sentimentos relatados por mulheres enquanto cumprem pena no cárcere. Esse é o pano de fundo da peça teatral “Bereu”, da Cia Cena Onze de Teatro, que chega ao último fim de semana neste sábado (6) e domingo (7).

A proposta do espetáculo, em cartaz na sala Anderson Flores (piso superior), no Cine Teatro Cuiabá, é
debater a ausência de políticas públicas e a falta de investimento na educação como fatores que contribuem para o aumento da inserção de mulheres no mundo do crime.

O espetáculo com proposta intimista começa às 19h30, a sala Anderson Flores acolhe um público reduzido e osingressos custam R$ 20 (inteiro) e R$ 10 (meio).

Os diálogos da peça são baseados em fatos e transbordam dores e aflições das reclusas. Uma das dez atrizes que participam do espetáculo sabe muito bem como é essa realidade. Regina Queiroz, 21 anos, foi presa em dezembro de 2017, cumpre pena de 5 anos e 10 meses por tráfico de drogas.

Em 2019, por bom comportamento, progrediu para o regime aberto e atualmente é monitorada por tornozeleira eletrônica, possibilitando a ela estudar e trabalhar, o que nem sempre é fácil, já que o preconceito social se torna uma barreira para oportunidades.

Para se sustentar, buscou ajuda com o grupo de teatro Cena Onze, que conhecia desde a adolescência, das oficinas que participou quando estava em Casas Lares. “Tive muitos conflitos com o meu pai, que era usuário de drogas e violento com minha mãe. Meu sonho era conseguir dinheiro para me mudar com ela. Aos 12 anos, saí de casa para nunca mais voltar. Para sobreviver trabalhei de garçonete, vendia mousse nas ruas, mas o dinheiro não dava e para pagar aluguel da quitinete e comer e comecei a vender drogas”, lembra emocionada.

Em uma das cenas mais fortes da peça, Regina, que interpreta a reeducanda Melissa, faz um longo desabafo sobre o abandono social e a falta de empatia com mulheres presas. “Tudo que falo na peça eu já vivi. A gente perde tudo, até a família fica mais restrita e tudo o que a gente pensa é o que será quando sair”.

Regina lembra que, ao colocar o monitoramento eletrônico, recorreu ao Cena Onze, pois no presídio voltou a ter contato com eles. Apesar da vergonha de já ter tido oportunidade no grupo, conseguiu uma vaga para serviços gerais no Cine Teatro Cuiabá.

A peça Bereu já estava sendo montada, mas não havia previsão da participação de Regina. "Como eu tinha muito interesse em participar, comecei a ver os ensaios, conversar com os diretores e acabei conseguindo o papel. Hoje sou recepcionista e atriz do Cena Onze", comemora.

A arte salvou Regina por diversas vezes e hoje é o ofício dela. Após sair da prisão, ela conseguiu terminar o Ensino Médio e irá prestar vestibular para o curso de Produção Cultural ofertado pela Universidade de Estado de Mato Grosso (Unemat), por meio da
MT Escola de Teatro. “Se Deus quiser, vai dar tudo certo. Achei o meu propósito”, acredita.

De acordo com o diretor da peça, Flávio Ferreira, Bereu é uma gíria usada nas prisões que significa bilhete, recado ou carta, por meio do qual as pessoas privadas de liberdade se comunicam dentro do presídio ou com o mundo exterior.

"Bereu não foi uma peça planejada, ela nasceu após mais de 10 anos de convivência com mulheres no presídio feminino Ana Maria do Couto May, onde o grupo realiza oficinas de teatro, dança e figurino até hoje", explica.

Flávio Ferreira, que também é advogado, preside a Comissão de Direitos Humanos da OAB/MT e é secretário geral da Ordem, entidade parceria do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (GMF) do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT).

“Em uma das nossas visitas ao presídio, ficamos estarrecidos com as reclamações das reeducandas sobre o tratamento dispensados a elas, comentários machistas. O fato de elas terem furtado, roubado, traficado não tira a dignidade. Elas estão pagando pelos crimes”, criticou.

O diretor informa que, há oito anos, o grupo e a OAB/MT empregam mão de obra de egressos, por meio da Fundação Nova Chance, instituição do governo do Estado que visa a reinserção social de pessoas em privação de liberdade e os egressos do Sistema Penitenciário.

Com assessoria do TJMT
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