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20/10/2023 às 15:44

PERSONALIDADES DE MT

Dia do Poeta: conheça os mato-grossenses que marcaram gerações através da poesia

A data é celebrada nesta sexta-feira e tem o intuito de reconhecer o escritor e promover a escrita

Gabriella Arantes

Dia do Poeta: conheça os mato-grossenses que marcaram gerações através da poesia

Foto: Divulgação

“A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei”, diz o trecho de uma das obras de um dos maiores poetas mato-grossenses, Manoel de Barros. O texto evidencia sobre como a poesia é onipresente em nossas vidas, no trabalho, relacionamentos, conversas e na forma como vemos o mundo.

O Dia do Poeta é celebrado nesta sexta-feira (20), a data tem o intuito de reconhecer o escritor e promover a escrita. Por isso, o Entretê entrevistou a pesquisadora e escritora da Academia Mato-grossense de Letras (AML), Cristina Campos. Durante o bate-papo, tratamos sobre a obra e a história de poetas que já morreram, mas fizeram história com suas obras em Mato Grosso.

Conforme a especialista, o que diferencia esses escritores dos atuais é por terem tido vivências regionais, raízes e um bom aprendizado nas escolas.

“Eles tiveram uma boa formação no colégio, foram muito bem alfabetizados. Naquele tempo que estudava latim, grego, gramática, realmente aprendiam. E conviveram com o falar cuiabano, com o povo e com a tradição oral. Então eles conseguem misturar uma sintaxe e um vocabulário erudito da criatividade que existe no linguajar cuiabano. Isso dá uma escrita, é muito interessante, é singular. Nesse caso, tanto o Manoel de Barros, quanto o Silva Freire eu diria que eles se enquadram nessa categoria”, explicou.

Silva Freire foi advogado, jornalista cultural, poeta de vanguarda e professor titular do Departamento de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Freire nasceu no dia 20 de Setembro de 1928, em Porto de Fora, vila próxima à Mimoso, distrito de Santo Antônio do Leverger (a 33,5 km de Cuiabá). Para Cristina, ele foi o maior poeta etnógrafo de Mato Grosso.

“Ele realmente observava as pessoas, ia em um bar por exemplo, falava quem era o cozinheiro, o garçom e o dono do local. E quando ele faz a poesia, fala de tudo isso. Não só a poesia, mas os cronicontos dele também fazem um registro de Cuiabá naquela época. Isso é um registro importante porque é etnográfico e poético”, contou.

Nascido em Cuiabá no dia 19 de dezembro de 1916, Manoel de Barros foi um dos principais poetas contemporâneos e autor de versos que mostram a vida do pantaneiro.

“O Manoel de Barros tem uma temática fixada na infância. Ele mesmo fala que ele não consegue sair dos 7 anos, então geralmente é sobre a criança ou a criança falando. E nesse período da vida dele ele viveu no Pantanal, no início do século XX, lá era um lugar selvagem. Então ele é um menino que ficou uma parte da vida na primeira infância na selva. Essa experiência tem uma marca sobre a vida e obra dele. Porque ele sempre vai falar desse Pantanal, da infância e de um lugar paradisíaco. É o menino e as coisas do chão. Ele não olha para cima, não olha para o céu, o principal foco dele são as coisas do chão, são as brincadeira inventadas. É um lugar onde não tem produtos industrializados, então as crianças inventam seus próprios brinquedos, tem toda uma singularidade de visão de mundo que ele passa em uma linguagem poética maravilhosa”, disse a escritora.

Amigos de longa data, Cristina fala com muito orgulho do poeta Wlademir Dias-Pino. Nascido no Rio de Janeiro em 24 de abril de 1927, o escritor se mudou para a Capital mato-grossense anos depois. Junto com outros companheiros, Dias-Pino fundou em Cuiabá o movimento Intensivista, que busca intensificar a experiência da imagem com a leitura.

“O Wlademir é um cara sensacional e genial. Eu o conheci e convivi com ele há bastante tempo, ele era meu amigo e é um gênio. Ele tinha um foco muito forte sobre o olhar e a imagem. O sonho dele era que a palavra se desintegrasse na imagem. Então ele começa na carreira dele como poeta utilizando a palavra, depois ele utiliza palavras e imagens e ao final da vida estava produzindo poemas visuais e projetáveis, criados em computador e celulares. Ele chamou de contra poemas e info poemas, então ele sempre esteve na vanguarda da produção literária nacional”, relatou.

Dois grandes poetas também foram citados pela pesquisadora: Ulisses Cuiabano e Franklin Cassiano. Inclusive, ela publicou dois livros que ambos escreveram mas não conseguiram publicar.

“Do Franklin Cassiano é Crisálidas e Ulisses Cuiabano é do Grupiaras, foi durante a pandemia, em 2022. [...] Eles ocuparam a mesma cadeira que eu ocupo na Academia Mato-grossense de Letras. Eu fiz uma pesquisa e acabei publicando o livro de poesias que eles escreveram e não conseguiram publicar. Então ficaram com as famílias durante 70 anos um e 80 anos outro. E aí eu consegui ser aprovada no projeto da Secel, o MT Nascentes e, publiquei as duas obras com um projeto gráfico único”.

Nascido em 4 de agosto de 1891, Cuiabano foi o primeiro poeta mato-grossense a escrever o Haikai, dedicou-se também ao estudo do folclore, deixando vários ensaios.

Cassiano nasceu em Corumbá, interior do estado, no dia 1º de maio de 1891. Professor, jornalista e poeta, Franklin escreveu vários livros e peças teatrais. Ao lado de Zulmira Canavarros, fez as letras de muitas músicas, como a do Mixto Esporte Clube.

Ao final da entrevista, Cristina falou da importância da poesia. “Ela não compra sapato, como diz aquele poeta Emmanuel Marinho, mas como viver sem poesia? Da minha vida ela faz parte, é constitutiva. Na minha existência é cotidiana, então é extremamente importante”, finalizou.
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1 comentário

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  • Jorge da Biblioteca 21/10/2023 às 00:00

    Um povo que não conhece seu passado não pode reverenciar o seu futuro. Parabéns aos envolvidos.

 
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