22/08/2022 às 18:55 | Atualizada: 23/08/2022 às 16:08
Dia do Folclore: Minhocão do Pari, Noiva de Branco e outras figuras de Mato Grosso
Priscila Mendes e Denise Soares
Quando você pensa em folclore mato-grossense, possivelmente, vêm à sua cabeça nomes como o saci, o Minhocão do Pari, a Noiva de Branco e outras incontáveis manifestações populares, já que as expressões culturais regionais são muito ricas.
E justamente por tamanha riqueza que 22 de agosto é o Dia Nacional do Folclore, instituído em 1965 pelo decreto presidencial nº 56.747. A normativa prevê incentivar a divulgação da cultura popular brasileira. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), inclusive, entende o folclore como patrimônio cultural imaterial.
Folclore são manifestações culturais populares que moldam a identidade social de um povo, se firmam enquanto tradição (passadas de geração para geração, especialmente pela oralidade), cuja origem se perde - mistura-se tudo, mas é vivenciada no presente.
Geralmente, associa-se ao folclore alguns mitos e lendas, mas vale lembrar que, na origem da palavra (folk: povo; lore: conhecimento, em inglês), pretende contemplar toda a sabedoria de um povo.
Estão entre esses saberes também canções, danças, artesanatos, festas populares e brincadeiras. Portanto, em Mato Grosso, pode-se incluir como exemplos a Festa de São Benedito, em Cuiabá; a Dança dos Mascarados, de Poconé; o siriri e o cururu; algumas canções infantis de roda; a Dança do Congo, de Vila Bela da Santíssima Trindade; as peças de cerâmica das ribeirinhas de São Gonçalo Beira Rio; incontáveis jogos e músicas de ninar e, claro, toda a complexidade do dialeto da Baixada Cuiabana; e muito mais.
Mas o Entretê vai se ater justamente a algumas figuras mitológicas que inspiraram produções artísticas em Mato Grosso.
O Minhocão do Pari é um ser que está sempre presente no imaginário mato-grossense, vagando pelos rios pantaneiros. É um grande monstro em forma de serpente, virando canoas, devorando pescadores, desmoronando as margens. Sim, lembra muito o monstro do lago Ness. Como tudo que é folclórico, não se sabe a origem, mas compõe a cultura de um povo.
Segundo contou o professor e historiador João Carlos Vicente Ferreira ao Entretê, “guardadas as devidas proporções, o Minhocão do Pari está para Cuiabá assim como o monstro do lago Ness está para as Terras Altas da Escócia, no Reino Unido. [...] O que mais se aproxima da nossa realidade é a possibilidade desse ‘minhocão’ ser uma sucuri de tamanho descomunal”.
O conhecimento sobre a criatura é o compartilhado por todos. Mas a proposta era dar uma origem para a lenda mato-grossense. A história começa com a família do padre Ernesto e, no enredo, são juntados outros personagens folclóricos de Cuiabá. A mãe do Minhocão do Pari é Maria Pari, cujo personagem se baseou na cuiabana Maria Taquara.
Salles Fernandes, em entrevista ao Entretê, se diz apaixonado pelo personagem e considera que tal “criatura do folclore mato-grossense precisa ser destacada, conhecida nesse Brasil afora”, por ser “uma lenda incrível, riquíssima”.
O cineasta adiantou que preparou um roteiro sobre a lenda da cabeça do pacu, aquela em que, para nunca mais sair de Cuiabá, basta comer a cabeça do peixe. O roteiro irá concorrer a editais culturais. “Estou apaixonado pelas lendas de Mato Grosso, Estado que me acolheu muito bem”, enaltece.
A ‘minhoca gigante’ também é a personagem central do livro infantojuvenil “Ikuiapá na boca do Pari”, de Anna Maria Ribeiro Costa e Rosemar Eurico Coenga, com ilustrações de João Batista Conrado. A obra cuiabana é publicada pela Entrelinhas Editora e está à venda por R$ 56,90 neste link.
No livro, Minhocão do Pari está muito entristecido por causa da poluição do Rio Cuiabá, que, em sua jornada pelo rio, receberá ajuda de outros seres lendários, como o Cavalo D’água, a Mãe de Ouro, o Jacaré Encantado e Serpente Emplumada.
Outra figura do imaginário mundial, a Mulher de Branco ou Noiva de Branco, ganha um “toque” pantaneiro por estas bandas, seduzindo os homens à noite e fazendo-os perder o controle e desaparecerem.
E a Noiva de Branco é a personagem condutora de uma intervenção artística do grupo cuiabano Tibanaré, que leva por um Passeio Noturno pelo Centro Histórico de Cuiabá.
Em tempos de pandemia, o grupo de artes cênicas criou o aplicativo Passeio Sonoro, para um audiotur também pelo Centro Histórico, com a presença da Noiva de Branco e ainda homenageando uma das mais célebres ativistas culturais de Mato Grosso, Dunga Rodrigues.
Acesse sua loja de aplicativos e baixe gratuitamente o app. Bom passeio!
Aliás, o próprio nome do grupo homenageia um personagem do imaginário mato-grossense. Segundo a lenda, o Tibarané é um pássaro encantado que ajuda as pessoas, a fim de receber, em troca, um pedaço de fumo. Realizado o pedido, logo ao anoitecer, aparece um homem pedindo o pagamento, o Tibarané.
Jefferson Jarcem, diretor do Grupo Tibanaré, contou ao Entretê que tem também a versão sobre o pássaro que, “quando os caçadores aparecem no meio da mata, o Tibanaré canta e o canto dele ecoa por toda a floresta, avisando todos os habitantes da natureza, para poder afugentar os caçadores”.
Mitos e lendas - do Rio Cuiabá ao Pantanal
Cuiabá tem alguns contadores de história e Alicce Oliveira é uma das que encantam com sua interpretação e se debruçam sobre os mitos e lendas cuiabanos e pantaneiros.
Nesta live, ela conta duas histórias e destaca ao Entretê a lenda "O Vento no Taquaral", cuja performance foi inspirada no livro “Lendas do Rio Cuiabá”, do autor de Barão de Melgaço Emílio Antunes.
Assista e conheça o trabalho de Alicce, bem como um pouco sobre o livro apresentado por ela.
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nossos serviços. Ao utilizar nosso site, você concorda com tal monitoramento. Para mais informações, consulte nossa Política de Privacidade.