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Notícias / Entrevista da Semana

03/07/2022 às 08:00

PRF tem como principal desafio aumento de fluxo de veículos de carga nas rodovias de MT

Há três anos e meio no cargo, Lucena declarou que está no final de seu ciclo como fronte administrativo da instituição, e não se intimida ao afirmar que está entregando uma PRF melhor do que a que lhe foi entregue

Denise Soares

PRF tem como principal desafio aumento de fluxo de veículos de carga nas rodovias de MT

Foto: Arquivo pessoal/Leiagora

O aumento do fluxo de veículos de carga nas rodovias não só do Estado de Mato Grosso, mas do país inteiro, tem demandado uma fiscalização mais intensiva das forças de segurança. Entretanto, o principal responsável pelas rodovias é a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Diante disso, o superintendente da PRF em Mato Grosso, Francisco Elson Lucena, falou como o órgão tem trabalhado para manter o tráfego nas vias com baixos índices de acidentes e mortalidade. Conforme Lucena, a principal estratégia tem sido se alinhar com os aparatos tecnológicos, além da parceria com outras forças de segurança.

Há três anos e meio no cargo, Lucena declarou que está no final de seu ciclo como fronte administrativo da instituição, e não se intimida ao afirmar que está entregando uma PRF melhor do que a que lhe foi entregue. Sem se queixar dos obstáculos encontrados pelo caminho, Lucena agradece pela nomeação e torce para que o próximo comandante do órgão realize tantas transformações positivas tanto quanto ele.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

Leiagora - Como o senhor avalia a atuação da PRF aqui em Mato Grosso?


Superintendente Lucena - Tem melhorado de forma bastante significativa. Nós estamos utilizando de ferramentas de gestão e isso nos trouxe uma nova abordagem de planejamento prévio. Com isso a gente está otimizando nossos recursos humanos e financeiro. Então, existe por parte da polícia, como um todo, no país todo, um investimento em tecnologia. Isso nos deu um aprimoramento e uma capacidade de assertividade maior.

Investimos também na capacitação. Todos os gestores e policiais da ponta estão recebendo capacitação intensa. Os próprios policiais que aqui estão ingressando já vem bem preparados, passaram por uma academia. Porque agora nós temos uma academia e isso tem nos ajudado bastante. Os investimentos, os recursos aplicados aqui na região, por ser uma região de fronteira, ser uma região portal da amazônia, por ser um grande produtor de alimentos, que tem impacto nacional, teve um olhar especial do departamento para alocar recursos em diárias, novas viaturas, obras, investimentos estratégicos como rádio digital.

É uma linha pela qual nós atacamos a criminalidade, atacamos também a segurança viária e tambem fazemos um trabalho de consciência social para que população entenda o trabalho da polícia, que nao é só multar. Vai muito além disto.

Leiagora - Nas rodovias, qual o principal foco?


Superintendente Lucena - Nós somos hoje uma rodovia de pouco mais de 5 mil quilômetros, mas nós temos mais de 30 mil quilômetros de rodovias estaduais. Nós temos uma imensa capilaridade. Considerando as vias de acesso municipais, nós temos um contexto de 150 mil quilômetros de estrada no estado. O estado é gigante, enorme, o maior produtor hoje de alimentos, de soja, milho. Tem a tendência de crescer ainda mais. Temos riquezas naturais como floresta, como minerais, temos também o contexto da fronteira. Temos apenas 141 municípios, e desses 141 municípios, sabemos que a PRF está presente, de forma direta e indireta, em mais de 60%.

Isso nos traz uma responsabilidade, porque muitas rodovias hoje são as principais avenidas de uma cidade. Mato Grosso ainda carece de infraestrutura adequada para adequar esse grande desenvolvimento. Então, as necessidades hoje elas estão um pouco distantes do que o estado vem provendo. Uma infraestrutura adequada, estradas duplicadas, com rotatórias.

O desafio da PRF tem sido cada vez maior, especialmente no quesito da acidentalidade e letalidade. Nós temos buscado parceria junto com as forças de seguranças, seja de nível municipal, estadual e também federalm para que possamos enfrentar, especialmente, esse grande fluxo de caminhões de carga que está ocorrendo devido ao desenvolvimento socioeconômico.

Leiagora - Mato Grosso faz fronteira com a Bolívia… como essa proximidade influencia nas ocorrências? A gente pode dizer que Mato Grosso é uma rota do tráfico, do roubo de veículos?

Superintendente Lucena - O Mato Grosso, infelizmente, acaba sendo um estado de passagem e acaba também retroalimentando o crime. Por exemplo, nós temos aqui roubos frequentes de veículos utilitários que servem como moeda de troca na Bolívia. Todos os dias eles [criminosos] mudam a parte operacional. Inicialmente, roubavam e levavam direto, hoje, não. Mantém a  família presa até que esse veículo chegue do outro lado.

Então, isso acaba escalonando a violência, porque poderia ser uma ocorrência só de um bem material, mas agora está colocando em risco a vida das pessoas. O crime organizado está fazendo uma estruturação cada vez mais organizada, então nós precisamos cada mais melhorar as nossas atuações, seja com tecnologia, compartilhamento de informação ou capacitação dos nossos policiais.

Nós sofremos com a capilaridade. São quase 900 quilômetros que, de certa forma, é quase humanamente impossível você estar em todos os pontos. Então, o desafio diário é gigante. Por outro lado, essa faixa de fronteira está criando um desenvolvimento. O Vale do Guaporé é um exemplo clássico. Ali, o agronegócio chegou e está transformando a região. Tanto o agronegócio, como também a questão da pecuária é muito intensa, estruturada, e nós temos uma proximidade [territorial]. Então, essas famílias sofriam constantemente vandalismo ou mesmo furtos e roubos na sua propriedade. Há necessidade de o Estado estar cada vez mais presente na fronteira para apoiar esse desenvolvimento, essa populçação que está ali margeando.

Inclusive, recentemente, tivemos uma manifestação na 070, ali no Vilarejo Limão, onde a população pedia que todas as forças de segurança tivessem uma postura mais incisiva para combater esses furtos e esses roubos, que é bem próximo ali, a 50 - 30 quilômetros. O Gefron [Grupo Especial de Fronteira] vem fazendo um trabalho excelente. A polícia rodoviária está reaparelhando. Esse não é um trabalho somente de uma instituição, deve ser um trabalho de integração, compartilhando informação, tecnologia, para que possamos fazer frente à essas novas demandas.

Leiagora - Quais são os veículos preferidos dos criminosos? Por quê?


Superintendente Lucena - Hoje a Hilux é o top de linha. É a queridinha do sistema. Hoje nós percebemos que, com a evolução da indústria automobilística, não tem muita preferência. As caminhonetes são preferência pelas estradas, já os veiculos utilitários servem não só para passeio, mas também para atender a demanda dos pequenos proprietários, pequenos comerciantes e até mesmo os traficantes que utilizam esse veículo para transportar algum tipo de insumo para produção de drogas.

Em razão disso, a gente tem observado com frequência que a tática do crime organizado tem mudado. Às vezes eles furtam, mantém o veiculo retido por um período aqui na cidade, para que depois eles façam mudanças nas características [do veículo] para levá-lo. Isso tem sido uma prática cada vez maior. Então, a gente vai ter que se adpatar a esse novo tipo de metodologia que o crime está impondo.

Leiagora - Além da Hilux, quais outros veiculos são visados?


Superintendente Lucena - As caminhonetes como a Amarok, espcialmente veículos altos. Hilux, SW4, veiculos altos que facilitam a travessia em estradas que são praticamente cabriteiras, estradas que nao tem infraestrutura. São veiculos altos que facilitam a vida do cidadão boliviano para se movimentar nas estradas de péssimas condições.

Leiagora - Quantos agentes estão lotados hoje? O que ainda é necessario de estrutura?


Superintendente Lucena - Nós tivemos um projeto chamado Reestruturação da Infraestrutura, e na parte operacional nós propomos que o efetivo minimo necessário seria de 550 [agentes]. Quando assumimos, nós estavámos com 324 [agentes]. Recebemos agora, em dois novos cursos de formação, um acréscimo, e fomos para 470 policiais. Hoje somos 470 policiais no Estado, distribuído entre 7 delegacias e praticamente 14 unidades operacionais.

A sede tem o menor efetivo já visto em toda sua série histórica em Mato Grosso. Hoje nós temos próximo de 12%. Anteriormente, era 20%. Hoje, de todo efetivo, é 12% que esta aqui na nossa sede. Isso foi graças ao investimento em tecnologia, desburocratização, usando a ferramente do teletrabalho, eliminando o papel. É tudo eletronico. Isso nos ajudou e nos fez diminuir a quantidade de servidores à disposição na sede. Os processo foram mapeados, foram padronizados para que a gente não perdesse muito tempo.

Por exemplo, processo de contratação: nós temos um modelo. Processo da parte operacional, nós temos as admissões. Elas foram padronizadas e criaram um ciclo de eficiência, e isso fez com que nós diminuíssemos bem a quantidade de policiais que ficavam disponíveis, que agora são alocados nas unidades operacionais. Com isso, pudemos atender mais a demanda. O efetivo ainda é 393 na ponta, o que não é o ideal. O ideal seria próximo de 500.

Existe uma promessa por parte do departamento em reaparelhar a quantidade mínima. O Estado, como eu já disse, tem mais de 5 mil quilômetros de rodovias federais, mais de 30 mil quilômetros de rodovias estaduais. Temos um agronegócio punjante, que necessita da presença da força de segurança, tanto municipal, federal e estadual, para atender esse grande fluxo de produção. Esse grande fluxo de movimentos de pessoas, e de riqueza do nosso estado, que vai servir não só para o desenvolvimento da nossa região como também para o desenvolvimento nacional.

Leiagora - Tem alguma mençaõ do gov federal no concurso para ver quanto vai aumentar de servidores?


Superintendente Lucena - O Governo Federal, nós temos um diálogo permanente, frequente com o Ministério da Justiça. O nosso diretor tem nos atendido bastante nisso. A gente tem uma agenda hoje bem estruturada, porque nós fizemos um planejamento que vem desde 2018 sendo implementado. Lógico que as mudanças estão ocorrendo, não de forma brusca, mas tem até 2023 para que o planejamento nos atenda.

Nós estamos fazendo uma reestruturação na nossa comunicação, seja ela de voz, também de captura de imagem. Nós estamos investindo maciçamente na nossa infraestrutura dos postos. Os postos hoje recebem uma nova estrutura, inclusive para que a gente possa receber outras forças. A unidade operacional da polícia rodoviária não é mais somente dela, é de todas as forças de segurança. Lá também está sendo adequada para atender todas as forças de seguranças e qualquer outra instituição que queira desenvolver atividade relacionada à rodovia.

Então, nós temos hotel de trânsito, parte conveniada, auditório para capacitar, cobertura, temos infraestrutura de telecomunicação, internet, tudo disponivel para que todos possam executar suas ações de uma forma cada vez mais eficiente. Por exemplo, o Sefaz usa nossos postos para combater sonegação e repercutiu de forma positiva.

Porque às vezes precisa levar uma quantidade expressiva de gente até para fazer a segurança. Nós fazemos a segurança e o pessoal faz o combate à sonegação, cada um fazendo seu trabalho de forma cada vez mais eficiente e a polícia contribuindo não só com o Estado, como o Municipio, mas também com o país para melhorar a prestação de serviço para a sociedade.

Leiagora - Qual o foco da PRF esse ano?


Superintendente Lucena - Foco nesse ano é terminar… em 2019, quando assumimos, nós tinhamos 32 ações para complementar, que era reestruturação administrativa, reestruturação da infraestrutura, fazer os termos de cooperação técnica dos Estados com os Municípios. Nós precisamos terminar esse planejamento, terminar as obras. Nós estamos com 11 obras em curso. Acompanhar essas obras para que a execução seja feita de forma correta, conforme o projeto executivo, finalizar os pactos com 35 municípios.

A Polícia Rodoviária Federal disponibilizou os rádios digitais para o Estado e também quer ampliar isso para o Municipio. Nós temos hoje 15 soluções. Nós não temos mais talonário de papel, é tudo eletrônico. Queremos disponiblizar isso apra os municípios, chamamos de multiagência. Queremos ampliar nossa capacidade de fibra ótica, que é uma complementação. Temos muito trabalho.

Então, nós não queremos começar projetos novos, nós queremos finalizar os projetos que já iniciamos a 1, 2 anos. Acredito que o ciclo se fecha. E aí terá a eleição, terá o novo governo e um novo planejamento. Mas a ideia nossa é fechar aquilo que iniciamos. Finalizarmos os pactos, finalizar as obras, finalizar todas essas entregas que prometemos no início da nossa gestão. 

Leiagora - Por que a gente vê motoristas ainda utilizando drogas? Falta educação da base? Onde está o problema?


Superintendente Lucena - Eu acho que tudo contribui. Por exemplo, nossa infraestrutura hoje não é adequada para este tipo de trânsito. O ambiente acaba provocando um estresse acima do normal. É muita parada, muito congestionamento, é uma rodovia que não tem infraestrutura para receber adequadamente. Nem todos os postos tem banheiro adequado, tem pátio adequado, segurança adequada. Os postos estão muitos distantes um do outro... então o motorista acaba dormindo em local inapropriado, se alimentando mal. Isso vai sobrecarregando o corpo humano, e ele acaba tendo um estresse... e a bebida, a droga, é uma rota de fuga.

Existe também uma produção muito excessiva. Hoje produzimos e o caminhão se torna um armazém ambulante e isso impõe um ritmo alucinante de trabalho. O motorista é remunerado por proatividade, então, quanto mais ele trabalha, melhor ele ganha. Então ele é pressionado a produzir, em razão também dos grandes índices de aumento de produção. Isso impõe também maior responsabilidade para o motorista, que tem que transportar, tem que entrar no porto, tem que entregar no setor ferroviário... chega lá, cheio de fila.

Acho que o nosso motorista, especialmente, precisa de tratamento mais adequado, precisamos criar uma estrutura mais adequada, precisamos prepará-lo cada vez mais. Temos a tecnologia de simuladores para verificar se ele está bem para estar digirindo, criar instrumentos trecnológicos, que antes dele pegar [o caminhão], tem um dispositivo, um sensor tipo um bafômetro no caminhão na hora que ele for embarcar, se ele esta apto ou não para dirigir.

Então assim, tudo vai contribuir, mas isso é a longo prazo. Infelizmente a gente não tem ainda empresa estruturada para fazer esses investimentos. Tem muitas empresas que tem contribuído, investido muito nisso, em razão do valor do frete. O fretre hoje não está nos melhores momentos. Nós temos aumento constante dos combustíveis, pautado pelo cenário internacional, e isso impacta na rentabilidade. E aí acabam deixando de investir na capacitação, deixando de investir na condição do veículo e o motorista é sempre deixado em segundo plano.

Então, ele realmente precisa ser levado em consideração. Acho que precisa, por parte de todas as autoridades, seja ela pública ou privada, um olhar especial pra essa classe que contribui para o desenvolvimento da nossa sociedade.

Leiagora - A gente comentou sobre a tecnologia. O que a PRF tem de potencial?


Superintendente Lucena - A Polícia Rodoviária Federal vem investindo há mais de 10 anos na tecnologia e vem se tornando a polícia tecnológica. Ela quer ser a polícia da informação. Quer agregar vários bancos de dados. Imagine só, eu fazer uma pesquisa no smartphone, de onde a pessoa vem, se ela tem passagem, se tem mandado de prisão, se teve envolvimento em acidente, multas aplicadas e qual foi o percurso dela. Isso é um instrumento importante para o policial da ponta. Quando ele fizer a abordagem, ele poderá dizer: “esse motorista está mentindo, ou, ele já teve problemas com bebida, ou teve problema com acidente”.

Então, quando ele vai fazer uma aborgadem, ele tem todas essas informações, e nós estamos trabalhando junto com as Prefeituras, com o Estado, para que ese banco de dados amplie. Até reconhecimento facial... o cara apresenta documento, você tira uma foto, faz o reconhecimento, e manda pro banco de dados para checar, de repente, se a pessoa está usando documento falso, se é latrocida, homicida. A gente tem feito esse trabalho cada vez melhor. Quanto mais esse banco de dados cresce, mais mandados a gente cumpre.

Temos tirado das ruas pessoas fugitivas, pessoas que deixaram de cumprir a determinção judicial. Então, a gente tem ampliado mais de 300% o cumprimento de mandado de prisão feito através desse instrumento tecnológico. Nós temos buscado a tecnologia para nos auxiliar, mas a tecnologia ela é pautada nos bancos de dados e os bancos de dados são pautados na integração. Quanto mais nós formos integrados com o Estado e os Municípios, melhor será a prestação de serviço.

Temos a comunicação crítica, que é a rádio digital, que a agente também está compartilhando com o Estado. Isso pertmite que todos aproveitem o aparelho... quando não tem o celular, eu tenho o rádio. Isso faz com que eu, daqui, converse com a fronteira, o extremo norte e até outros Estados. É uma grande rede que esta sendo construida no país e isso é importante, pois ela é criptografada. Inclusive a gente georreferencia e tem até velocidade do veículo da pessoa.

Então, tem outros instrumentos que podemos utilizar como ferramente de gestão, auxiliando em que posição o veículo está, para quando tiver um chamado, a gente já no painel consegue olhar: “a viatura tal, conforme o rádio digital, está em tal localidade. E qual o tempo de deslocamento?” Eu já consigo traçar isso. Então, a tecnologia vem nos facildiando.

Outra coisa também é a capacidade nossa de monitoramento. Por exemplo, um carro passa por um determinado ponto e a gente vai estabeceler a rota dele. Isso permite que a gente tenha capacidade melhor de enfrentar a criminalidade e mesmo diminuir a acidentabilidade. O que é isso? Se eu estou indo de um ponto a outro acima da velocidade média, acima de 150 [km/h], esse veiculo vai ser parado. A gente vai saber qual a razão disso e vai diminuir os acidentes graves e as mortes. A tecnologia está sendo feita nesse sentido, para melhorar a capacidade de fiscalização e a melhoria do nosso serviço.

Não é parar qualquer um por parar, é parar aquelas pessoas que realmente devem ser paradas. E ali a gente tem todo histórico... a pessoa ja foi flagrada embriagada? Apresentou os documentos verdadeiros? Está cumprindo uma trajetória. Ás vezes a pessoa está sonegando imposto... então, a gente consegueauxiliar, por exemplo, através do banco de dados da Sefaz. Eu acabo fazendo um trabalho para a Sefaz, para a Polícia Civil, para o TJ. Ou seja, a polícia rodoviária sendo utilizada de uma forma mais eficiente.

Então, o recurso que a sociedade nos paga como salário, como investimento, ela acaba tendo retorno muito maior. Hoje nós recebemos 1 real e devolvemos a sociedade mais de 100 reais. Em termos de diminuição de acidentes, letalidade e apreensão de drogas. Ou seja, nós conseguimos pagar com sobra o que investem, tanto em salário quanto em investimentos. Então, se a polícia fosse uma empresa, ela daria lucro.

Leiagora - Como é feita essa tecnologia de monitoramento? Com satélite?


Superintendente Lucena - Nós temos BI [Businees Intelligence], o data center, onde acumulam todas as informações proveniente dos parceiros, dos nossos pontos de observações. Tem o BI, uma inteligencia artificial, que faz os cruzamentos, rotas, às vezes pega um caminhão que tem uma emissão de nota de Sorriso à Rondonópolis, mas ele está indo para Tangará da Serra. Uma rota que distoa. Pode ser que o cara só faça uma entrega... mas ele passa a ser observado e pode possivelmente ser parado.

Então, é nesse sentido. Você tem ali 18 mil veiculos passando na rodovia, quem escolher? Nós temos que pegar a tecnologia para nos auxiliar a fazer a escolha certa para que possa trazer resultados práticos na diminuição de acidentes, no combate a criminalidade. Então, a polícia está usando isso. Mecanismos de um data center, onde acumula várias informações e tem uma inteligência artificial. Hoje, por exemplo, se seu veículo for furtado e você entrar no nosso site, colocar o sinal... ela dispara num raio de 100 km para todos os policiais daquilo que voce georreferenciou.

Isso é a tecnologia em favor da sociedade. Tem um desaparecido… ontem mesmo, nós recebemos uma informação que havia uma pessoa de Senador Carnedo, um jovem com problemas psiquiátricos, que pegou rumo ignorado e a fampilia estava totalmente atordoada. Lançou nos desaparecidos e nós recebemos isso. Numa fiscalização de rotina, de madrugada, nos deparamos com um jovem cruzando a 070, sem saber pra onde ir, perdido. Nós fizemos a parada, acolhemos, entramos em contato com a família e mantemos o jovem, que era de maior, sob nossos cuidados, até que a família levasse o jovem para casa.

Então, é a tecnologia nos ajudando a ser eficientes, nos aproximando dos problemas sociais. É com veiculo furtado, desaparecido, com veiculo de passagem, velocidade média... a pessoa agindo de uma forma imprudente, ao pará-lo, ele sabe que está sendo monitorado. Nosso objetivo é salvar vidas e combater a criminalidade, esse é o grande propósito.

Leiagora - Ainda existe o Raio X? Consegue pegar droga? Se não, vai pela inteligência do policial?


Superintendente Lucena - Nós temos sim. Nós temos os cães, temos o expertise, temos a inteligência artifical, o scanner… utilizamos uma infinidade, não é so uma variável, nós temos um conjunto de variáveis. Esse conjunto, a cada dia, está amadurecendo, sendo incrementado com novas variáveis. Isso tem feito com que a polícia se destaque na apreensão de drogas, no combate à criminalidade, na redução de acidentes. Esse conjunto estruturado, que tem uma inteligência artifical por trás, que tem dado efetividade da PRF neste momento tão imporatne para a sociedade.

Leiagora - Toda essa aparelhagem fez quanto de apreensão?


Superintendente Lucena - Nós saímos de 2 toneladas para 16 toneladas nos últimos 3 anos, um crescimento bem acentuado. Nós saímos de uma apreensão de pouco menos de 3 mil a 4 mil metros cúbicos de madeira para quase 10 mil metros cúbicos. De mais de 500 kg de veneno para praticamente 90 mil kg de veneno. Nós saímos com uma redução de acidentes de quase 30%. Isso tem feito com que a polícia utilizasse os recursos de forma mais efetiva.

Então nós estamos cumprindo nosso papel. Nós temos também trabalho social, como o Fetran, o Redatran. Nós temos o Educar e temos atendido mais de 20 mil pessoas anuais com palestras, com nossa interação. Nós temos feito combate incisivco à exploração sexual de crianças e adolescentes. Então, hoje quase não existe, nos postos de gasolina e em paradas, essa exploração como ocorria há 10 anos. Não quer dizer que não exista, mas não e tão descarada.

​A gente tem contribuído muito com os municípios, o compartilhamento, a capacitação. Recentemente nós fizemos uma capacitação de técnico de abordagem para a Secretaria de Trânsito, especialmente aqui pra Secretaria de Cuiabá, a Semob. Fizemos já o Reuse, compartilhando aquilo que não nos serve mais, como viaturas. Redistribuindo para as universidades, para as IFMTs. Todas elas foram providas para algum município pelo sistema Reuse. Nós distribuímos computadores que foram destinados às crianças, especialmente nesse momento de pandemia, foram reutilizados para jovens, adolescentes carentes. Queremos avançar mais, queremos ter o apoio não só da sociedade, mas da imprensa. Que divulgue nosso trabalho, para que possamos estar sempre à frente das expectativas da sociedade.

Leiagora - Durante a pandemia, percebeu que houve um aumennto de ocorrências? 


Superintendente Lucena - No primeiro momento, teve um choque. Todos agiram com muito mais senso de prudência. Lógico que teve uma redução drástica no atendimento de acidentes, mas nós tínhamos uma missão de manter o fluxo de insumos circulando pelas rodovias. Então, nós fizemos um trabalho de acolhimento dos motoristas, porque algumas cidades tomaram a decisão de fechar e não prover meios para atendimento. A polícia teve ideia de abraçar, colocar os postos como centro de distribuição de alimentos, de medicação, de testagem, de vacinação. Fizemos isso com outras instituições, a Sesp, Semat, as Prefeituras, o próprio Estado. Foi um mutirão de esforços, mas como nós tínhamos a capilaridade, então a polícia se colocou à disposição. Isso foi fundamental a primeiro momento, porque ninguém sabia o que fazer. 
Então a polícia tomou essa vanguarda, inclusive nos comprometendo. Nós tivemos baixas… infelizmente alguns colegas faleceram em razão de estar na linha de frente, mas essa é a nossa missão. E num segundo momento, nós tivemos um relaxamento e os indicadores começaram a aumentar. Não aumentaram tanto, mas vinham numa média nacional, a gente fez algumas ações e conseguimos segurar os números. Agora, com a liberação, nós percebemos uma necessidade da população de sair, viajar, beber. Teve uma explosão nesse primeiro momento, em razão desse confinamento social.


Leiagora - Perceberam essa explosão quando?

Superintendente Lucena - Nós percebemos do final do ano passado para agora. Nós encontramos um problema sério, pessoas que não estavam preparadas para encontrar uma rodovia com tantos caminhões, especialmente em Mato Grosso. Como nós tivemos seca no sul e no sudeste, a maioria desses motoristas migraram para cá. Nós tivemos uma boa produção e muitos motoristas que não conheciam o trecho vieram pra cá. Nós tivemos uma explosão de quantidade de caminhões aqui, um aumento de 30 a 35%. Isso precarizou os fretes, porque os fretes caíram, já não eram bons e precarizaram. Nós tivemos uma diminuição da manutenção preventiva, uma capacidade de motoristas não entendeu a situação e nós tivemos aquele momento que todo mundo queria viajar. 

Então, imagine só, eu tenho motoristas de carga que não estão preparados para condução, concorrência que acaba precarizando o frete, não tem manutenção e um povo ávido à viajar. Então explodiu em janeiro e fevereiro, e agora estamos revertendo a situação. Tínhamos também outro problema: as rodovias federais não estavam ainda adequadas. Elas não são preparadas para tanto fluxo. Essas rodovias simples foram projetadas para determinados tipos de veículos e agora têm veículos superdimensionados, de 26 a 30 metros trafegando. 

Agora nós fomos pegos de surpresa em razão de que não tínhamos um efetivo adequado. Nós estamos nos posicionando, e a partir de março, a gente conseguiu baixar os números para o índice pré-pandêmico. E nós estamos trabalhando para que os números sejam cada vez menores. Mesmo assim, comparando o histórico de 2010 até agora, 2022, nós tivemos um aumento de 100% da frota, nós tivemos um aumento próximo de 60% da produção e nós estamos com um número mais baixo que 2010…. de mortes, feridos. E isso é uma vitória. Não são os números desejáveis, mas já conseguimos segurar esse touro que é o trânsito.



Leiagora - No próximo feriado vai ter algum tipo de ação especial?

Superintendente Lucena - Nós temos um reforço. Nós acreditamos que não teremos condições de manter a restrição de veículos superdimensionados, porque isso represa os caminhoneiros. Como eu falei para você, eles não tem espaço adequado. Por exemplo, quando tínhamos o feriado prolongado, nós faziamos duas coisas: reforçávamos o efetivo e colocávamos restrição. Nós só vamos reforçar o efetivo, sem colocar restrição, porque não temos espçao para segurar essa quantidade de caminhões. Segundo: nós estamos em plena safra, não temos capacidade de armazenamento. Então, nós vamos parar aquele monte de veículo, parar por 6 horas, e depois soltar? É estouro de boiada.

Leiagora - Acho que foi em 2018 que tinha fila em Rondonópolis...


Superintendente Lucena - Fila, todas essas questões. Então, a gente deixa o fluxo diluir de uma forma tranquila. Todos os caminhões vão andar à noite, sem nenhuma obstrução, nenhuma restrição por parte da polícia. A polícia rodoviária entende que, na condição que estamos hoje, sem uma estrutura adequada, não cabe uma restrição pra veículos superdimensionados. Agora, nós vamos reforçar o efetivo, reforçar as fiscalizações na questão da velocidade, do freio, do cinto, do uso de álcool ou substâncias psicoativas. O foco nosso é evitar os acidentes e salvar vidas.

Leiagora - Como é eleito o superintendente? Faça um balanço da sua gestão


Superintendente Lucena - Neste governo a gente foi técnico, foi uma escolha técnica da qual o ministro, na época era o Sérgio Moro, e ele não queria que a indicação tivesse viés político e nem sindical. Ele queria que fosse mais técnico, para que a pessoa pudesse ter mais capacidade e certeza de tomar as decisões. Eu sou fábrica de chão, sempre vim da parte operacional. A experiência que tive foi 6, 7 meses como chefe de operações. Para mim foi uma surpresa receber esse convite e com isso a responsabildiade aumentou.

Sempre fui ávido pelas transformações, focado nos resultados. A polícia precisava investir no que a sociedade pensava da gente, precisava investir em planejamento, investimento tecnológico para que a gente pudesse cumprir de uma forma ou outra. É isso que a sociedade almeja. Por isso tinha que ser tratado como uma empresa... se dá resultado, se dá lucro. É essa visão que eu tenho da polícia.

Fazia algumas crÍticas e as coisas não aconteciam como deveriam acontecer. Por sorte recebi esse convite, a gente teve o apoio da bancada federal que nos proveu de recurso, trouxe condições para que a gente pudesse realizar nosso planejamento. Então a gente propôs uma grande reestruturação na infraestrutura, todos os nossos postos estão passando por melhorias, investimentos, coberturas, rádio digital está recebendo o aporte.Então a gente apostou nesse projeto, numa entrega cada vez melhor.

Existiam muitos veículos retidos nos nossos pátios. Era um processo que incomodava muito. A gente fez leilões, e leiloamos mais de 8 mil veículos... limpamos o pátio. Fazemos nosso trabalho como deve ser feito, como está na lei, e recebemos sim o apoio de muitos prefeitos, o próprio governador também nos apoiou, nos ajudou. O secretário de segurança, a bancada federal, que agora recebemos um aporte de quase R$ 8 milhões e 700 [mil] para melhorar nossa infratestutura.

Eu espero que ao final desse ciclo… é uma eleição, ela é por um período. É improante ter essa renovação. Isso oxigena melhor a gestão. Eu acredito que o superintendente não deve ficar muito tempo, somente uma missão. Cumpriu a missão, abre espaço para uma nova missão, novo gestor, novos pensamentos. Isso é natural, acho saudável.

Meu ciclo está se fechando e fico muito feliz. Estou entregando uma polícia melhor que recebi. Espero que o próximo possa fazer o mesmo, e lógico que a gente vai estar aqui para ajudar e colaborar com tudo que for necessário. Mas uma coisa eu digo, ninguém faz nada sozinho. Acho que a junção de esforços de toda sociedade,assim como da administração, fez com que a gente melhorasse a polícia em todo estado de Mato Grosso.
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