“A política ama a traição e odeia o traidor”. A famosa frase de Leonel Brizola serve para ajudar a entender porque o deputado federal Neri Geller (PP), pré-candidato ao Senado, ainda não rompeu com o governador Mauro Mendes (União), apesar de todos os sinais de que deve ser preterido pelo chefe da gestão estadual na eleição ao Senado.
Ao invés de ficar marcado como o traidor que abandonou o barco, Neri Geller abriu o jogo publicamente de que pode aceitar dividir palanque, mas não aceita seu principal adversário, o pré-candidato à reeleição senador Wellington Fagundes (PL), coligado com Mauro Mendes. Dessa forma, o governador ficará com o peso de ter “trocado” um antigo aliado por conveniências políticas, caso seja sacramenta a aliança com Fagundes.
Leia também - Neri tem até 18h de hoje para romper com Mauro se quiser apoio da família Pinheiro
“No interior, as lideranças políticas estão vendo o que está acontecendo. O Neri já podia ter rompido há muito tempo, mas continuou leal e continua leal até esse último momento. O Mauro é quem está empurrando o Neri para a oposição e as lideranças estão vendo isso, estão entendendo o que está acontecendo”, disse uma fonte ao Leiagora.
Histórico de aliados
Apesar de não terem estado no mesmo palanque em 2018, Neri Geller e Mauro Mendes se aproximaram rapidamente após as eleições daquele ano graças aos vários aliados em comum, como Carlos Fávaro (PSD) e Blairo Maggi (PP).
Em 2019 e 2020, Neri foi coordenador da bancada federal de Mato Grosso e advogou fortemente em favor da gestão Mauro na hora de alinhar emendas de bancada com seus pares parlamentares. Além disso, praticamente todas as emendas parlamentares do deputado progressista foram destinadas através do Governo do Estado, aumentando assim o poder de investimento de Mauro Mendes nos municípios.
Em 2021, Neri comunicou Mauro Mendes que trabalharia para viabilizar pré-candidatura ao Senado, de quem é aliado de primeira hora desde 2019. A habilidade política do progressista garantiu a ele o apoio do PSD e do MDB, partidos que compõem a base de sustentação da gestão estadual.
Fator Bolsonaro
Apesar desse cenário de aproximação desenhado por três anos, Mauro Mendes abriu espaço para aproximação com o virtual principal adversário de Neri Geller, o pré-candidato à reeleição senador Wellington Fagundes.
O motivo é o fato do senador ser presidente regional do Partido Liberal, sigla do presidente Jair Bolsonaro, político mais popular em Mato Grosso. Além “colar” na popularidade do Capitão, essa aproximação serve para Mauro impedir o surgimento de um palanque de oposição bolsonarista.
Contudo, Wellington nunca foi próximo da gestão de Mauro Mendes e, em 2018, foi adversário direto do atual governador nas eleições.
Fechado com a Federação
Ao ver o espaço diminuindo no palanque de Mauro Mendes, Neri abriu negociações e teve sucesso em garantir o apoio da Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB) a pré-candidatura ao Senado. Com isso, ele articula para que a primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro (PV), seja primeira suplente ao Senado, garantindo, consequentemente, o apoio do prefeito da Capital, Emanuel Pinheiro (MDB).
Por hora, o apoio de Neri a um candidato a governador em coligação com a Federação não está sacramentado tanto pela lealdade a Mauro Mendes, quanto pela falta de um nome competitivo. O cenário muda se o ex-prefeito de Rondonópolis, Percival Muniz (MDB), conseguir se consolidar como pré-candidato dentro do MDB. As conversas estão avançadas, mas outros nomes também não são descartados.
