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Notícias / Entrevista da Semana

09/10/2022 às 08:00

Sebos cativam ‘clientela’ jovem e incentivam mundo da leitura

No dia 12 de outubro, é comemorado o Dia Nacional da Leitura

Denise Soares

Sebos cativam ‘clientela’ jovem e incentivam mundo da leitura

Foto: Arte: Leiagora / Foto: Arquivo Pessoal

A loja de sebo carrega o conceito de rotatividade. Livros, discos de vinil e antiguidades são vendidos e trocados com certa frequência. No entanto, os frequentadores estão cada vez mais fixos: os jovens tomaram gosto pela loja de livros usados.

Ninguém sabe ao certo a origem da palavra 'sebo'. Popularmente, a palavra teria origem antes da invenção da iluminação elétrica. A leitura era auxiliada pelo uso de velas de onde escorria a matéria prima (cera de abelha, gordura de animais, etc) em cima dos livros, tornando-os ensebados.

No dia 12 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Leitura, criado por meio da lei federal nº 11.899/2009.

Para falar sobre os sebos e sobre o hábito da leitura, o Leiagora conversou com Edson Xavier, de 53 anos. Ele administra o sebo Raro Ruído, localizado no bairro Boa Esperança, em Cuiabá.

Além dos livros, a Raro Ruído oferece itens da cultura pop e nerd, discos de vinil e outros acessórios nostálgicos.

Leia a entrevista na íntegra:

Leiagora – Como surgiu este sebo?

Edson Xavier – O sebo Raro Ruído tem quatro anos. Eu sempre gostei muito de sebo, sempre tive prazer em frequentar sebos. Quando chegava em uma cidade, buscava visitar. Essa paixão é antiga, queria ter algo que me desse prazer. Eu sou advogado e professor universitário. Exerço as funções juntamente com o sebo.

Leiagora – Começou sozinho o projeto ou com alguém?

Edson Xavier – O projeto começou junto com a minha esposa. Ela é advogada e também me ajuda no sebo.

Leiagora – As grandes livrarias têm uma pegada mais comercial. Qual a diferença para o sebo?

Edson Xavier – O elemento do sebo, por lidar com produtos mais antigos, você receber uma gama de produtos que inclui alguns muito antigos, evidentemente, você se cerca de uma aura de trabalho mais nostálgica, com memórias afetivas. Talvez o sebo possibilite deixar de maneira mais acessível esses produtos que, evidentemente, quando comprados novos, têm um preço muito maior e uma acessibilidade muito mais difícil.

Leiagora – O que atrai essas pessoas até aqui? Elas têm afetividade, nostalgia, gostam da prática de ficar ‘garimpando’ os livros?

Edson Xavier – A pessoa procura um sebo, porque ela gosta de leitura. E a Raro Ruído, apesar de ser um sebo, ela tem um conceito estético de gerar um certo conforto e comodidade. Ela tem um aconchego na sua estética. Mesmo pessoas que não têm o apelo do livro acabam sendo atraídas pela estética, que invoca uma coisa mais retrô, vintage. Nesse sentido, ela se destaca e traz elementos mais atrativos do que um sebo comum.

Leiagora – Durante o período crítico da pandemia, vocês fecharam?

Edson Xavier – Sim, fechamos. Eventualmente, alguns clientes pediam discos de vinil ou exemplares de livros. Foi um período muito complicado. Todas as coisas conspiravam para que a gente não seguisse.

Leiagora – E como vocês sentiram isso?

Edson Xavier – Sem dúvida, financeiramente a gente ainda não se recuperou. Antes do período de pandemia, tínhamos feito planejamentos e projeções. Praticamente estamos com dois anos agora tentando saldar as dívidas.

Leiagora – Qual sua dica para o leitor? Como manter o hábito da leitura?

Edson Xavier – O hábito da leitura é uma coisa que fundamentalmente você pode obtê-lo em qualquer momento da sua vida. É claro que com o passar do tempo, quando você já está com sua personalidade consolidada, com seus hábitos já enraizados, é muito mais difícil incorporar um novo hábito, como em qualquer outra atividade que você for incorpora na sua vida, é muito difícil.

Leiagora – E no caso das crianças?

Edson Xavier – Eu acho fundamental que as crianças, principalmente, tenham esse sentido. Eu comecei a ler muito novo por causa das histórias em quadrinhos. Os gibis eram um fascínio e isso me fez pular quase que naturalmente para os livros. A leitura tem que ser um prazer. Ela tem que se impor como hábito na medida que ela se oferece alguma coisa. Para as crianças, que ela interiorize desde muito cedo e leve para o resto da vida. Eu sempre digo para os meus alunos: nunca é tarde para começar. Os benefícios que ela vai trazer como atividade são muito grandes. Principalmente lendo coisas que lhe trazem prazer.

Leiagora – A tecnologia é vista como algo que pode atrapalhar a leitura ou pode ajudar, principalmente, nesta geração mais conectada?

Edson Xavier – Enquanto objeto, é mais difícil para esta geração cativá-la a pegar um livro e ler. Por outro lado, o fato deles [os jovens] estarem muito mais familiarizados com a tecnologia, eu acho que eles vão acabar tendo algum tipo de sedução pelo texto encontrado ali na mídia que ele está usando. Meu filho, por exemplo, tem 10 anos e lida muito com a leitura nos jogos que ele brinca. São partes grandes com informações do jogo que ele tem que ler. E ele tem um vocabulário muito rico. Eu acho que a tecnologia pode ser usada de uma forma adaptada a fazer com que eles tenham contato com os textos e livros em geral. Isso é possível.

Leiagora – Quantos exemplares vocês têm?

Edson Xavier – Temos em torno de 20 mil exemplares. Aqui na loja, não chega a tanto, talvez em torno de uns 8 mil livros expostos aqui. Temos muitas coisas guardadas. Normalmente fazemos trocas, recebemos doações, eventualmente fazemos compras.

Leiagora – Quem são as pessoas que visitam o Raro Ruído?

Edson Xavier –
É uma clientela muito difícil de você sistematizar. Ela é muito heterogênea. Tenho crianças que vêm até aqui por causa da Turma da Mônica, tenho adolescentes que gostam de mangás e até discos de vinil. Temos um público jovem, predominantemente, eu diria um público na faixa dos 18 a 30 anos. Tenho pessoas de pessoas de faixa etária maior. O que você vai encontrar aí é uma certa paixão pela leitura, seja ela um traço comum, de gostar de ler e gostar de lidar. De algum modo, o livro em si tem uma aura fascinante: invoca uma aura de conhecimento, uma aura de uma pessoa que está voltando para si mesmo, buscando se conhecer e conhecer o mundo. Esse apelo é pessoal.
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