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18/04/2023 às 07:48

Liderança dos Paresi rebate crítica sobre plantação de soja e diz que produz com sustentabilidade e para sobrevivência

Nedino relata tempos de desnutrição e melhorias nas condições de vidas, mas com manutenção de tradição e alega que 'relógios e caminhonetes' não tiram sua origem

Da Redação - Alline Marques / Reportagem local - Jardel P. Arruda

Liderança dos Paresi rebate crítica sobre plantação de soja e diz que produz com sustentabilidade e para sobrevivência

Foto: Jardel P. Arruda / Leiagora

O vice-presidente da associação Halitinã, Nedino Cintra Nascimento Maizokie, da etnia Paresi, fez a defesa de seu povo durante o 1º Acampamento Terra Livre, que tem sido criticado por outras etnias e até mesmo grupos ambientalistas. Chamados de destruidores por plantarem soja em suas terras, ele fez questão de garantir que não abriu mão de suas tradições e que não são ricos, apenas produzem pela sobrevivência de seus povos, e que já conseguiu melhorar, por exemplo, a questão da desnutrição da população Paresi que antes passava fome. 

Representante de uma entidade que contempla 46 aldeias indígenas, Nedino diz que seu povo sofre com a polêmica e que em suas terras não é plantada apenas soja, mas também arroz, feijão e milho. A soja foi uma forma de ganhar dinheiro, sim, mas ele garante que trata-se de uma produção orgânica, sem agrotóxicos. Além disso, ele assegura que a cada colheita, é feita uma oferenda, a festa tradicional de agradecimento também foi mantida, assim como vários outros costumes dos povos indígenas. 

“A gente busca a sustentabilidade para sobreviver, não somos destruidores, não, buscamos o que não é para ficar rico, mas para manter nossas crianças e saúde de qualidade. Nós sofremos com a polêmica, mas procuramos alternativas. Sei que não é bom, mas os governantes têm que mostrar o caminho, porque apenas buscamos um meio de sobreviver”, afirmou Nedino durante sua participação durante o 1º Acampamento Terra Livre, realizado em Mato Grosso. 

Nedino relata ainda que é preciso entender que onde o povo Paresi está não existe mais natureza, é só o “cerradão”. “Não existe mais caça, os rios estão contaminados, a saúde está ruim, de péssima qualidade, temos um mal atendimento devido essa situação. Então fomos buscar soluções, mesmo sabendo que não é o correto. Mas ainda esperamos desse governo que dê uma alternativa para seguir nosso caminho. A nutrição era bastante, depois que a gente teve o plantio que se tornou uma cultura do povo Paresi, melhorou”, contou.

A liderança também não se omite em falar do fato de que os indígenas andam de caminhonete, possuem celular, mas refuta as críticas e alega que é preciso entender que a situação mudou e hoje o que eles querem é colocar os filhos na melhor faculdade para que eles possam se formar e assumir cargos públicos. “Não é que o povo Paresi é destruidor da natureza. Tem que ir lá conhecer a realidade, antes de falar”. 

“Eu não moro na alvenaria, não consigo morar na cidade, moro dentro da minha área, com neto, bisneto, filho, genro, seguindo minha tradição ainda. Eu fui criado com um grande líder Paresi, chamado João Garimpeiro Arrezomae, que hoje ele não existe mais, mas é incentivação que ele dá para nós, hoje”, argumentou, deixando claro que faz questão de manter suas tradições vivas. 

Nedino ressalta ainda que atualmente tanto o Ministério Público Federal quanto o Ibama têm conhecimento da produção e não vê outra alternativa, porque por meio da plantação de soja é que o povo Paresi conseguiu melhorar as condições de vida. “Hoje o povo Paresi cresceu, antes o povo saia para trabalhar na fazenda, ganhando mixaria, deixando sua família, hoje o povo trabalha e ganha para se sustentar. Nós nos mantemos na aldeia e damos continuidade às nossas tradições, mantendo a família perto. Chega de nós indígenas sofrermos”, declarou. 

Por outro lado, Nedino também faz questão de dizer que respeita a todos os povos indígenas e suas particularidades, portanto, também não se trata de uma imposição para que todas as etnias passem a viver da produção agrícola. Ele destaca que Mato Grosso possui 43 povos indígenas e é preciso enxergar a particularidade de cada etnia e avaliar o que é melhor para eles. 

“Temos nossa cultura, usamos nossa reza, nossa festa, festa de menina moça, tudo isso nós praticamos, as pessoas falam que nós quer (sic) ser igual homem branco. Não é isso. Nossa saúde é de má qualidade (...) se não tivéssemos esses benefícios da onde que vamos pagar? (...) Se não fosse esse nosso projeto não sabíamos a situação que estamos passando. A desnutrição melhorou, nossos filhos e netos estavam desnutridos, não é porque tenho relógio e celular, roupa e sapato, que vai tirar a minha origem, e todos nós temos direitos, somos cidadão”, finalizou.
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