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Notícias / Entrevista da Semana

03/09/2023 às 08:04

SETEMBRO VERDE

Médica alerta que faltam doadores e centros credenciados para a realização de transplantes de órgãos em MT

O transplante do apresentador Fausto Silva gerou repercussão, mas você sabe como o procedimento é feito no estado? Leia e confira

Luíza Vieira

Médica alerta que faltam doadores e centros credenciados para a realização de transplantes de órgãos em MT

Foto: Foto: Arquivo Pessoal / Arte: Leiagora

A rapidez no transplante de coração do apresentador Fausto Silva gerou repercussão nacional e muitos debates. Mas você sabe como funciona o transplante de órgãos em Mato Grosso? Quais são os procedimentos disponíveis ou como funciona a lista do Sistema Único de Saúde (SUS)? Diante dessas dúvidas, o Leiagora entrevistou a médica do Centro de Transplantes do Estado, Dra. Heloise Helena Siqueira.

Ao todo, entre pacientes que aguardam por um rim, coração, pulmão ou até córneas, há 1.168 mato-grossenses na fila de transplante. 

Porém, em Mato Grosso há alguns obstáculos que precisam ser superados para que a população que aguarda por uma nova chance consiga um órgão com mais facilidade. 

Primeiro, é necessário mais efetividade em campanhas para que haja mais doadores e segundo, é preciso que tenham mais hospitais credenciados que possam realizar os procedimentos.

Em meio ao Setembro Verde, mês que visa alertar sobre a importância da doação de órgãos, você já parou para pensar se doaria os seus? Essa é uma importante decisão que precisa ser dita aos familiares e amigos, afinal serão eles quem deverão autorizar ou não os procedimentos. 

Confira a entrevista completa:

Leiagora - São realizados transplantes aqui em Mato Grosso ou há só o sistema de captação de órgãos? 

Há algum tempo nós fazemos transplantes de córnea que é feito aqui em Mato Grosso.

Leiagora - Como é o processo para a realização de um transplante de córnea?

O transplante de córnea é feito por alguns serviços de oftalmologia aqui em Cuiabá e em Rondonópolis. A família que aceita doação de córneas, a gente chama doação com o coração parado. Ou seja, depois do óbito do paciente, até seis horas após, pode ser retirada a córnea para doação, e essas córneas ficam armazenadas até que seja encontrado um doador compatível para receber a córnea.

Leiagora - Em relação à captação de órgãos, como funciona aqui?

Todo o paciente que tem um quadro de suspeita de morte encefálica, as UTIs, que esse paciente normalmente ele está em uma UTI ou em uma unidade de urgência e emergência, a equipe dessas unidades aciona a central de transplante. Nós temos um formulário onde algumas informações básicas do paciente estão colocadas e nos informam.

E aí a gente passa então a monitorar essa avaliação, porque inicialmente existe uma suspeita e aí precisa então identificar todos os critérios adequados para o início do diagnóstico da morte encefálica. Feito o diagnóstico, a FDOT, que é uma comissão interhospitalar que cada hospital tem essa comissão, ela entra em contato então com a família desse indivíduo no sentido de questionar sobre a possibilidade do interesse em doação de órgãos e tecidos.

Para o diagnóstico de morte encefálica, essa família precisa ser informada mesmo antes do início da investigação, mas neste momento da investigação de morte encefálica, normalmente a gente não orienta a abordagem sobre a doação de órgãos, porque é até para não misturar, não se está parecendo para a família que a gente está interessado é na doação de órgãos. O interesse é no diagnóstico de morte encefálica.

A partir do diagnóstico então essa comissão hospitalar entra em contato com a família, aí sim no sentido de questionar, de abordar sobre intenção, interesse na doação de órgãos. Quando a família manifesta o desejo de doação de órgãos, aí então começa toda a análise de histocompatibilidade do doador para identificar um receptor para esses órgãos, alguns receptores na verdade.

Leiagora - Mato Grosso conta com uma equipe capacitada e hospitais credenciados para a realização de todos os procedimentos de captação de órgãos?

A gente não tem equipe de captação de órgãos. Então como funciona: a Central Nacional de Transplantes encaminha uma equipe para a retirada de órgãos, além das outras equipes que vão captar os órgãos e levar para os seus locais de origem. Então, aqui, agora com o [hospital] São Mateus é que nós vamos passar a ter uma equipe de captação ou extração de órgãos. Mas, a gente ainda não tem.

Leiagora - Além do transplante de córnea, há outro tipo de transplante que seja realizado aqui em Mato Grosso? 

Nós já tivemos transplante renal, por exemplo. Mas nós estamos aí, eu acho que desde a pandemia a gente não faz mais o transplante renal aqui mesmo. Este ano o Hospital São Mateus foi credenciado pelo Ministério da Saúde para transplante renal, então, provavelmente, nós vamos começar agora, em breve, a fazer o transplante renal aqui mesmo, em Mato Grosso.

Leiagora - E teria também algum outro projeto para além dos rins, para expandir a quantidade de transplantes realizados em Mato Grosso? 

O São Mateus também tem um projeto mais futuramente de transplante hepático. Lá tem equipe capacitada para a realização, mas precisa ainda do credenciamento pelo Ministério da Saúde. Normalmente o Ministério da Saúde, ele inicia sempre com o transplante renal e aí conforme a equipe hospital vai tendo a rotina e a experiência, expertise na realização do transplante renal, aí progressivamente vão credenciando para transplante em outros órgãos. 

Leiagora - Em relação ao próprio estado, quanto aos hospitais públicos. Tem algum projeto para ampliar esse tipo de cirurgia? 

Olha, a gente sabe da intenção, o interesse do HMC, mas até agora, oficialmente, nós não temos nada definido, né? A gente sabe que eles têm a intenção e o interesse.

Leiagora - Caso o paciente mato-grossense precise, por exemplo, de um coração. Como que é feito esse procedimento? O coração do doador é levado para outro estado, junto do paciente, como é feito isso? 

Bom, primeiro é o seguinte, vamos imaginar que Mato Grosso já estivesse fazendo transplante renal. Então, quando nós temos dentro do estado uma equipe que transplanta órgãos, todos os pacientes do estado, qualquer órgão disponibilizado para o estado, aqui dentro do estado, ele primeiro é analisado isso, a compatibilidade com os pacientes do estado.

Depois, caso nenhum paciente (de Mato Grosso) que precise receber esse órgão seja compatível, aí esse órgão vai para o Centro Nacional para fazer a análise de compatibilidade para todos os pacientes que estão aguardando órgãos no Brasil. Quando nós não temos equipe que realize o transplante dentro do estado, todos esses indivíduos, todos esses pacientes que estão na lista de transplante, eles estão na lista nacional, né? Então o órgão é disponibilizado para todos os pacientes do Brasil, independente de onde ele esteja. 

Se nós não realizamos o transplante aqui em Mato Grosso, mesmo os pacientes de Mato Grosso vão fazer a cirurgia para receber o órgão em algum local, algum estado, algum centro de transplante fora do estado. Então alguns pacientes estão cadastrados para receber órgãos em São Paulo, outros no Rio Grande do Sul, Paraná e assim por diante. Então quando o órgão é disponibilizado, ele é disponibilizado para o Brasil. Então, a análise dessa histocompatibilidade é feita no Brasil inteiro. Aí ele vai selecionar então quem são os pacientes que são compatíveis com esse doador. A partir daí entram outros critérios de gravidade, internação e UTI, idade e outras questões que vão definir quem é o receptor.

Mas, todos os órgãos disponibilizados aqui por nós, em Mato Grosso, ele entra para disponibilização no Brasil inteiro, visto que nós não temos equipe transplantadora dentro do Estado. E todos os nossos pacientes que estão na fila de transplante, eles estão cadastrados em algum centro transplantador do Brasil.

Então, no final das contas ele acaba fazendo parte dessa análise, ele participa dessa análise também.

Leiagora - Então, novamente um exemplo de transplante de coração, uma pessoa daqui do estado precisa de um coração, encontra um doador compatível aqui em Mato Grosso. Então esse paciente vai ser encaminhado, de acordo com cadastro dele, já para um hospital especializado no Brasil para fazer essa cirurgia?

Exatamente. Se ele for compatível, sim, ele vai ser acionado e se ele tiver cadastrado, por exemplo, em Porto Alegre, ele vai ser transportado para Porto Alegre para receber o órgão que foi doado, por exemplo, por um paciente, um doador aqui de Cuiabá, de Mato Grosso. 

Leiagora - Se for um transplante de córnea, que é feito aqui em Mato Grosso mesmo, ele também fica disponível para todo o país? 

Por exemplo, córnea nós fazemos um plano de córnea. Então toda a córnea captada aqui no estado primeiro a gente vai analisar a compatibilidade com os pacientes daqui de Mato Grosso. 

Leiagora - Então essa falta de outros tipos de procedimento de transplante pode prejudicar quem é de Mato Grosso? Porque se não tem um centro cirúrgico ou profissionais capacitados aqui para fazer uma infinidade maior de transplantes, acaba que os pacientes daqui têm que concorrer com os pacientes de todo o Brasil quando há doador no estado? 

Sim, sim. Agora, não adianta só ter equipe capacitada, tem que ter a habilitação do hospital e das equipes pelo Ministério da Saúde. 

Leiagora - Como é essa corrida contra o tempo? Dado o tempo de deslocamento e o tempo em que aquele órgão doado irá esperar até a cirurgia.

O que acontece é o seguinte, quanto mais grave o paciente, provavelmente ele já vai estar internado em uma UTI em uma unidade hospitalar. E normalmente, quanto mais grave, esse paciente já é internado no local onde é realizado o transplante. Porque normalmente pela gravidade do caso ele não consegue ficar em casa, ele está dependente de uma diálise, ou de oxigênio, ou de medicações venosas. Então por isso que pacientes que estão mais graves e que estão internados, eles têm prioridade na fila de transplante. Prioridade entre aspas no sentido de que, o primeiro ponto do transplante é ter um doador compatível com essa pessoa, esse paciente que precisa receber esse órgão, né? Porque eu posso estar muito grave, mas se tem 10 doadores, mas se eu não tenho compatibilidade com nenhum desses 10 doadores, eu não vou concorrer com eles, né? 

Então, o primeiro o primeiro ponto do transplante é a histocompatibilidade. Eu tenho que ter compatibilidade entre doador e receptor. Muitas vezes ou algumas vezes, por exemplo, o órgão que está sendo doado, quem vai receber não é nenhum desses pacientes que está internado. Porque o paciente que é compatível com ele é o único paciente que está lá na casa dele e tudo mais. Então, nesse caso, esse indivíduo, esse paciente que está na casa dele é chamado e ele vai para o hospital fazer a cirurgia para o transplante. Mas, todo paciente que está internado em estado grave, ele tem a prioridade pela gravidade do caso, desde que o órgão disponibilizado seja compatível com ele.

Então, vamos dar um exemplo de transplante renal, que na maioria das vezes o indivíduo não está internado. Então, o que acontece? Eu tenho um rim lá no Amazonas. Eu tenho um paciente aqui em Cuiabá e ele está cadastrado lá em Curitiba, no Centro de Transplante Curitiba. Se esse doador lá de Manaus for compatível com esse paciente daqui, assim que for definido quem é o receptor, esse receptor, essa pessoa que vai receber esse órgão é acionado e a gente lá da Central Transplante providencia todo o transporte aéreo o mais rápido possível para que eles cheguem naquela unidade de transplante, para que assim que o órgão chegar também ele esteja tudo organizado para isso.

Isso tudo, o Sistema Nacional de Transplante junto com a Infraero, o Ciopaer, eles também atuam em toda essa logística, né? Entre a chegada da equipe que vai fazer a retirada dos órgãos, assim como a chegada das equipes que vão levar esses órgãos para cada um dos locais onde serão transplantados, né? Assim como do receptor ao local de cirurgia ou de transplante. 

Leiagora - Qual a quantidade de pessoas que aguarda o transplante em Mato Grosso?

São 698 pacientes para transplante, aguardando transplante renal, 117 para transplante hepático, 28 aguardando transplante cardíaco e 325 para transplante de córnea. Essas que são os dados da Central de Transplante. Todos esses pacientes, de alguma forma, exceto o da córnea, pacientes que aguardam transplante renal, pulmonar, hepático, eles vão periodicamente aos centros transplantadores para fazer revisões, avaliações periódicas. Dependendo do caso, vai uma vez por ano, duas vezes, de acordo com a definição do centro transplantador.

Leiagora - Mais ou menos quanto tempo as pessoas aguardam por um transplante? Depende muito? Varia?

Pois é, isso é muito variável, porque é exatamente por causa dessa questão. Quanto maior a gravidade do caso, esse paciente, essa lista de transplante, ela é meio flutuante. Porque é um paciente que está bem e estável. Por exemplo, pega uma pneumonia interna, ele automaticamente aumenta a gravidade dele. E aí ele muda a posição dele nessa lista da Central Nacional de Transplante. Assim como que com o passar do tempo é óbvio, a idade do paciente. Então pacientes mais idosos, eles também vão ficando mais para trás na fila do transplante e assim por diante. Daí depende da idade do doador, por exemplo. Porque também tem essa questão de ser idade compatível. Vamos supor, um coração de uma criança de 8 anos, ele não pode ser doado para um adulto, vamos supor de 100 quilos, 90 quilos e que tenha 1 metro e 90, entendeu? Então tudo isso tem toda essa variabilidade que é... cada caso é um caso, então a gente não tem como definir esse tempo, porque é muito relativo. E o primeiro passo depende do doador, quem é o doador, qual idade dele. Ele é compatível com quem, entendeu? 

Leiagora - Em relação ao procedimento em si, por exemplo, você falou que o Hospital São Mateus também vai começar a realizar transplante de rins. Esse procedimento, o transplante em si, é feito pelo SUS? Como funciona essa questão dentro de um hospital particular?

Por isso que o Ministério da Saúde é quem credencia. Por quê? Esse hospital, apesar dele ser um hospital privado, ele vai receber pelo Ministério da Saúde, pela tabela de procedimentos já definidos pelo Ministério da Saúde e que tanto a equipe quanto o hospital aceitam pelo SUS para a realização desse procedimento.

E não é só isso, todo paciente, vamos supor que, fizer um transplante renal lá dentro do São Mateus, a partir desse momento, toda e qualquer intercorrência ou qualquer necessidade de internação desse indivíduo vai ser feito lá dentro do São Mateus pelo SUS. Por quê? Imagina que um paciente com um transplante renal teve uma fratura, caiu em casa e fraturou a perna. Aí ele foi num hospital que é um hospital ‘x’ e lá o médico esqueceu de perguntar se ele já fez algum transplante e o paciente também esquece de falar que fez transplante e aí dá uma medicação anti-inflamatória que compromete esse rim que ele recebeu. Então, você põe em risco e o paciente vai perder de novo o rim por ter usado um medicamento inadequado. Então, toda a assistência desse indivíduo passa a ser por essa instituição e todas essas assistências são feitas e pagas pelo SUS, pelo Ministério da Saúde. 

Leiagora - Então até mesmo a equipe que vai realizar o procedimento de transplante que vai fazer a cirurgia no caso também é uma equipe que foi testada e qualificada que já é do hospital ou é uma equipe cedida pelo SUS?

Não, é uma equipe do hospital que foi qualificada e credenciada também pelo Ministério da Saúde. O Ministério credenciar o hospital e a equipe que vai prestar assistência. 

Leiagora - Um exemplo que a gente tem visto atualmente que tem ganhado muita repercussão é o caso do Faustão. Ele tem alto poder aquisitivo, então ele conseguiu fazer a cirurgia, por exemplo, em um hospital que é credenciado. Então por isso foi possível?

É, exatamente. Ainda que ele estivesse dentro de um hospital privado, que era o Albert Einstein, esse hospital é credenciado pelo Ministério da Saúde para a realização de vários tipos de transplante. Vários tipos, né? E aí, tudo que ele fez antes do transplante foi pago pelo plano de convênio dele ou pelo particular, né? Ele que arcou com todo custo, ok? Mas a partir do momento que ele atua no procedimento do transplante, tudo que aconteceu para frente é o Ministério da Saúde quem paga e é o mesmo valor para qualquer outro paciente que tenha feito transplante lá dentro do Einstein, aqui dentro do São Mateus ou dentro do SUS por exemplo, lá da USP, da UNIFESP e assim por diante.

Leiagora - Já que a gente entrou nesse mérito da questão do Faustão, houve uma polêmica, muita gente tem questionado a rapidez com que ele conseguiu esse transplante. Eu queria que a senhora explicasse, como é feito esse procedimento, o porquê que a gente tem que confiar nesse sistema.

É porque a questão é que, por exemplo, aqui em Mato Grosso, agora, desse ano de 2023, nós realizamos, nós disponibilizamos, por exemplo, 14 rins, 7 fígados, um pulmão e 126 córneas. Então, nós estamos dentro de um estado onde o nosso nível de aceitação das famílias em doar órgãos é muito baixo. Apesar de que, se a gente comparar, por exemplo, com 2018 - 2020 não vou nem falar porque era pandemia - em 2019, a gente não teve nenhuma oferta de órgãos, nenhuma família aqui dentro do Estado aceitou doar órgãos.

São Paulo, Pará e o Rio Grande do Sul, por exemplo, são estados que tradicionalmente têm uma alta aceitação doação de órgãos. Então, qualquer paciente que precisa receber órgãos e estiver nesses estados, a oferta de órgãos dentro desse estado é imensamente maior do que a nossa.

Tem essa questão, lembra que eu falei, aqui dentro, se eu tiver um rim e vamos imaginar que o São Mateus esteja realizando a cirurgia. Esse rim vai ser disponibilizado primeiro para todos os pacientes daqui de Mato Grosso. Então se eu estou internada dentro de um hospital em São Paulo, no Rio Grande do Sul ou no Paraná, e se eu estiver dentro de um hospital que realiza o transplante, então o que vai acontecer? Eu tenho prioridade pela gravidade. Esse estado tem uma oferta muito grande de órgãos porque os familiares aceitam muito mais, a taxa de aceitação de doação de órgãos é bastante alta, é muito mais alta do que a nossa, por exemplo, aqui em Mato Grosso, e a disponibilização é primeiro para esses indivíduos.

Tanto é que a gente viu que só naquela semana não foi só o Faustão, 10 pessoas receberam transplante cardíaco, é mais do que um por dia, não é? Então a chance de você conseguir, tanto doar órgãos quanto receber o órgão é muito maior, né? Então essa é uma das questões que tem que ser analisada.

O primeiro ponto que eu acho é a questão da aceitação familiar quanto à doação de órgãos. Isso é extremamente importante. Porque se a gente for olhar aqui em Mato Grosso, por exemplo, toda semana nós temos no mínimo três a quatro protocolos de morte encefálica acontecendo no estado. Então se a gente fizer uma análise bem rudimentar, tem no mínimo 15 potenciais doadores de órgãos todo mês. Só que qual é a nossa taxa de aceitação das famílias em doar órgãos? É muito baixo, né? É muito baixo. Então as famílias normalmente aqui em Mato Grosso, elas não discutem com seus familiares em relação à doação de órgãos e aí naquele momento de dor, naquele momento de perda de um parente, de um familiar que você ama, as pessoas não se sentem à vontade para fazer a doação. 

Leiagora - Então, na verdade, seria necessário primeiro uma campanha de conscientização sobre a importância da doação de órgãos. E em segundo plano também uma ampliação dos centros de transplantes para que a população mato-grossense fosse beneficiada de uma forma maior. Com mais pessoas doando órgãos e com mais centros capacitados para fazer transplantes, nós daqui não iríamos concorrer com todo o país. É isso? 

Exatamente. Por isso que a gente, especialmente em setembro, que a gente faz o Setembro Verde, que é um mês de conscientização de doação de órgãos. Mas além disso, a gente otimiza para que durante todo o ano a gente fala sobre a doação de órgãos, orienta para que as famílias conversem entre si sobre, ‘olha, eu gostaria de doar meus órgãos, se for preciso, se for no momento que for necessário, eu quero que meus órgãos sejam doados’. Porque essa conversa faz com que o pai, a mãe, o filho, esse parente que naquele momento precisa decidir, ele se lembre dessa informação, dessa conversa e ressignifique aquele momento de dor, para um momento que não seja só de dor, mas que também seja de vida para várias outras pessoas, várias outras famílias. Acho que isso é importante. 

Leiagora - Só essa conversa com os familiares basta ou a pessoa pode ter algum documento, declarando que ela é doadora de órgãos?

Ela até pode ter documento, mas a decisão é da família. Se esse indivíduo deixar por escrito que ele é doador e tudo mais, mas se a família não autorizar, a gente não judicializa, a gente respeita a decisão da família. 

Leiagora - Então não há nenhum tipo de cadastro para que a pessoa possa se declarar já doador?

Existe para a doação de medula óssea, por exemplo, mas aí eu posso doar, qualquer um de nós pode doar medula óssea em vida. Então, tem um cadastro doação de medula óssea, sim, e aí você se inscreve, você colhe sangue e aí se tiver algum paciente que precisando de doação de medula você já se prontificou. Mas nesse caso de órgãos, né? Fígado, rim, pâncreas, pulmão, córnea, aí é a família quem precisa autorizar a doação.
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