Novembro Azul: prevenção e tratamento não afetam masculinidade, reforça médico
O diretor clínico do HCanMT explica que estar atento aos sinais e procurar ajuda o quanto antes podem evitar problemas urinários e até mesmo a morte nos casos avançados da doença
Logo após o Outubro Rosa vem o Novembro Azul, campanha voltada aos cuidados com a saúde masculina, que por muitas vezes é deixada de lado. A preocupação dos homens e o cuidado com o próprio corpo são abandonados por questões como medo, autocura, receio do diagnóstico médico, masculinidade frágil e, o principal, a negativa em se submeter aos exames preventivos.
Para entender a importância de se prevenir e buscar por um acompanhamento médico, não só nos casos de câncer de próstata como nos demais, é preciso associar a doença aos números.
Uma estimativa feita pelo governo federal aponta que Mato Grosso vai diagnosticar mais de 8 mil novos casos de câncer anualmente, até 2025, contabilizando mais de 26 mil incidências. Desse valor 57,70% corresponde ao câncer de próstata, que é o segundo mais comum entre os homens, ficando atrás apenas do câncer de pele.
Outro levantamento feito pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) também demonstrou, por meio do Atlas da Mortalidade, a previsão de aproximadamente 15 mil por ano por conta da doença.
Para falar sobre o assunto e reforçar aos homens que a prevenção e o tratamento do câncer de próstata não afetam a masculinidade ou virilidade, a entrevista desta semana é com Rafael Sodré, cirurgião oncológico e diretor técnico do Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCanMT).
Leiagora - Como a campanha Novembro Azul tem impactado na prevenção e no tratamento do câncer de próstata?
Rafael Sodré - A campanha tem desempenhado um papel fundamental na conscientização, encorajando os homens a fazerem exames regulares e a procurarem orientação médica para a prevenção e tratamento precoce do câncer de próstata. Essa campanha tem ajudado a reduzir o estigma em torno dos exames e promovido a importância da saúde masculina.
Leiagora - Quais são os sinais e sintomas que os homens devem estar atentos em relação à doença?
Rafael Sodré - Os sinais e sintomas do câncer de próstata podem incluir dificuldade para urinar, presença de sangue na urina ou sêmen, dor óssea, entre outros. É essencial que os homens estejam atentos a qualquer alteração na saúde e, ao detectarem esses sinais, procurem orientação médica.
Leiagora - Existem fatores de risco que podem aumentar as chances do homem desenvolver o câncer?
Rafael Sodré - Existem sim, fatores como idade avançada, histórico familiar da doença e etnia podem aumentar as chances de desenvolver câncer de próstata. Além disso, hábitos de vida, como dieta pouco saudável e sedentarismo, também estão associados ao aumento do risco.
A relutância em buscar ajuda médica e o estigma associado a questões de saúde masculina são desafios a serem superados
Leiagora - Diante disso, qual é a importância da detecção precoce e prevenção?
Rafael Sodré - A detecção precoce é crucial, uma vez que as chances de sucesso no tratamento são maiores quando o câncer é identificado em estágios iniciais. A prevenção, por meio de exames regulares e adoção de um estilo de vida saudável, desempenha um papel significativo na redução do impacto do câncer de próstata.
Leiagora - O câncer de próstata pode alterar ou causar distúrbios no organismo masculino e como isso pode levar a morte?
Rafael Sodré - O câncer de próstata pode causar problemas urinários, disfunção erétil, dor e, em estágios avançados, pode se espalhar para outros órgãos, ameaçando a vida do indivíduo. O tratamento precoce é fundamental para evitar complicações graves.
Leiagora - Dentre as alterações, têm algum relacionado a fertilidade, se sim, pode explicar porque isso acontece?
Rafael Sodré - O câncer de próstata pode influenciar a fertilidade masculina devido aos tratamentos como radioterapia, quimioterapia ou cirurgia, que podem danificar os tecidos reprodutivos. A redução na produção de esperma ou danos ao processo de ejaculação são possíveis efeitos colaterais dos tratamentos.
Leiagora - Quais as principais barreiras que os homens ainda enfrentam ao buscar atendimento médico e fazer exames de rastreamento para evitar a doença?
Rafael Sodré - Algumas barreiras que os homens enfrentam incluem o medo do diagnóstico, o desconforto relacionado aos exames físicos e a falta de conscientização sobre a importância da saúde preventiva. A relutância em buscar ajuda médica e o estigma associado a questões de saúde masculina são desafios a serem superados.
Leiagora - Para aqueles que pensam em procurar ajuda, mas ainda possuem receio por conta do tratamento, como ele funciona, doutor? Quais são as chances de recuperação e quais os impactos da falta desse tratamento?
Rafael Sodré - O tratamento para o câncer de próstata pode variar, desde observação ativa (quando o câncer é de crescimento lento e não requer intervenção imediata), cirurgia, radioterapia, terapia hormonal ou quimioterapia. O sucesso do tratamento depende do estágio do câncer no momento do diagnóstico. A falta de tratamento adequado pode levar a complicações graves e impactar negativamente a qualidade de vida, podendo até resultar em morte.
Leiagora - Em relação ao preconceito que muitos homens têm em fazer o preventivo, você acredita que isso tem mudado nos últimos anos ou ainda é um tabu para o público masculino?
Rafael Sodré - Há uma mudança gradual na percepção dos homens em relação aos exames preventivos. A discussão aberta sobre saúde masculina tem contribuído para a redução do estigma, mas ainda persistem barreiras culturais e de percepção. A conscientização contínua é essencial para mudar essa realidade e encorajar os homens a priorizarem sua saúde.
Leiagora - Qual mensagem o senhor deixa para os homens?
Rafael Sodré - A mensagem crucial para os homens é que a realização do exame preventivo não afeta a masculinidade. É vital entender que cuidar da saúde não diminui a virilidade. Realizar exames preventivos é uma atitude de responsabilidade e cuidado consigo mesmo e com aqueles que amam. A detecção precoce do câncer de próstata pode salvar vidas. Encorajo todos os homens a priorizarem sua saúde e a superarem o estigma em torno dos exames preventivos, buscando ajuda de especialistas sem medo. A saúde é uma parte essencial da masculinidade, não algo que a diminui.
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