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Notícias / Literatura

12/09/2021 às 17:14

Dica de livro: 'Chão Batido' traz para a poesia cuiabana a ancestralidade da mulher negra

A obra de Juçara Naccioli abençoa e pede bênçãos às mulheres fortes do passado, reconhecendo as mãos de quem escreve o presente

Priscila Mendes

Dica de livro: 'Chão Batido' traz para a poesia cuiabana a ancestralidade da mulher negra

Foto: Priscila Mendes - Entretê

Um livro de poesia feminina negra cuiabana. Que honra as ancestrais. Que reconhece a importância das que vieram antes para ser quem se é hoje. ‘Chão Batido’, de Juçara Naccioli, chegou para marcar o “pretuguês” - como nomeia Lélia Gonzalez - e ensinar, como faz uma griô, a potência do povo preto.

A autora registrou, ao Entretê, que o primeiro livro de sua carreira literária tem o objetivo de “recuperar a nossa ancestralidade e também as forças de resistência no campo da religiosidade brasileira, das questões que envolvem o feminismo negro e tudo o que envolve ancestralidade”. A obra é um convite também a combater o preconceito linguístico, que se trata da inferiorização de outras pessoas, por não falarem conforme a língua portuguesa formal, uma manifestação do elitismo.

A obra é ainda um encontro de mulheres negras fortes. O prefácio foi escrito por Cristiane Sobral, escritora, atriz e professora, carioca, atualmente morando e atuando em Brasília. A orelha, redigida pela mato-grossense Silviane Ramos Lopes da Silva, mestra em História e doutora em Sociologia, também poetisa e professora, encerra com um “a bênção!”, também honrando as mãos construtoras de uma sociedade antirracista. “‘Chão Batido’ banha, benze e cura aqueles que se assentarem sobre esse solo de riquezas incomuns, pouco vistas na literatura”, registra trecho da orelha.

‘Chão Batido’ abençoa, mas, principalmente, pede bênção. Nasceu das “lembranças de minhas ancestrais familiares e das inúmeras cozinhas pelas quais passei, sentei para escutar as muitas prosas das vidas vividas”, registra Juçara. “O cenário é a cozinha e quintal de minha amada bisavó Mãíta. As receitas e mandingas são de escutas de anos na cozinha de minha mãe de santo Ana Maria, as comidas eram como me recepcionavam minhas avós materna e paterna”, contextualiza.

Nas linhas escritas em “pretuguês”, há memórias de redes na sala, bonecas de pano e casas de muito amor e ‘chão batido’.

As poesias homenageiam a bisavó de Juçara, as avós, mãe, irmã da madrinha, tia avó… “mulheres fortes e de infinita sabedoria como todas as mulheres que muito viveram neste mundo, sobretudo nos interiores e sertões do Brasil”, registra a autora, que as chama de griôs - indivíduos de África com o compromisso de preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos do seu povo.

O livro foi publicado pela editora Cálida, com recursos da Lei Aldir Blanc, mediante seleção da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (Secel/MT), e pode ser adquirido diretamente com a autora, pelo telefone (65) 9 9222-9263.

Sobre a autora

Juçara Naccioli é formada em Letras - Língua Portuguesa/Literatura e especialista em Teoria e Prática da Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Atua como professora, atriz, poeta e contista. É membro co-fundadora do Coletivo Literário Maria Taquara; membro do Coletivo Audiovisual Negro Quariterê e membro do Coletivo Parágrafo Cerrado. ‘Chão batido’ é o primeiro livro publicado.

Leia um trecho do poema ‘Benzeção’:

intão…
pa esse tipo de benzição
vamo usá arruda
água benta
simente de mamão
seca não
fresca e recém tirada da fruta
si secá a simente e arruda
nóis já sabe que rumo tomá
intão vamo lá
trabaiá
pa bacuro alivantá

secô…

tô falano pa suncê
tem que cuidá
cadê a fita incarnada no bracim
que nega falô pa botá?
tem que sê na mão certa
sinão num vai adiantá
(...)

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