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Notícias / Patrimônio

08/04/2022 às 17:30

Patrimônio histórico de Cuiabá conta riqueza de várias fases da cidade

O Entretê fez uma série de reportagens para marcar os 303 anos da capital de Mato Grosso

Priscila Mendes

Patrimônio histórico de Cuiabá conta riqueza de várias fases da cidade

Foto: Iphan

Há variadas formas de contar a história de Cuiabá, em todas elas, há um transbordamento de cultura, de memórias, de lugares, de pessoas. E o Entretê apresenta, a partir desta sexta-feira (8), uma série de reportagens para marcar os 303 anos da capital mato-grossense.

Nesta reportagem, um olhar para o patrimônio histórico de Cuiabá, tão rico, que torna a tarefa de seleção quase impossível, diante de valorosos prédios públicos, ocupações particulares, igrejas e nova configuração dos espaços. Mas foram selecionados alguns exemplos, todos com algum dado curioso. Confira:

Centro histórico de Cuiabá

Cuiabá sofreu muitas transformações no intervalo dos primeiros pouco mais de 100 anos. A atual capital de Mato Grosso foi fundada em razão da mineração que, apesar de intensa, durou apenas de 1722 a 1730. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a cidade (ou formação urbana) se formou às margens do córrego da Prainha, na região da Igreja do Bom Jesus do Cuiabá. Em 1727, o Arraial do Cuiabá ou "Minas Novas" recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá.



Anos depois, o crescimento se deu pelo Largo da Matriz, região da Igreja Matriz. A então Vila de Cuiabá cresceu muito e passou a ter população superior à Vila Bela da Santíssima Trindade. De 1807 a 1821, foram construídos a Santa Casa de Misericórdia e o Campo d'Ourique, em torno do qual foram construídas casas. Em 1818, Cuiabá foi elevada à categoria de cidade e, em 1835, passou a ser a Capital da Província. Após a Guerra do Paraguai, com a abertura do rio Paraguai à navegação, o espaço urbano ganhou novo dinamismo, com equipamentos de ferro, jardins com chafarizes e coretos.

1º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso e Sesc Arsenal



O 1º Batalhão da Polícia Militar de Mato Grosso (1ºBPM), prédio branco e azul na avenida XV de novembro, foi criado para abrigar a PM e mantém a função quase dois séculos depois. A unidade histórica da corporação foi criada pelo mesmo decreto que criou o corpo policial à época chamado de Homens do Mato (decreto-lei nº 3/1835, de autoria dos deputados provincianos), segundo a Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel/MT).

Anos depois, os Homens do Mato passaram a ser chamados Polícia Militar de Mato Grosso e o prédio, a unidade mais antiga da corporação. A fachada do 1º BPM é composta de tijolos maciços assentados com agregados miúdos do tipo argiloso, revestimento com argamassa de cimento, portão de ferro e telhas são de barro.

A poucos metros dali, está o tão conhecido Sesc Arsenal, inaugurado em 1832, como Arsenal de Guerra da Capitania de Mato Grosso, construído no estilo da arquitetura neoclássica franco-lusitana. Em 1920, passou a abrigar o 16º Batalhão de Caçadores, criado em 1867 com o nome de 21º Batalhão de Infantaria, mas que foi transferido para Corumbá entre 1869 e 1920.

Muitos sabem das histórias do espaço transformado em casa cultural pelo Sistema Fecomércio em 2001, inclusive pelo uso de balas de canhão no chão e o grande processo de ressignificação.

Mas poucos sabem da “lenda urbana” que liga os dois prédios das forças de segurança. Aliás, segundo a sabedoria popular, um túnel ligava o 1º Batalhão da PM ao Arsenal de Guerra.

No entanto, a coordenadora de patrimônio cultural da Secel/MT, Maria Bárbara Guimarães, pesquisadora de patrimônio histórico, informou que não há evidências disso. “É muito comum esse tipo de história de túneis, mas não há comprovação”, resumiu.

Seminário da Conceição - Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho



O Seminário da Conceição é um dos principais prédios do patrimônio histórico de Mato Grosso. Foi construído em 1858 e é localizado na região conhecida como colina do Bom Despacho. O prédio de arquitetura colonial, à base de paredões de adobe, vigas de aroeira e divisórias de pau-a-pique, já foi Educandário, enfermaria durante a epidemia de varíola, em 1867, e, em 1906, foi Quartel General na luta entre os partidos políticos. Já abrigou, ainda, o Instituto Histórico e Centro de Letras, durante a gestão de Dom Aquino Correia. O prédio também foi sede da rádio Difusora Bom Jesus. Depois do tombamento enquanto patrimônio histórico estadual, em 1977, passou a abrigar o Museu de Arte Sacra de Mato Grosso (MAS/MT), em 1980.

Muitos se lembram da Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho, construída em 1918, ao lado do Seminário da Conceição, conhecida especialmente pelo estilo arquitetônico inspirado na Notre Dame de Paris.



Mas o destaque do Entretê é para tesouros do Museu de Arte Sacra: quatro retábulos dos séculos 18 e 19, remanescentes da antiga Catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, demolida em 25 de setembro de 1968. Retábulos são geralmente peças de madeira ou mármore, que ficam por trás ou acima das mesas dos altares e que são construídos por diferentes materiais e estilos artísticos.

Segundo o MAS/MT, a antiga Catedral dispunha de cinco altares esculpidos em madeira, sendo dois laterais, dois colaterais e um central. Dos cinco, apenas quatro sobreviveram ao tempo e puderam ser remontados. Os altares possuem 8 metros de altura por 4 metros de comprimento e as peças trazem aspectos individuais que são autoportantes podendo ser encaixadas e desencaixadas no conjunto de forma que desenha e compõem os retábulos.

Os objetos sagrados foram tombados pelo Iphan em 2011 como patrimônio nacional.

Museu da Caixa D’Água Velha

Com capacidade para armazenar 1,2 milhão de litros, a caixa d´água foi construída no século XIX, no ponto mais alto da região onde a cidade crescia. Inaugurada em novembro de 1882, na gestão do Coronel José Maria de Alencastro, durante 142 anos foi a responsável pelo abastecimento daquela Cuiabá, que contava então com pouco mais de 20 mil habitantes.

A água, captada pela Hidráulica do Porto, por máquina à vapor, diretamente do rio Cuiabá, era distribuída por canos de ferro fundido e, aproveitando a gravidade, chegava às bicas espalhadas pela área central da cidade, das quais eram carregadas em tambores por carroças e charretes ou em baldes, nos ombros de homens ou nas cabeças de mulheres, que, muitas vezes, faziam desse trabalho seu ganha pão, segundo registro da Prefeitura de Cuiabá. O crescimento da população exigiu outras alternativas de abastecimento e a velha caixa d´água foi desativada em 1940.

Por 65 anos seu espaço serviu a outras finalidades. Abrigou a estação de transmissão da Rádio A Voz D’Oeste, em seguida, foi local de ensaios do Bloco e depois Escola de Samba Beleza Pura.

No ano de 1991, foi elevada a Patrimônio Cultural da cidade. Em setembro de 2007, foi revitalizada e entregue como o Museu Manoel do Espírito Santo “Rei da Água”, conhecido como Museu Morro da Caixa D´água Velha, abrigando, desde então, diversas exposições e variados eventos.

As duas galerias subterrâneas mostram, em suas paredes, aspectos das antigas técnicas de construção, que usavam pedra canga e cristal, e argamassa sem cimento, com areia lavada e cal virgem, construindo paredes com mais de meio metro de largura.
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4 comentários

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  • Amaury Dantas 01/12/2023 às 00:00

    Sensacional todo esse legado artístico e histórico da capital de Mato Grosso. Sou artista plástico e estou montando um projeto de prospecção de todo o casario, sobrados e prédios públicos que fizeram história de Cuiabá.

  • Lúcio Caetano 14/02/2023 às 00:00

    Senti ainda mais vontade conhecer cada lugar pessoalmente, poder ser transportado para outros tempos é fantástico, estou escrevendo um livro de época e escolhe o recorte de tempo justamente no período do Brasil império aqui em MT, agradeço dela reportagem foi de grande ajuda para minha pesquisa.

  • Vilma Campos da Silva 21/08/2022 às 00:00

    É muito bom conhecer um pouco sobre a história de Cuiabá, seus casarões e do centro histórico em si. Gostaria de saber um pouco sobre o tombamento do prédio do Centro Espírita Cuiabá que também faz parte da história e da transformação de Cuiabá.

  • Maria Lúcia Periotto 08/04/2022 às 00:00

    Muito bom conhecer a história da linda Cuiabá. Aprendi a amar essa cidade

 
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