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Notícias / Entrevista da Semana

04/07/2021 às 08:00

Comandante-Geral dos Bombeiros revela desafios de combate às queimadas em 2021

Em entrevista ao Leiagora, Alessandro Borges conta que proprietários rurais estão sendo treinados para que tenham seus sistemas de prevenção e de combate a incêndios

Luzia Araújo

Comandante-Geral dos Bombeiros revela desafios de combate às queimadas em 2021

Foto: Leiagora

Em 2020, Mato Grosso foi palco de uma verdadeira tragédia ambiental: as queimadas no Pantanal. Só no último ano, pesquisadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam a perda de pelo menos 23 mil km² consumidos pelo fogo. O número da área afetada é 10 vezes maior que o território queimado entre 2000 e 2018, quando 2,1 mil km² a área foram devastadas no Pantanal.

Comandante-Geral, o Coronel Bombeiro Militar Alessandro Borges Ferreira conversa com o Leiagora sobre os desafios do combate às queimadas este ano.

Confira a entrevista abaixo:

Leiagora: O que muda em Mato Grosso com a chegada do período proibitivo de queimadas?

Alessandro Borges: A partir do dia 1º de julho não tem mais nenhuma autorização para queimada. Este período proibitivo foi antecipado, geralmente era de 15 de julho a 15 de setembro, e pelas questões climáticas, o Governo do Estado antecipou para 1º de julho e vai até final de outubro. Nele, o Estado não autoriza nenhum tipo de queima.

Até então, existiam as queimadas autorizadas, mas a partir de agora não existe nenhuma, todas serão ilegais. Este é o aspecto que muda para que tenhamos um controle maior das queimadas, para evitar um grande número de incêndios e aqueles que tiverem facilite o nosso combate. 

 
Leiagora: Na última semana, o Governo do Estado lançou operação de reforço no combate aos incêndios florestais, como vai ser a atuação do Corpo de Bombeiros neste trabalho?

Alessandro Borges: O Governo do Estado lançou a temporada 2021 de combate aos incêndios florestais e também a intensificação das fiscalizações do desmatamento ilegal. É um trabalho integrado do Estado com seus órgãos, dando início a ação de resposta.

Nós já temos uma ação durante os 12 meses do ano. No início do ano fazemos o trabalho de prevenção, fiscalização e de preparação, qualificando os nossos militares, para dar a resposta necessária neste período. Depois vem o período de responsabilização.

Então, na quinta-feira (1º) foi o lançamento da operação, com a entrega de veículos para nós e para Secretaria de Meio Ambiente (Sema), sendo 40 para o combate aos incêndios e 40 para fiscalização. Eles contam com o “kit combat”, que é um equipamento que tem um reservatório de água, para fazer a intervenção em um pequeno foco de incêndio.

Além disso, teremos 78 municípios com unidades presenciais do Corpo de Bombeiros, mas para atender as 141 cidades do Estado. Também teremos um comando único em Cuiabá, que vai monitorar todo o Estado, 24 horas por dia, via satélite, e vai acionar as regionais descentralizadas, se necessário. 

Leiagora: Foram criadas novas unidades para este período?

Alessandro Borges: Duas unidades, em Poconé e Santo Antônio de Leverger, para ficar mais próximas do Pantanal. Elas ficarão lá o ano todo, com atendimento de ocorrência na área urbana e rural. Neste período, reforçaremos o efetivo para ter um trabalho intenso na região.

No ano passado foi noticiado o que aconteceu no Pantanal, com quase 40% dele queimado, mas 60% preservado. Foi um trabalho muito forte das forças de segurança, que evitou que se perdesse todo ele. Aagora, temos duas unidades muito próximas do Pantanal, fazendo o trabalho preventivo, junto com a  comunidade.

Já treinamos mais de 300 pantaneiros para que eles evitem colocar o fogo, mas se ocorrer para que eles façam o combate imediato. Atualmente, temos mais de 150 mil propriedades rurais em Mato Grosso. Estamos treinando os proprietários para que eles também tenham seus sistemas de prevenção e de combate a incêndios, para dar resposta imediata em caso de incêndio, mas se precisar de uma reposta mais forte, os bombeiros vão lá para atuar de forma mais especializada. 

Leiagora: A atuação do Corpo de Bombeiros começa antes da operação com o trabalho preventivo. Como ele foi realizado?

Alessandro Borges: Temos os agentes da Sema fiscalizando o desmatamento ilegal e equipes do Corpo de Bombeiros em várias operações, junto com a Polícia Militar Ambiental, prevenindo o desmatamento e queimadas ilegais. Já aplicamos mais de 25 milhões de multas em atividades ilícitas na área ambiental.

Além disso, conversamos com os proprietários rurais para que eles saibam como utilizar as técnicas do fogo. Agora vamos atuar para inibir as ações ilegais e vamos punir quem fizer alguma coisa errada,  mas esperamos que não chegue a este ponto.

Leiagora: Existe a previsão de Mato Grosso enfrentar uma das maiores secas da história, quais são os principais desafios do Corpo de Bombeiros nesta situação?

Alessandro Borges: O Governo do Estado já está atento a esta questão, tanto que antecipou o período proibitivo de queimadas e aumentou o prazo de finalização, podendo ser até prorrogado, se assim as condições climáticas continuarem.

Além disso, começamos ações estruturantes que foram a criação de unidades e compra de equipamentos. Fizemos também os treinamentos dos pantaneiros e daqueles que trabalham nas áreas rurais, bem como a distribuição de abafadores para eles. Firmamos parceria com o sistema prisional e as empresas do setor rural como: Famato e Aprosoja.

Então, é um trabalho no qual todo mundo está participando, porque todos querem a preservação. Este já tem dado resultado. Este ano choveu pouco e mesmo assim estamos com uma média no estado de 20% de redução de foco de calor e no Pantanal 80%. Agora vamos intensificar ações e a presença para reduzir as ocorrências nesta área. 

Leiagora: Em 2020, Mato Grosso registrou um grande desastre com os incêndios de grandes proporções, principalmente. Como está sendo feito o mapeamento de pontos estratégicos para evitar situações semelhantes?

Alessandro Borges:
A nossa expectativa é sempre evitar. Existem vários fatores, não só da natureza, mas também da sociedade. Além disso, o nosso Estado é, eminentemente, agrícola. Então, o fogo sempre existiu aqui e vai continuar existindo. O que queremos é que ele esteja dentro de um patamar que não traga prejuízo ao meio ambiente e a qualidade de vida do cidadão. 

Ano passado foi um ano atípico para todo mundo, não só em Mato Grosso. Essa situação aconteceu no Brasil como um todo. Nos Estados Unidos teve um grande desastre na Califórnia. Então, a questão climática pesou no mundo todo.

Foi feito um mapeamento, no ano passado, e estamos incrementando as ações para fazer ainda mais este ano. Mais de mil militares do Exército foram treinados pelo Estado e estarão à disposição da operação, com aeronaves. Além disso, o governo investiu R$ 73 milhões nas operações de incêndios florestais e desmatamento.

Eu gosto de colocar de parâmetro os Estados Unidos e  a Europa, porque são locais que tem muito mais recursos e também sofreram com os incêndios
, mas deram resposta e nós também estamos dando a nossa reposta, porque poderia ter sido muito pior no Pantanal, mas foi feito de tudo para preservá-lo e muito do que foi atingido, já se regenerou. 

Leiagora: Como orientar os produtores sobre a prática de queima controlada e como foi a capacitação de colaboradores/funcionários das propriedades, já que são eles - na prática - que fazem o combate?

Alessandro Borges: Os sindicatos rurais estão trabalhando muito forte neste sentido. Eles utilizam o canal de comunicação deles, encaminham informativos, com mensagens do Corpo de Bombeiros, orientando quais são as práticas. A  preocupação é tão grande, que este período da colheita de milho, que coincide com o período de seca, nós passamos informações para os proprietários sobre o melhor horário para fazer o trabalho, para não ocorrer incêndios acidentais.  

Além disso, também fizemos o treinamento no Pantanal e com os pilotos agrícolas. Agora, fechamos a parceria com a Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar),
 para o treinamento do brigadista rural, para dar uma primeira resposta nas situações de fogo.  

Leiagora: Mesmo diante de todo este trabalho, a corporação continuará com efetivo para atender as ocorrências rotineiras no Estado e por que é importante ter uma rede de comunicação e acionamento? Como isso é feito na pratica?

Alessandro Borges: Hoje temos uma central de comando na Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), que tem todos os equipamentos mais modernos possíveis, temos as regionais que se comunicam com sua área operacional e temos o nosso grupo que fica em Cuiabá, monitorando o Estado, através de satélite, para verificar onde está ocorrendo focos de calor e incêndios, para designar uma equipe mais próxima. Com este georeferenciamento, a Sema consegue visualizar o momento exato que esta ocorrendo desmatando e colocando fogo em alguma área.

Chegamos em um nível muito avançado de comunicação, acionamento e monitoramento. Fora que continuamos atendendo todas as ocorrências rotineiras, que em um ano chega a mais 122 mil atendimentos. 
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