Cuiabá, sexta-feira, 10/05/2024
17:05:53
informe o texto

Notícias / Entrevista da Semana

15/08/2021 às 08:20

Paccola afirma ser independente, mas cita responsabilidade de prefeito

Apesar de novato na Câmara de Cuiabá, ele já integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Medicamentos

Kamila Arruda

Paccola afirma ser independente, mas cita responsabilidade de prefeito

Foto: Arte: Leiagora

Vereador de primeiro mandato, o tenente-coronel Marcos Paccola (Cidadania) se classifica como parlamentar independente, e não descarta a possibilidade de vir a disputar a eleição para deputado estadual de 2022.
 
Apesar de novato na Câmara de Cuiabá, ele já integra a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Medicamentos, e tenta emplacar um novo procedimento investigatório na Casa de Leis para investigar a questão trazida à tona através da Operação Curare.
 
Em entrevista ao Leiagora, ele afirmou ser clara a participação do prefeito Emanuel Pinheiro em todos os esquemas que foram desbaratados no municípios por meio de operações policiais.

Leia abaixo a entrevista na íntegra:
 
Leiagora - O senhor está há menos de um ano no mandato. Qual a avaliação faz até agora?
 
Avaliação continua sendo um aprendizado. Acho que tudo na vida é uma construção do domínio do saber, que é a assimilação do conhecimento e a prática do conhecimento adquirido, e a correção de atitudes, que vão transformar a gente em um profissional de excelência. Esse é o caminho percorrido em qualquer atividade que você queira fazer. Então, eu vejo que esse processo está sendo iniciado, ainda estou na fase de assimilação de conhecimento e ao mesmo tento adquirindo experiência.
 
Meu panorama atual é que eu continuo nesse processo ainda. Fazendo um paralelo ao nosso desenvolvimento humano, eu estou naquela fase do neném que sai da posição de sentado para começar a engatinhar, para depois pensar em ficar em pé. Então, eu tenho muita tranquilidade e humildade de reconhecer que é um processo que está muito no começo e precisa de tempo para amadurecer.
 
 
Leiagora - O que levou o senhor a buscar a política?

De fato, foram as circunstâncias da própria atividade da polícia militar. Eu fiquei algum tempo trabalhando no Bope, que para mim foi um momento de ápice profissional. Minha carreia na polícia foi muito precoce, eu entrei com 16 anos como primeiro colocado no vestibular da UFMT, na época para o CFO. Então, eu sai aspirante com 19 anos e com 21 anos eu já estava no Bope, e fiquei lá por 10 anos. Acabou que eu fiquei naquela bolha, e quando eu saí, fiquei próximo de uma depressão, porque não me via fazendo outra coisa e foi um momento traumático, porque isso aconteceu na prévia da Copa do Mundo, e eu não aceitei algumas situações que estavam sendo colocadas.

Nesse momento eu percebi que as decisões políticas dominavam a técnica. Então, acabei indo trabalhar na inteligência, conheci os bastidores da Copa do Mundo na área de inteligência, mas posteriormente fui trabalhar no CIRA, e pegamos algumas ações de combate a corrupção que envolvia JBS, Silval Barbosa, Eder Moraes e vários outros. Alí eu percebi que nos 10 anos que eu estava no Bope a gente combatia crimes violentos, mas não combatia a causa. Tudo isso tinha como causa e origem esses desmandos e a política feita de maneira nociva. Isso fez eu me interessar por política, buscar conhecimento, fazer cursos, e percebi que era necessário mudar o nível da guerra.
 
Eu classifico a guerra hoje em quatro níveis em termos de sociedade. Nós temos uma guerra no nível físico, que é essa que a gente sente mais raiva, poque a gente sente mais um cara que rouba seu celular e sua carteira, do que um governador que desvia milhões. Aí nós temos um segundo nível que é a guerra no campo político, que eu também vejo que é só um outro nível e serve como se fosse filtro, que minimiza ou maximiza os efeitos que a gente sente lá embaixo. É uma pirâmide que vem em efeito cascata.
 
Depois disso nós temos uma questão ideológica e cultural. A influência cultural do "rouba, mas faz". E a ideologia a gente fala sobre o centro de informação, da própria comunicação, que faz com que influência.
 
 
Leiagora - Qual a maior dificuldade que o senhor tem enfrentado na política?
 
A maior dificuldade que eu tenho é de não compreender a forma diferente de fazer política da forma que a gente faz. Em especial pela necessidade de fazer alianças e acordos, devendo muita gente, seja financeiramente ou emocionalmente, como promessas de cargos. Então, a gente percebe que muita gente às vezes gostaria de fazer mais para a população, mas se sente amarrado, por conta de represálias.
 
Eu respeito, faz parte, mas a maior dificuldade que eu tenho é de compreender isso. É relação de causa e efeito, porque não tem como você ter um poder independente se tem pessoas que dependem de cargos e acomodações.
 
Leiagora - Qual o seu posicionamento na Câmara de Cuiabá?
 
Independente. Eu acho que nenhum parlamentar pode se colocar em uma posição diferente disso. Eu até não gosto quando falam vereadores da oposição, e me colocam no meio, porque eu não deixei nunca de votar em algum projeto. Eu acho que oposição lembra muito a questão de resistência, mas voltado para esquerda. Eu sou oposição a tudo que for errado, independente de quem faça. Então, se você é situação, você apoia coisas erradas, e se você é oposição, tem coisas certas, mas você vai criticar porque é oposição. Então, a razão de existir poderes independentes é você ser independente, essa posição que eu fico.
 
Leiagora - O senhor fica no meio da sua bancada, tendo em vista que o Diego Guimarães (Cidadania) é oposição ferrenha à atual gestão municipal, e o Rodrigo Arruda e Sá (Cidadabi) já integra a base governista. Como vê essa situação?
 
Eu não vejo dificuldade alguma. Cada vereador que está no mandato tem que ser respeitado, porque passou por um processo eleitoral que tinha mais de 700 candidatos, foi escolhido e não cabe a mim julgar. Tenho respeito aos vereadores do meu partido, e isso é exatamente igual ao respeito que eu tenho pelos outros vereadores. A disputa é feita por todos, e se a população escolheu, cabe a mim respeitar, independente da posição que eles tiveram. 
 
Leiagora - Qual avaliação que o senhor faz sobre a gestão do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB)?
 
A avaliação que eu faço é que a gestão naquela relação de causa e efeito, vem de um desgaste muito grande desde lá atrás, de quando ele era deputado e logo quando ele assumiu a prefeitura veio a questão do vídeo do paletó. Eu vejo a necessidade que ele tem de mostrar serviço diante de todo esses desmandos e escândalos ao longo da sua vida pública, faz com que ele não tenha outra opção. Então, esse é o aspecto positivo da coisa. O que ainda dá uma sobrevida a ele é ele fazer o máximo que ele puder. 
 
Agora, a situação dele é complicada. Se você pegar o Plano Plurianual, por exemplo, está assinado por todos os sete secretários que foram afastados, que foram alvo de operações que ocorreram, e ainda vão ocorrer.
 
Então, quem tem dúvida de que ele tem prática corrupta? Ninguém tem dúvida disso, que foi escandalizado pelo efeito do paletó. E no efeito cascata, também é difícil acreditar que quem ele chame para a gestão não tenha essa mesma prática. Eu não acredito hoje que a gente tenha qualquer secretaria que atue sem atos de corrupção. Acho que ainda não tem investigação bem feita nas secretarias, mas a minha visão como cidadão, não existe nenhuma secretaria do município não tenha um esquema de corrupção acontecendo.
 
Leiagora - Uma avaliação da gestão do governador Mauro Mendes (DEM).
 
Eu, como servidor público, tenho o mesmo descontentamento do público de servidores. Vejo que o governador oscila nos discursos e práticas, por isso não faço uma avaliação positiva, e torço para que a população entenda que seja necessário um novo nome.
 
Logicamente, se perguntarem pra mim quem eu escolho entre o pior e o menos pior, eu fico com o menos pior, falando entre Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro. Até agora, não estou falando que ele não tenha práticas de corrupção, mas ele não foi ainda escandalizado, exposto em nenhuma investigação como aconteceu com o prefeito. Então, se perguntarem pra mim entre Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro, eu votaria com dor no coração no governador Mauro Mendes, mas não que eu tenha apreço ou que ele tenha feito um trabalho admirável. Ele tem muito o que melhorar, em especial no respeito com os servidores e com o setor produtivo. Ele conseguiu desrespeitar o setor do agro, o setor do comércio e do varejo, com uma série de taxações, com ações de fechamento de acesso a créditos para pequenos e médios empreendedores, setor de evento, bares e restaurantes.
 
Então, eu vejo que não vai ser fácil, mas talvez ele possa ganhar por falta de opção. Se ficar nesse duelo de Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro, eu tenho certeza que ele vai ganhar, mas eu acredito que uma terceira via possa surgir até 2022.
 
Leiagora – O grupo de oposição e os vereadores independentes estão sofrendo dificuldades em emplacar ações na Câmara de Cuiabá. A que o senhor atribui isso?
 
Eu atribuo à falta de consciência da população na hora de escolher os seus representantes. Não tem outro motivo, pois se eles estão aqui a população avalizou a vinda deles, já sabendo como eles atuam. 
 
No segundo turno das eleições, quando o Abílio ganhou o primeiro turno e estava desenhado para que ele ganhasse, a maioria dos vereadores exceto aqueles que já eram do núcleo duro do Emanuel Pinheiro, estavam apoiando Abílio, porque na mente deles eles já sabiam que iam precisar da gestão.
 
Isso demonstra a dependência desses vereadores com relação a ser próximo do Executivo, seja para fazer corretagem de serviços, que é uma das coisas que eu fico admirado na Câmara, pois tem vereadores que se contentam em ser presidente de bairro melhorado. Um vereador custa R$ 70 mil por mês, fora os custos da Casa, e aí a gente ficar fazendo o que um presidente de bairro pode fazer?
 
Então, eu realmente acho que é culpa da população que não consegue compreender a real função de um vereador que é a questão legislativa e a fiscalização do Executivo.
 
Leiagora – O senhor propôs na semana passada a abertura de mais uma CPI na Câmara de Cuiabá. O que, de fato, pretende investigar?
 
Essa nova CPI proposta tem por interesse e objetivo apurar a existência de uma organização criminosa dentro da Secretaria de Saúde. Essa afirmação não é do tenente coronel Paccola, essa informação vem de duas instituições que têm razão de existir, que são a Polícia Civil e Federal, que abordaram duas questões, uma relacionada a medicamentos e outra a questão de UTI.
 
Então, não pode Câmara Municipal ficar inerte, no sentido de apurar para saber se existe mesmo, e se essa organização é real e até onde vão os tentáculos dessa organização criminosa. É difícil acreditar que não esteja rodeado, uma vez que a gente teve trocas de secretários, escândalos atras de escândalos, e você vê saindo o Celio, que era diretor da Empresa Cuiabana, onde talvez seja o maior antro de corrupção do município, aí ele assume a secretaria, e é afastado.

A Operação Curare mostrou a existência de um mesmo grupo econômico envolvido, pega um médico que é coordenador das empresas e o coloca como diretor da Empresa Cuiabana. Eu acho que já está havendo uma confusão do que é publico e do que é privado na Secretaria de Saúde. Eu não consigo hoje olhar e não acreditar que não esteja enraizado dentro do Alencastro.
 
Leiagora – Já tem assinaturas o suficiente para emplacar?
 
Eu acredito que até a semana que vem a gente já tenha as assinaturas. Vários vereadores já se colocaram à disposição. Os vereadores da oposição já se colocaram à disposição, mas eu não quero deixar nenhuma oportunidade para que vereadores mal-intencionados coloquem a faca no pescoço do prefeito.
 
Então, eu tenho os cinco da oposição e tenho outros que já garantiram que vão assinar. Só que eu não posso pegar as assinaturas agora, porque expõe eles que são vereadores da base, e isso vai fazer com que comece aquele jogo entre eles, e isso não é minha intenção. Eu não estou aqui para fazer esse tipo de politicagem. Eu quero que a base converse e que eles venham todos de uma vez.
 
Então, já tenho bem desenhado as assinaturas. Hoje, temos sete vereadores que se comprometeram em assinar a CPI.
 
 
Leiagora – Apesar de todos os escândalos e operações no município que têm se arrastado ao longo das duas gestões do prefeito Emanuel Pinheiro, não chegaram a ele. O senhor acredita na participação do chefe do Executivo Municipal? 
 
Com certeza absoluta, não tenho a menor dúvida que é só uma questão de tempo, e eu tenho certeza absoluta que ele sabe disso também. Então, por esse motivo ele busca, pensa no Governo do Estado, porque o foro privilegiado aumenta ainda mais. 
 
Eu vejo que por isso ele sangra muito com relação aos vereadores. Ele precisa da Câmara Municipal, porque muito rápido vai ter um afastamento dele, e a população precisa compreender isso, para pressionar os vereadores, até porque o vereador não precisa do prefeito, precisa da população. Se ele quiser continuar ser vereador, ele precisa ter a população do lado dele e não o prefeito.
 
 
Leiagora - O senhor é integrante da CPI dos Medicamentos. O que já foi apurado até agora?
 
Apurado que houve um direcionamento de licitação e uma contratação desnecessária, um gasto que, inicialmente, era de R$ 21 milhões, depois passou para R$ 19,2 milhões, e fechou e aditivado em R$ 9 milhões. Esse gasto eu tenho certeza absoluta que foi desnecessário com relação a essa empresa que atua no CDMIC. Nós tínhamos uma auditoria que identificada menos de R$ 200 mil de prejuízo antes da contratação da empresa, e depois da contratação da empresa ultrapassa os R$ 12 milhões de medicações vencidas. Não é só culpa da empresa, logicamente, existe um esquema.
 
Essa CPI dos Medicamentos, de maneira metafórica, é como a figura do ice-berging, onde os medicamentos vencidos foram a ponta, que expôs crimes e conformidades, crimes e danos ao erário, e posteriormente na aquisição de medicamentos superestimados, superfaturamento, outras compras, que mostram que este esquema acontece do nível mais alto, ao nível mais baixo.
 
 
Leiagora - O senhor tem pretenções políticas para 2022?
 
Figuro como pré-candidato a deputado estadual por uma questão óbvia de estar disponível para o partido, e principalmente não deixar que a equipe e eu entremos na zona de conforto. A partir do momento que você é eleito, que você vem de um pleito eleitoral, existe a tendência de você vir para a zona de conforto. Inclusive, agora, a gente percebe alguns deputados dando um gás para poder vir para a reeleição. E quando eu falo para a minha equipe que nos temos que estar aptos para ser candidato em 2022, eu me coloco na situação de entregar quatro anos em dois, porque eu fiz um contrato com a população de quatro anos.
Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.


 

0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do site. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet