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Notícias / Entrevista da Semana

30/01/2022 às 08:26

Delegado afirma que a polícia tem o controle das facções criminosas em MT

Titular do GCCO ainda comentou sobre a relação do garimpo que culminou na ação da facção Cangaço, roubando bancos em Nova Bandeirantes

Débora Siqueira

Delegado afirma que a polícia tem o controle das facções criminosas em MT

Foto: Leiagora

Com a responsabilidade de não permitir a entrada de novas facções criminosas e evitar o crescimento do Comando Vermelho e do PCC em Mato Grosso. Aliás, o delegado Vitor Hugo, titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) não nomina as organizações e nem o nome de seus líderes para não dar publicidade aos criminosos.
 
Com 15 anos na Polícia Civil, com passagens pelo interior, ele teve o primeiro contato com as organizações criminosas na Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (Derfva) e percebeu que esta modalidade de crime era a forma de financiar os grupos para trocar os veículos pela cocaína boliviana.
 
Por meio da Operação Ares Vermelho, ele constatou que a responsabilidade e a grande maioria desses roubos são das facções. No GCCO tem a missão de combater o crescimento e a perda do controle pelo Estado.
 
Leiagora – No Nordeste existem várias facções como na Bahia, em Pernambuco. No Rio de Janeiro existem as facções e as milícias. A região Norte, além do PCC do Comando Vermelho, tem a Família do Norte e outras facções locais. Aqui em Mato Grosso só tem duas, uma maior, o Comando Vermelho e uma menor, que seria o PCC. Por que em Mato Grosso não houve a entrada de mais grupos criminosos organizados? A Polícia é quem tem o controle da situação?
 
Vitor Hugo – Com certeza, aqui nós que temos o domínio. Quando eu falo nós, falo da segurança pública, a Polícia Militar no trabalho de realizar a prevenção, num trabalho ostensivo e vem fazendo esse trabalho com maestria. Infelizmente alguns crimes acontecem, é impossível impedir toda prática delituosa. Quando o crime acontece, a Polícia Civil faz a investigação, repressão e vem fazendo também um belíssimo trabalho, não só a Gerência de Combate ao Crime Organizado, mas também as unidades do interior combatendo com rigor, identificando autoria, realizando grandes operações, apreendendo objetos, valores e também está fazendo um trabalho diferenciado, que é a repressão na lavagem de dinheiro que é o fundamental para combater efetivamente essas facções.
 
Leiagora – Por que o senhor acha que em Mato Grosso não chegou a situação dos outros estados?
 
Vitor Hugo – Apesar do ponto estratégico principalmente relacionado ao crime de tráfico de drogas, eu acredito que é em razão desse trabalho diferenciado das forças de segurança. Nós temos aqui um trabalho feito de forma integrada, com várias ações feita com a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal. Recentemente a força-tarefa, a FICO, fez um excelente trabalho no combate à lavagem de dinheiro. As forças de segurança aqui eles trabalham de forma interagindo e integrada nessa repressão e com operações constantes. Nós temos a gerência de combate ao crime organizado, ela tem atribuição, mas não é exclusiva, é concorrente. As unidades do interior vêm fazendo um excelente trabalho impedindo o crescimento dessas facções.
 
Leiagora – Recentemente a gente viu uma série de assassinatos em Sinop de membros do PCC que estavam entrando lá na cidade e membros do Comando Vermelho mataram os criminosos do grupo rival. No final de semana passada, em Cáceres, teria uma festa denominada baile do Chefinho, e circulou vídeo mandando recado para que as pessoas não fossem porque seriam mortas, por fim, atearam fogo em um veículo. O senhor acha que o PCC está querendo mostrar força e disputar território com a outra facção? A Polícia conseguiu identificar isso?
 
Vitor Hugo - Existe um acompanhamento permanente relacionado a esse avanço das facções criminosas e estamos atentos. Vou dar um exemplo nessa de Cáceres. Imediatamente tivemos essa união de esforços, e então, com equipes da GCCO, da Gerência de Operações Especiais, da Polícia Militar, Polícia Federal, Exército, fizemos um trabalho com a Delegacia Regional onde 12 pessoas foram presas, drogas apreendidas, munições, arma de fogo. Isso que é o trabalho diferenciado. Eu estive recentemente num encontro de unidades que fazem a repressão ao crime organizado e tem estados com mais de dez facções e uma disputa de território na busca do espaço para a comercialização de entorpecentes. As forças de segurança em Mato Grosso, interagindo, conversando, fazendo trabalho integrado aliado a inteligência impede o avanço dessas facções aqui no nosso estado.
 
Leiagora – Por que as polícias, de forma geral, não falam os nomes das facções. Nomear fortalece?
 
Vitor Hugo – A publicidade dessas facções, a questão da de você divulgar as lideranças, isso dá fama a esses criminosos e isso é prejudicial para que a gente consiga avançar de forma sigilosa e com êxito nas investigações e nas prisões e prejudica na apuração dos fatos.
 
Leiagora - Qual que é o impacto do sistema penitenciário no combate ao crime organizado extramuros dos presídios?
 
Vitor Hugo – É fato e qualquer estudo, pesquisa que você faça relacionada a origem das facções criminosas atuantes aqui no Brasil, principalmente as duas principais, elas nasceram dentro do sistema prisional. Lá no Rio de Janeiro, no presídio de Ilha Grande, quando juntaram presos os políticos com os grandes criminosos do estado. Na oportunidade, o roubo a banco era o crime principal. Lá elaboraram estatutos, uma estratégia para a prática de crime e acabou criando e fortalecendo uma das principais facções criminosas do país. Assim como foi também em São Paulo. Após aquela rebelião que ficou conhecida como massacre do Carandiru. Depois disso, os presos se uniram e criaram o estatuto em razão da facilidade que se tinha ou tem alguns casos da comunicação, essa ociosidade e reunindo criminosos no mesmo local, acaba criando essas facções e sustentando. Nossa grande preocupação é impedir a comunicação deles lá, ordenando crimes a pratica de crimes aqui fora. Fizemos apreensão de drones, buscas e apreensões em residências próximas, apreensões de celulares com visitas. Fizemos a Operação Bereu, através de uma carta que apreendemos e identificamos um esquema com ordens e regras, um estatuto do crime. Então esse trabalho que nós temos que fazer, que o preso cumpra a pena e não tenha essa comunicação, principalmente emanando ordens para fora, ordenando e orquestrando crimes, como a gente infelizmente presencia em alguns lugares.
 
Leiagora – No mês de janeiro houve uma série de fugas nos meses de dezembro e janeiro no sistema penitenciário. Qual o impacto disso nas investigações sobre o crime organizado?

Vitor Hugo - Com certeza. Nós tivemos a fuga de algumas pessoas que praticaram crimes graves, criminosos que são integrantes de organizações criminosas e isso nos preocupa. Então nós temos aí também mesmo não estando não tendo a responsabilidade e atribuição para apuração. Mas nós estamos auxiliando as forças de segurança para a captura dos presos.
 
Leiagora – A PCE vai receber um raio de segurança máxima com 56 vagas. O senhor acha que isso vai ter efeito sobre o crime?
 
Vitor Hugo – O caminho é esse de isolar, principalmente a liderança, quem são as pessoas com voz ativa, ela tem que se isolada, para termos sucesso aqui fora para ter índices melhores na segurança pública.
 
 
Leiagora – O GCCO além de investigar crimes envolvendo facções criminosas ainda tem a competência de investigar o roubo a banco, roubo de agrotóxico, roubo de carga. Quais esses crimes são os mais problemáticos e de difícil resolução?
 
Vitor Hugo – O combate ao crime organizado, que é uma das atribuições, é um trabalho contínuo, a gente faz sempre acompanhando a evolução, para que as facções não evoluam e também que não tenha a chegada de outros grupos disputando o território, é um trabalho permanente do GCCO. Os demais crimes citados eles são cíclicos né? Eles têm uma fase dependendo da época. A questão da produção agrícola, tem os roubos de defensivos porque esse material está sendo distribuído nas propriedades onde precisa fazer o uso. Então depende a fase do ano. Com banco também.  Tivemos temos fases de calmaria, tem outras fases final de ano, por exemplo, aumentam os casos de roubos e furtos. Assim como de carga também. Estamos num estado que é um grande produtor do agronegócio temos então depende da fase do ano a incidência é maior de um crime ou de outro.
 
Leiagora – Esses crimes foram todos praticados pela por facções ou tem quadrilhas especializadas de forma independente?
 
Vitor Hugo – Esses crimes em razão das suas peculiaridades geralmente são praticados por organizações criminosas, porque tem que ter uma estrutura para roubar um banco. Já tivemos casos de aventureiros indo para tentar furtar, mas geralmente, a grande maioria, são praticados por organizações criminosas em razão da estrutura para prática do crime. Não é qualquer pessoa que tem as ferramentas para furtar, subtrair um caixa eletrônico, um cofre e armamento para praticar o roubo. Assim é com o defensivo, existe toda uma estrutura de cargas, uma engenharia onde vai guardar, quem vai receptar. Geralmente as de cargas e defensivos já tem um receptador, às vezes é um crime até encomendado, então de forma conexa é um crime praticado por uma organização criminosa.
 
Leiagora – O senhor percebeu se houve um aumento no crime de roubos e furtos de agrotóxico, pois houve um aumento no valor dos defensivos e isso favoreceu com que roubassem mais também?
 

Vitor Hugo – O que nós percebemos o ano passado não teve um aumento grande. O que nós percebemos até a questão da pandemia, parece que teve uma problemática na chegada desses insumos pela China, pelos portos. De forma geral houve um reflexo disso no aumento dos produtos falsificados. Alguns insumos falsificados, alguns aqui no Estado mesmo, outros falsificados em outros estados e até mesmo contrabandeados. Nós fizemos várias ações em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal de apreensões de produtos vindo do Paraguai. Eu sou produtor e preciso aplicar e meu produto não chegou, então, infelizmente eles estavam buscando alternativas ilegais, porque isso é crime de contrabando de falsificação e a gente notou isso sim o ano passado.
 
Leiagora – Um dos grandes casos do GCCO foi do Novo Cangaço contra duas cooperativas em Nova Bandeirantes. Como foi esse trabalho?
 

Vitor Hugo – Foi um crime que chamou uma atenção e foi cometido por uma facção criminosa denominada Cangaço, lá do Nordeste. São cangaceiros, eles têm uma hierarquia. Nós tivemos uma interação muito grande com a Polícia de Pernambuco já que grande parte veio de lá, com antecedentes criminais, com mandado de prisão em aberto. A função era praticar crimes violentos, bando armado, atear fogo em entrada e saída.
 
Leiagora – Por que eles saíram lá do Nordeste do Brasil para cometer crime no Noroeste de Mato Grosso?
 
Vitor Hugo – A gente procurou essa resposta nas investigações e o que descobrimos que aquela região em função dos garimpos né, naquela região tinha mão de obra e veio muita gente do Nordeste para lá. Veio gente boa, mas também veio pessoas más e uma delas chamou a atenção de fazer o roubo lá por ser mais isolado e que demoraria para a polícia chegar. Mas, mais uma vez, a Polícia Militar fez um trabalho excepcional, a Polícia Civil de Mato Grosso em conjunto com a Polícia Civil de Pernambuco, a Politec fez mais de 40 perícias, a Polícia Rodoviária Federal, foi um trabalho em conjunto para reprimir.
 
Leiagora – A Polícia Civil de Pernambuco ficou surpresa com a resposta rápida da força-tarefa em Mato Grosso?
 
Vitor Hugo – Nós recebemos elogios de vários estados. O Bope, Força Tática fez trabalho diferenciado principalmente em região de mata. Em Goiás, teve a fuga de uma pessoa em região de mata e tiveram dificuldade para encontrar. Esse preparo da PM foi fundamental e através das prisões teve avanço grande das investigações. O Bope aqui é referência.  A facção Cangaço tem uns 20 anos que age no Nordeste e tem a hierarquia 01, 02, 03. Conseguimos identificar, prender alguns de hierarquia. Nós prendemos no Pará, Pernambuco, Bahia, ainda tem 3 foragidos e continua parceria para localiza-los. A grande maioria mortos ou presos. Foi um trabalho integrado para chegar até eles. Temos até a localização de onde eles saíram de Petrolina, em Pernambuco, quem veio de ônibus, quem de carro, as praças de pedágio, as casas que alugaram em Alta Floresta para ser ponto de apoio. Pela complexidade, eu considero até rápida.
 
Leiagora – Esse novo concurso público da segurança pública. O senhor acha que vai refletir em aumento da equipe do GCCO?
 
Vitor Hugo – A GCCO já tem concurso em andamento dos delegados e tem um na academia de polícia e vamos receber o quarto delegado. Com isso entendo que será o suficiente, mas estamos precisando de escrivães e investigadores e estamos esperançosos em receber porque há um déficit.
 
Leiagora – Aqui em Mato Grosso os policiais têm o mesmo receio em se identificar como policiais como no Rio de Janeiro e Bahia, por exemplo?
 
Vitor Hugo – Olha eu acredito que o grande diferencial é que as forças de segurança têm um controle da situação, então nós não temos um lugar aqui no estado de Mato Grosso que a força policial não vai entrar. Não existe. Diferente de outros lugares que tem que preparar todo um aparato e às vezes não consegue atingir o seu objetivo, nós temos o controle da situação. Quando as forças de segurança no trabalho constitucional não inibem a prática delituosa, a gente de forma repressiva consegue identificar autoria, então isso demonstra o controle da situação.
 
 
Leiagora – Não há um temor de vingança, principalmente por atacar o patrimônio dos criminosos?
 
Vitor Hugo – Acontece muito pouco aqui. Por isso importante esse trabalho permanente de acompanhamento e quando há uma ameaça, isso tem que ser reprimido com rapidez e celeridade na investigação para manter o controle da situação como é hoje. Como foi em Cáceres, a resposta foi rápida e já prenderam 12, não pode deixar crescer. Uma ameaça e ataques a policiais é uma afronta e precisar ser reprimida. Com uma resposta eficiente, realizando prisões, combatendo a lavagem de dinheiro porque o patrimônio, é o que faz as facções cresçam. Sempre realizar operações, você integrar a organização já é um crime hediondo, por isso gente faz esse mapeamento, de levantamento e de combate. Mas esse é um trabalho em conjunto, com delegacias no interior, as especializadas e não adianta ter esse aparato de investigação se não tiver uma Polícia Militar forte, um Gefron forte na fronteira, uma Polícia Rodoviária forte fazendo operações, aprendendo cargas roubadas, armamento, munição, droga. Todos os atores têm que trabalhar de forma de forma integrada, sem vaidades né.
 
Leiagora – O senhor foi candidato a delegado geral uma vez. O senhor pretende chefiar a Polícia Civil ainda?
 
Vitor Hugo - Eu gosto muito do que eu faço, como delegado na atividade fim. Eu vejo que o doutor Mário vem desempenhando um ótimo trabalho, então eu estou muito satisfeito aqui na GCCO também desenvolvendo esse trabalho na atividade fim, mas eu tenho muito tempo né? Falta muito tempo para eu aposentar ainda.
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