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Notícias / Entrevista da Semana

07/08/2022 às 08:00

Estudo fará mapeamento da população e comportamento das capivaras em Cuiabá

Plano inicial descarta remoção dos animais ou cercar as capivaras nos parques

Denise Soares

A Secretaria de Meio Ambiente de Cuiabá firmou, no final do mês de julho, um termo de cooperação com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de manejo das capivaras.

A pasta adiantou algumas medidas, como: implantação de grades nos equipamentos públicos; projeto de redução de conflitos; elaboração de relatórios técnicos; enumeração de locais de maior risco de acidentes entre os animais e os veículos no perímetro urbano e estudo populacional.
               
O projeto também prevê treinamento de servidores e educação ambiental em escolas e moradores em geral. Não há previsão, nesse primeiro momento, em cercar os animais, removê-los para outras regiões ou até mesmo castrar as capivaras. A proposta é reduzir atropelamento desses animais e criar um ambiente mais seguro para elas e os moradores.
 
Sobre isso, o Leiagora conversou com Viviane Layme. Ela é doutora em ecologia e pesquisadora do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
 
Leia a entrevista na íntegra:
 
Leiagora - Como a universidade planeja trabalhar/colaborar com cada um desses tópicos do projeto?
 
Viviane Layme – Esse termo de cooperação firmado entre a universidade e a prefeitura tem a duração de dois anos. No entanto, esse plano tem sido discutido há bastante tempo e a gente está vendo como seria a viabilidade de efetivação desse trabalho. Em linhas gerais, posso adiantar que essas atividades do plano de trabalho são divididas com resultados em curtíssimo, curto e médio prazo. Em cada uma dessas fases nós teremos atividades específicas. Alguns fazendo levantamento das áreas onde existe maior colisão, onde existe maior risco de colisão, existe uma fase relacionada a um estudo mais aprofundado do tamanho da população e como essa população está distribuída dentro da cidade, como ela está distribuída em diferentes grupos, pois as capivaras são animais sociais. Então, em cada uma das fases a universidade vai estar trabalhando em conjunto com a prefeitura. Em linhas gerais, o objetivo desse trabalho é fazer um diagnóstico do tamanho dessas populações no ambiente urbano. A gente não sabe quantos indivíduos temos e quantos grupos existem na cidade e quais são os padrões de uso do espaço por esses indivíduos. O foco é diminuir os acidentes e as mortes desses animais.
 
Leiagora - Como é possível fazer o controle populacional? Há possibilidade de castrar as capivaras, como já ocorreu em outras cidades brasileiras? Esse estudo oferece algum risco a esses animais?
 
Viviane Layme – Quando a gente fala em diagnóstico, é em termo populacional: qual o tamanho dessas populações. Parte desse estudo e desse diagnóstico das populações é saber quais são as áreas que eles estão utilizando e onde há maior risco de colisão com veículos e discutir conjuntamente medidas para reduzir esse tipo de acidente e impacto com as capivaras. Nosso objetivo em todo o processo é que as capivaras tenham a melhor qualidade de vida nos ambientes e maior segurança para essa espécie no ambiente urbano. Não há possibilidade alguma de fazer a remoção das capivaras do ambiente urbano. E também não há previsão de fazer castração desses animais. A gente ainda vai entender como essa população está crescendo e em qual velocidade.
 
Leiagora - É seguro, para as capivaras, estar em um ambiente urbano? (risco de atropelamentos ou proximidade com as pessoas). Qual seria a solução mais equilibrada?
 
Viviane Layme – É claro que não é seguro para as capivaras estarem em um ambiente urbano. Elas não foram trazidas para a cidade. O que acontece é que a cidade é que vai crescendo entorno das áreas naturais que é onde esses animais habitam. Uma vez que a cidade se estabelece, a capivara, um animal herbívoro, ela acaba conseguindo se adaptar ao ambiente urbano e, é claro, existem os riscos. O maior risco que a gente está vendo são os atropelamentos. Elas vão tentar atravessar as vias em busca de alimento, água e abrigo, principalmente nos períodos mais secos. É aí nesses momentos quando elas fazem a travessia, se tornam extremamente vulneráveis. Outra vulnerabilidade da capivara nos ambientes urbanos é serem atacadas por animais domésticos porque isso não seria totalmente impossível.


 
Leiagora – Como é possível criar ambientes mais seguros?
 
Viviane Layme – Como bióloga e especialista na área, eu fui procurada pela prefeitura e conversei com eles sobre a importância de se pensar em fazer esse tipo de remoção. Você tem que estudar muito bem para que não exista risco nem para os animais envolvidos tampouco para as pessoas envolvidas nesse tipo de trabalho. A conclusão que a gente chegou, junto com o pessoal da prefeitura, é que nosso trabalho inicial será justamente fazer o mapeamento das populações e verificar quais são os locais onde elas estão tendo maior risco de atropelamento e pensar em medidas para mitigar isso. Medidas, seja impedindo que elas atravessem em determinados locais, através de cercas, colocando sonorizadores para que os veículos sejam obrigados a reduzir a velocidade em alguns pontos. Então, o papel da universidade nessa parte é justamente fazer esse levantamento e esses estudos populacionais e comportamentais para poder dar subsídios numéricos e objetivos aos técnicos da prefeitura para que a gente possa sentar e planejar onde serão feitos esses tipos de estruturas. É justamente para não fazer estruturas de maneira deliberada sem planejamento e efetividade. A ideia é ter soluções que sejam viáveis do ponto de vista econômico e que sejam também viáveis do ponto de vista ambiental, que tragam mais segurança para os animais e para os motoristas.
 
Leiagora - Para esclarecer, elas oferecem riscos aos moradores?
 
Viviane Layme – As capivaras têm um comportamento relativamente dócil. Acho que isso é que faz com que elas tenham tanto carisma junto à população, principalmente nos parques. Mesmo sendo dóceis, elas mantêm o comportamento silvestre. Então, como qualquer animal silvestre, se ela se sente ameaçada, acuada ou com filhotes, ela pode tentar se defender.
 
Leiagora - Como especialista, quais orientações de comportamento pode dar aos moradores com relação ao contato com a capivara?
 
Viviane Layme - Como proceder: observe. Aproveite essa chance que você tem de estar em uma cidade que tem capivaras de estudar, observar, mas sem tentar interferir demais na vida e sem tentar se aproximar demais. Mesmo sendo dócil, ela é um bichinho que vai tentar se defender. Se você está caminhando em uma praça, parque e vê a capivara. Se está caminhando com um cachorro, evite passar perto delas, tanto é um risco para os cachorros, quanto para elas. O cachorro vai latir, vai para cima e isso vai aumentar ainda mais o estresse que esses animais estão sofrendo ao ter que dividir o espaço urbano com a gente. Com crianças também. É importante não deixar as crianças se aproximarem demais, porque às vezes as crianças não têm muito esse senso de perigo e de limite, para não justamente fazer isso não assustar a capivara ou fazer com que ela se sinta ameaçada.
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