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Notícias / Entrevista da Semana

30/04/2023 às 08:00

Delegado fala sobre procedimento especializado para combate a roubos e furtos de veículos em Cuiabá e região

Cinco operações com foco em quadrilhas especializadas nesse crime foram deflagradas no 1º trimestre de 2023 em Mato Grosso

Eloany Nascimento

Delegado fala sobre procedimento especializado para combate a roubos e furtos de veículos em Cuiabá e região

Foto: Arte: Leiagora / Foto: Eloany Nascimento

Cinco operações com foco em organizações criminosas especializadas em roubos e furtos de carros, caminhonetes e motocicletas foram deflagradas no primeiro trimestre de 2023 em Mato Grosso. Para combater esses crimes, é realizado um procedimento específico, para que haja uma concentração maior de informações.

A mais recente é a segunda fase da Operação Avalanche, deflagrada na última semana, que tem como alvo um esquema de um grupo de criminosos e empresários que furtam motocicletas na região central de Cuiabá e Várzea Grande.

Além da Avalanche, quatro foram deflagradas só neste ano. São elas: Operação Correção, contra suspeitos de roubo de camionete, mediante emprego de arma de fogo; Operação Terminus, com alvos de facção criminosa de Mato Grosso e Rio de Janeiro, que cometeram roubos e furtos de veículos entre 2020 e 2022; a Operação Kuron, mirando em uma associação criminosa especializada em furtos de camionetes modelo Toyota Hilux na região metropolitana de Cuiabá; e a Engrenagem, contra uma quadrilha envolvida em roubos, extorsão e lavagem de dinheiro.

Quem fala ao Leiagora sobre esse cenário criminoso de roubos e furtos e o combate é o delegado da Delegacia Especializada em Roubos e Furtos de Veículos (Derfva), Gustavo Garcia Francisco.

Leia a entrevista na íntegra.


Leiagora - A delegacia de Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículos tem realizado muitas operações no primeiro trimestre de 2023. Quais foram essas operações e como tem sido esse trabalho?

Gustavo Garcia Francisco - Nós trabalhamos com o seguinte procedimento, todo roubo e furto relacionado a veículos é um ato de uma organização criminosa. Ninguém furta ou rouba um veículo sozinho, então vai ter sempre a participação de terceiros, então a gente trabalha com esse predisposto, ou é uma associação perigosa ou é organização criminosa.

Feito isso, para a gente enfrentar o crime organizado, enfrentar as associações criminosas que estão vinculadas aqui na região metropolitana, nós temos que especializar a investigação e aí nós montamos grupos específicos para determinado caso, então por exemplo, nós hoje temos um grupo que é pronto para atender furtos e roubos de motocicletas, além disso para caminhões, caminhonetes e veículos comuns. Então assim, quando especializo a atividade eu consigo fazer com que haja uma concentração maior de informações e aí eu consigo trazer dados necessários para imputar não só o crime, o ato específico como furto, mas outros que também estão gravitando aos conexos, como adulteração de sinais identificadores, a falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e tudo isso a gente consegue agregar os rumos da investigação.

Leiagora - Como está a situação de roubos e furtos de veículos na capital?

Gustavo Garcia Francisco - Nós analisamos primeira essa questão dos roubos que tem violência, em relação a esses crimes houve uma redução acentuada dos últimos anos, e isso é reflexo das constantes operações que nós deflagramos e em relação a criminalidade relacionadas a furtos alguns casos específicos ocorreram alguns aumentos, como de caminhonete e aí a gente totalmente trata esse caso como prioritário e em relação a motocicleta antes nós tínhamos uma incidência muito maior, mas desde a 1ª fase da Operação Avalanche  a gente pode observar que teve o impacto significativo na redução de furto de motocicletas. Em relação a caminhões , a mesma coisa. Então, a demanda sempre vai existir, o trabalho, as ocorrências vão continuar existindo, porque isso envolve questões sociais, mas a gente dentro do possível vamos tentando sempre atacar os problemas principais em casos que estão incomodando mais a sociedade para dar a resposta na maior brevidade possível.

Leiagora - Dentre as ações, uma nova fase da Operação Avalanche foi deflagrada essa semana, tendo como alvo uma organização criminosa especializada em furtos de motocicletas. Como foi essa ação e qual era o modus operandi desses criminosos? 

Gustavo Garcia Francisco - Primeiramente, havia atuação dos furtadores que escolhiam os veículos e local, e furtam as motocicletas, principalmente em locais onde havia maior oportunidade de cometer o crime, geralmente nas proximidades dos shoppings, das clínicas, dos mercados, da área comercial de Cuiabá e Várzea Grande, que lá ficam estacionadas as motos fora de estacionamento privado, faziam a sua vigilância e observava aquelas que estavam com as melhores condições e que tinham o melhor mercado, faziam suas escolhas e subtraiam com chave micha.

Muitas vezes, tinham apoio de terceiros, inclusive, com um carro para carregar o produto de furto. Após a subtração os criminosos se dirigiam para um local para guardar o veículo e trocar a placa, esperava esfriar a ocorrência e depois começou dar destinação que der o maior rendimento, ou eles vendiam para um desmanche  ou para terceiros praticando o golpe de estelionato por meio das redes sociais, ou aplicativos próprio para  vendas. Já em relação ao desmanche, sempre os mesmo, aqueles que estão na prática de desmanche que estão no mercado há 20 anos, o qual é fundamental para movimentar essa criminalidade corriqueira, sem eles, talvez o sistema não funcionasse da forma que está.

Lá nesses desmanches, eles realizavam toda a distribuição das peças para grandes empresas que estão no mercado a bastante tempo, em outros estados e até mesmo para a Bolívia. Com essa operação nós estamos tentando reprimir toda essa cadeia criminosa, que vai desde o autor do furto, aquele que obtém o lucro com a venda de peças, a comercialização do empresário, então tentamos transitar por todas parcelas e atividades dessas organizações criminosas. 

Leiagora - Os criminosos utilizam várias formas para tirar vantagem da vítima, até mesmo aplicando golpes em plataforma de vendas e compras de veículos. Como funciona esse esquema? 

Gustavo Garcia Francisco - No caso das motocicletas os criminosos utilizam a chave micha, em alguns modelos mais simples não tem muitos mecanismos de proteção e segurança e esse ai é um método bem rudimentar, vira a chave danificando o miolo para conseguir sair com o veículo. 

Em crimes relacionados a caminhonetes é usado um esquema mais sofisticado, usam equipamentos para clonagem, equipamentos para leituras de módulos, aí existe uma força tarefa montada para exatamente esse objetivo, já fizemos a primeira operação, estamos em fase de investigação ainda e vamos dar resposta, nem que seja negativa, porque as vezes não conseguimos pela autoria, infelizmente faz parte de qualquer investigação.   

Já nas plataformas, elas são exatamente utilizadas para realmente praticar golpes de estelionatos e para vendas dos produtos roubados ou furtados. Muitos produtos que são oferecidos na plataforma são roubados e furtados e aí eles entram lá e tem pessoa que interage com esses criminosos, e eles vende esses veículos como se eles estivessem atrasados, com documentação atrasada e aí já deixa bem claro para as vítimas que está vendendo um preço menor por conta dessas condições e isso faz com que a vítima não vá ao Detran fazer a vistoria e nem a transferência da propriedade, e sem isso não tem como saber se o veículo é roubado ou furtado, ele só vai fazer a consulta da placa, ou seja, ela é clonada e tá boa. Isso é um caso muito comum e a gente só vai descobrir se é produto de roubo ou furto se esse veículo cair na blitz, com uma vistoria mais robusta e verificar o chassi.

Existem também outros modos mais simples, que aí as pessoas entram com anúncio do falso negociador, mas aí fica mais a cargo da delegacia de estelionato.

Leiagora - Esse modus operandi e essa cadeia são alimentados, porque tem mercado para isso. Qual a importância de cortar essas ações pela raiz? 

Gustavo Garcia Francisco - É uma questão cultural, né? Primeiro, a gente tem que pedir nota fiscal, segundo, fazer a transferência do veículo seguindo as orientações dos órgãos fiscalizatórios. Só que as pessoas não fazem isso e, enquanto tiver esse mercado fazendo isso, vai acontecer, enquanto as pessoas quiserem levar vantagem, isso vai acontecer, enquanto as vítimas quiserem comprar mercadorias a preço menor do que praticado em geral, vai continuar existindo.

Igual a questão das peças, você vai comprar uma peça no mercado negro, é um valor, na loja que segue todos os trâmites legais, inclusive com recolhimento de impostos, vai pagar outro valor, um pouco mais caro. Só que, no mais barato, você está alimentando o crime e, no outro, está fazendo o que é certo, está fazendo o legal. São escolhas e a sociedade paga pela escolha.

Leiagora - Sabemos que o trabalho no combate não para nunca e que o número de vítima só cresce. Diante disso, quais medidas de prevenção?

Gustavo Garcia Francisco - A orientação é sempre estacionar seguro, buscar mecanismos para diminuir o risco, como equipamentos de segurança, alarme, rastreadores, colocando em locais mais iluminados, não deixando na rua, não deixando a moto exposta há muito tempo em local público. São essas dicas com as quais você pode reduzir o risco, isso não quer dizer que você vai impedir, pode ser que não impeça a ação criminosa, mas vai criar embaraços.

No segundo ponto, após a ocorrência do crime, a gente sempre pede que a vítima atue com a polícia. Vamos tentar identificar, vamos tentar participar da investigação, passar o máximo de informações para o policial e atender o policial bem para que ele possa receber o máximo de investigação possível. Basicamente isso. E eu vejo como medida para enfrentar o crime, né?

Leiagora - Além da prevenção, é muito importante alertar também sobre como identificar golpes e esquemas criminosos de furto e roubo de veículos. A partir de qual sinal, deve-se ficar em alerta?

Gustavo Garcia Francisco - Por exemplo, existe hoje site que você faz a avaliação do valor do seu veículo, chamado tabela Fipe, onde consegue fazer uma avaliação do valor do veículo que você está interessado. E se ele está no valor desproporcional ao do mercado, é necessário ficar mais atento. Mas aí vão argumentar que o [imposto dele] está atrasado... se ele está atrasado com a documentação, ele não tem que ficar transitando, se ele está irregular com o Detran, ele está sem vistoria, com os sinais identificadores adulterados, então, você poderá ser parado em um blitz e ser alvo de investigação, podendo responder pelo crime de receptação culposa ou dolosa. Então, o primeiro passo é tomar essas precauções e fazer a análise da origem do produto que está adquirindo. 

Outra coisa importante é [buscar] nas ferramentas, elas têm canais de comunicação e, como os crimes estão ocorrendo, as vítimas saem desse canal e vão para Whatsapp e, nesse aplicativo que está sendo utilizado para comunicar com a vítima, é um fake e fica mais difícil para rastrear. Então, sempre conversar pelos aplicativos de vendas é o melhor caminho. Esse é um método que representa mais de 70% do mercado, a vendas de veículos se faz a maioria pelas redes sociais ou aplicativos, isso é uma realidade e as pessoas têm que ter cuidado, porque você não está interagindo pessoalmente, está interagindo com a pessoa que você não sabe se é real. 

Depois da negociação tem outro ponto. Geralmente eles fazem um processo de autenticação dos documentos, de cartórios. Exija sempre que a pessoa vá, não assine documento já assinado antes, vai ao cartório com a pessoa, peça identificação dela antes, são cuidados importantes para que você não seja vítima.

Leiagora - Por fim, o que a vítima deve fazer, caso tenha seu veículo furtado ou roubado? Como a população pode contar com a Derfva?

Gustavo Garcia Francisco - Primeiramente, comunicar ao 190, caso seja vítima de roubo ou de furto, porque, imediatamente, já colocam a restrição do veículo e as chances de ter uma prisão em flagrante é muito maior.

O segundo passo é ir a uma delegacia da Polícia Civil fazer o registro, informar se no local tinha câmera para requisitar o quanto antes e, se possível, a pessoa pode mandar ou falar para o responsável do local que vai precisar requisitar as imagens.

Por fim, é confiar no trabalho da polícia. Eu gostaria que a sociedade tivesse a plena consciência que nós atenderemos todos imediatamente, que nenhuma ocorrência é tratada com descuido e que nem sempre a resposta vem em primeiro momento, mas a gente está se esforçando muito para dar a resposta necessária e prender esses criminosos. E a gente conta com apoio e confiança da população.

As medidas que falamos, se todos puderem adotá-las, já facilita o nosso trabalho, vamos ter uma demanda menor e vamos conseguir concentrar nossos trabalhos em casos mais graves.
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