Com mandato de vereadora cassado, Edna Sampaio (PT) usou as redes sociais para anunciar que o suplente que assumiu a vaga, Robinson Cireia, não cumpriu um acordo que teria firmado com ela, ocasionando o cancelamento da agenda de programações previstas para a Semana da Consciência Negra, que teriam início já nesta sexta-feira (17). O comunicado, no entanto, chamou atenção ao ser feito por meio do que Edna intitulou de “nota de escurecimento”.
Conforme Edna, a agenda incluiria sessão solene, feira de religiões de matriz africana, feira de empreendedorismo afro, desfile diversidade negra e a caminhada pela paz e contra o racismo.
“Porém, ao assumir, ele não cumpriu o que havíamos combinado: manter e assumir como tarefa do mandato petista, a III Semana da Consciência Negra”, escreve a parlamentar cassada.
Ainda na nota, ela acrescenta que Robinson Cireia “naturalizou o golpe sofrido” por ela e que ele não compreendeu “a importância do mandato e de nossa pauta antirracista, tampouco, a importância da III Semana da Consciência Negra como um compromisso de um partido que se coloca no campo da esquerda, majoritariamente formado por mulheres e pessoas negras”.
Segundo Edna, não houve vontade, compromisso ou solidariedade para a continuidade dos trabalhos que iniciado desde o começo do ano para colocar em prática a programação para a Semana da Consciência Negra. “Mesmo na esquerda, há pessoas orientadas por uma visão ultrapassada do capitalismo, estacionada na Europa branca e colonizadora do século XIX. Uma visão descolada da realidade de nosso país e do clamor de nosso povo”, dispara a petista.
Mandato cassado
Robinson assumiu o cargo de vereador em 17 de outubro deste ano, após Edna Sampaio ter o mandato cassado por apropriação indébita da verba indenizatória de sua chefe de gabinete.
Conforme a denúncia, feita pelo também vereador Luis Claudio (Republicanos), Edna teria recebido cerca de R$ 20 mil da ex-chefe de gabinete, Laura Natasha, referentes à verba indenizatória paga pela Câmara de Cuiabá aos servidores que ocupam tal cargo. Além disso, a servidora teria sido cobrada pelo marido da vereadora por meio de mensagens por aplicativo.
Edna nega a apropriação indébita e garante que o dinheiro foi todo usado em prol do mandato, e argumenta que tinha o hábito de concentrar as verbas do mandato em uma única conta para facilitar o controle e transparência.
Outro lado
O Leiagora contatou o vereador citado para colher o posicionamento dele, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno. O espaço seguirá aberto para manifestações.
Prezados amigos, queremos prestar contas à população das razões do CANCELAMENTO DA AGENDA DA SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA 2023, que teriam início nesta sexta-feira (17) até 24 de novembro.
Esta agenda incluiria sessão solene, feira de religiões de matriz africana, feira de empreendedorismo afro, desfile diversidade negra e a caminhada pela paz e contra o racismo.(Obs.: o curso “Educação antirracista”, que começou dia 5 de outubro, segue normalmente).
Como sabem, no último dia 11 de outubro de 2023, a Câmara Municipal de Cuiabá cassou nosso mandato como resultado de um processo de perseguição política nunca vista neste Estado a uma política, uma mulher negra.
Ao ser golpeada do mandato por homens e mulheres parlamentares orientados por uma visão racial e de gênero que coloca mulheres negras na condição de inferioridade, de sub-humanidade e, portanto, não portadora de plenos direitos, o suplente da vereadora Edna Sampaio, um homem branco, assumiu o mandato.
Porém, ao assumir, ele não cumpriu o que havíamos combinado: manter e assumir como tarefa do mandato petista, a III Semana da Consciência Negra.
Apesar de todo apoio que tivemos ao longo deste ano, não conseguiremos realizar a III Semana da Consciência Negra, pois, A COOPERAÇÃO DO MANDATO É ESSENCIAL PARA SUA REALIZAÇÃO. Seja pela necessidade de coordenação, de pessoas liberadas para o trabalho, da infra-estrutura ou pelo apoio financeiro A TODAS AS DESPESAS E COMPROMISSOS ASSUMIDOS pelo mandato e, que não poderemos honrar.
Assim, na prática, o suplente e agora, vereador Robinson Cireia, naturalizou o golpe sofrido pelo mandato da vereadora Edna Sampaio, cuja única intenção foi (e ainda é) retirar do mandato e da política a representatividade de uma mulher negra. Não compreendeu o vereador, a importância do mandato e de nossa pauta antirracista, tampouco, a importância da III Semana da Consciência Negra como um compromisso de um partido que se coloca no campo da esquerda, majoritariamente formado por mulheres e pessoas negras que, aliás, deram a 3ª. vitória ao Presidente Lula.
Lamentavelmente, o Sr. Robinson não reconheceu a importância de um mandato petista abraçar e fortalecer, de forma protagonista, a luta antirracista em Cuiabá e em Mato Grosso. Estado e cidade com uma das maiores populações negras do Brasil.
Não houve vontade, compromisso ou solidariedade para a continuidade dos trabalhos que iniciamos desde o começo do ano para fazer desta, a maior Semana da Consciência Negra com envolvimento direto das organizações do povo negro de Cuiabá e outros municípios envolvidos.
Mesmo na esquerda, há pessoas orientadas por uma visão ultrapassada do capitalismo, estacionada na Europa branca e colonizadora do século XIX. Uma visão descolada da realidade de nosso país e do clamor de nosso povo.
Este episódio é bastante ilustrativo da importância da representatividade negra na política. O processo de violência sofrido pela vereadora Edna Sampaio é um ação contra a chegada de mulheres negras, do campo popular nos espaços de poder. Mas, o racismo e a misoginia não poderão evitar nosso avanço. E, expor como essas opressões se manifestam, desnaturalizá-las e denunciá-las, venham de onde vierem, é nossa obrigação como educadores e educadoras antirracistas.
A criminalização da vereadora Edna Sampaio pela Câmara, que resultou num processo de cassação à revelia da lei e, de grande articulação midiática, jamais se viu em relação aos crimes de colarinho branco praticados reiteradamente por agentes políticos brancos e amplamente conhecidos. Essa diferença de tratamento configura por si só a expressão do racismo e do machismo estruturais e institucionais tão presentes na política de Mato Grosso, tristemente.
Somos a Alemanha nos espaços do poder e, nas ruas, SOMOS o continente inteiro de África.
Este episódio de violência nos mostra a importância de pessoas negras na política. O processo vexatório da Câmara de Cuiabá na perseguição e cassação da primeira mulher vereadora que é, não por coincidência, a primeira negra, revela o estágio de nosso desenvolvimento. Temos todo o caminho e luta pela frente, estamos apenas começando, apesar de todos que vieram antes de nós e de nós mesmos.
Agradecemos imensamente servidores demitidos do mandato que continuaram o trabalho de realização do Curso de Educação Antirracista. Única atividade que realizamos e iremos concluir até o final de novembro.
Agradecemos imensamente a todos os nossos parceiros e colaboradores, em especial o IFMT, o UFPR, a UFMT, a Assembleia Social, escolas, professores, estudantes e demais organizações sociais parceiras.
Estamos apenas adiando a III Semana da Consciência Negra, mas a nossa luta continua até que todos sejamos libert@s!
Cuiabá, 14 de novembro de 2023
Assinam:
Edna Sampaio
Dejenana Campos – IFMT/Campus Cel. Otayde Jorge da Silva
da Silva
Carol Meireles - Associação de Pacientes, Apoio Medicinal e Pesquisa de Cannabis Medicinal em Mato Grosso
Priscila Scudder - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi Quilombo)
Joelma Pereira - projeto Periferia Mostra seu talento e sua garra/Movimento Negro Unificado
Fabrício José Celso de Camargo - professor, pesquisador e membro do Grupo de Capoeira Angola Quilombo Angola
Cristina Soares dos Santos - produtora cultural, professora da Escola Estadual Rafael Rueda
Anderson Domingos Silva (Domingos Silva) - professor, cantor e escritor
Jorge Luiz Gonçalves de Queiroz (Libel) - Coletivo Audiovisual Adjodja Filmes
Antonio P. Pacheco - jornalista e escritor
Telma Regina O. Peres - servidora pública aposentada
Márcia Maria do Prado - nutricionista
Epaminondas de Carvalho Filho - historiador
Maria da Glória Prado - do lar
Aparecida Natia Lara Ortega - Professora Aposentada da rede pública em Mato Grosso
Bruna Santos e Lucas Gonçalves - Coletivo Juventude Socialismo em Construção (Jsoco - MT)
Clóvis Arantes - liderança LGBTQIA+, coordenação da Parada da Diversidade de Mato Grosso
Isabel Garcia de Farias - Coordenadora Estadual do Movimento Negro Unificado
Rosana Pereira de Brito - Autoridade tradicional Povo yorubá- CETRAB (Centro de Tradições Afro-brasileiras)
Simone De Siqueira Lemes - Fonoaudiologa
Hélio Fernandes de Lima, Professor de Geografia / SEDUC-MT
Tafnys Hadassa- Bióloga, assistente sindical - ANDES SN
Marcia de Campos, Assistente social Funcionária Pública
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