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Notícias / Entrevista da Semana

26/11/2023 às 08:00

ENTREVISTA DA SEMANA

Entre CST e liderança na AL, Beto prepara novos ‘players’ para eleições de 2024

Em meio à “crise na liderança” e desafio de construir nova lei do incentivo à cultura, deputado trabalha para ampliar grupo político

Jardel P. Arruda

A viola de coxo, o violão e as várias bolas de futebol meticulosamente distribuídos pelo gabinete, combinados ao mural em grafíte do artista Babu Seteoito e quadros de vários artistas plásticos de Mato Grosso deixam a mostra a personalidade e a história do “dono” do gabinete 2018 da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Alberto Machado, o Beto Dois a Um (PSB).

O nome político é herança de como ele se lançou profissionalmente: uma dupla sertaneja. Com o tempo, tornou-se produtor cultural e em 2013 assumiu cargo político de relevo: se tornou secretário municipal de Cultura. De lá para cá, sempre esteve ligado ao grupo político do atual governador Mauro Mendes e em 2022 foi eleito, pela primeira vez, a um cargo público.

Isso não aconteceu sem o apoio da própria classe artística e também de lideranças do segmento do esporte. Agora, ele quer levar parte dessas pessoas que o apoiaram para o campo político e já iniciou um ciclo de preparação para “transformar” artistas e atletas em políticos. 

O projeto é eleger vários deles em 2024 para dar ainda mais força ao segmento. Em contrapartida, é claro, ele aumenta e consolida o próprio grupo político para as eleições de 2026.

Isso, no entanto, é só parte do cenário. Como vice-líder do governo na Assembleia Legislativa, Beto precisa lidar com a “crise” na liderança, causada pelo desgaste da relação do líder Dilmar Dal’Bosco (União) com o governador Mauro Mendes (União), tendo que lidar com a articulação com outros deputados, enquanto tenta tocar os projetos próprios como a contrução do projeto de uma nova lei de incentivo à cultura de Mato Grosso.

Leiagora - Beto, você foi eleito como o deputado da cultura e do esporte. Com quase um ano de mandato, o que nós temos até agora para o setor?

Beto Dois a Um - Nós conseguimos instituir a Câmara Setorial Temática (da Cultura), acho que já foi um grande avanço, uma grande vitória. Essa Câmara vai ser a base,  vai ser o cerne da construção de uma nova lei de incentivo à cultura que eu tenho a ideia de propor aqui na Assembleia Legislativa. Já temos conversado com os nossos pares com os nossos parlamentares sobre isso. 

A Câmara Setorial Temática tem adesão dos parlamentares, todos têm um olhar carinhoso para a cultura, para importância da cultura, para o protagonismo da cultura na construção da sociedade. Então penso que a gente tem avançado muito em relação a isso. 


Leiagora - E como está o andamento da CST da Cultura e a construção da nova lei de incentivo ao setor?

Beto Dois a Um - A Câmara deve ter aproximadamente aí uns cinco meses, seis meses de instalação. Já tivemos várias reuniões. Agora a gente começa a entrar nas reuniões realmente de trabalho, de pautas, já com os grupos de pauta prioritárias definidos para que a gente saia dessa Câmara Setorial Temática com a construção, com os indicativos, com os parâmetros de uma da nova lei de incentivo. Para que a gente consiga consolidar meu grande desejo quando vim para a Assembleia [Legislativa] em relação à cultura e ao esporte, daí a gente pode misturar as pautas, que é um um avanço e permanente, né? Que é uma que a gente tenha perenidade nos avanços que nós construímos.

A gente vive um momento bom com recursos, com incentivo, não só no governo do Estado, mas agora no governo Federal com a retomada do Ministério da Cultura, com a [Lei] Paulo Gustavo, Aldir Blanc 2… Mas são todos programas emergenciais, são todos programas de socorro, e a gente não pode viver de programas de socorro. 

A gente tem que ter uma política pública definida, construída, bem escrita conectada com a realidade. Esse é meu grande lance, que ela seja conectada com a realidade. Não adianta a gente construir uma lei que ela não se conecta com a vida real. Tem muito disso! E eu tenho a obrigação de, como trabalhador da cultura, como produtor cultural, como artista fazer uma lei que se conecte com a realidade e também ter conexão com a com o poder público. Não pode ser desconectado. 

Então eu quero muito que a gente faça uma lei que, independente de quem estiver no governo federal, no governo estadual, que sirva de base para construção dos municípios a nossa lei de incentivo à cultura


Leiagora - Explica o que seria essa nova lei de incentivo da cultura: o que ela abarcaria e o que ela mudaria nesse cenário?  Ela está sendo construída, mas a ideia base já existe, certo?

Beto Dois a Um - Eu gostaria muito de criar uma lei híbrida. Não só com recurso próprio da Fonte 100 (recurso do governo do Estado), mas também com incentivos fiscais, uma adaptação melhorada da Lei Rouanet, da Lei Hermes de Abreu, onde a gente podia captar recurso.

A gente tem uma quantidade de recurso destinado, mas que a gente pudesse não só manter os recursos que hoje nós temos na Secretaria [de Cultura] - nós temos o maior recurso da história da Secretaria nesse momento -, mas além desse recurso, pela Fonte 100, nós teríamos que ter a possibilidade de que os artistas começassem a construir suas relações com iniciativa privada. Que aprovassem seus projetos para estarem autorizados a captar recursos para fazer desconto no imposto, para que eles possam construir projetos maiores. 

Os projetos que nós temos hoje nos editais, eles são projetos acanhados, por mais que sejam históricos, do ponto de vista do passado, mas ainda acanhados para as nossas necessidades. Elas nos levam até um pedaço. Eu entendo que se nós conseguirmos uma lei de incentivo, onde a gente possa fazer isenção de imposto, a troca de imposto pelo recurso na Cultura, a gente consiga ir para um próximo passo do crescimento e da divulgação da nossa cultura para todo o Brasil


Leiagora - E desvincular também os projetos da ótica estatal, não é? Porque, querendo ou não, quando você participa de um edital, tem que seguir aqueles critérios estabelecidos.

Beto Dois a Um - Sim! Porque, querendo ou não, quando você participa de um edital, tem que seguir aqueles critérios estabelecidos, né? Você olha os parâmetros... Por mais que quando eu estive lá, e hoje a Secel mantém isso, nós fizemos audiências públicas para entender as demandas do setor, mas, queira ou não, você parte de uma premissa, de um caminho “por aqui”.

Mas não necessariamente é por ali que aquele determinado artista, aquele determinado segmento deseja seguir. Por mais que a gente tente fazer uma leitura bem profunda da necessidade, sempre vai ter um regramento. É um poder público, dinheiro público, tem que ter critérios, bases, parâmetros para que a gente consiga avançar.

Agora, com esse novo formato, que eu acredito que ele seja importante, a gente vai conseguir ampliar a atuação. Nas próximas reuniões da CST, muito provavelmente nós teremos a presença do secretário de Educação, Alan Porto, secretário de Fazenda, Rogério Gallo, para começar o debate profundo. Falo da secretaria de Educação pra gente interagir com a nossa cultura, com as escolas públicas, e com o Rogério Gallo para parte do financeiro, parte dos impostos pra gente entrar no plano de trabalho mesmo da execução da nova lei. 


Leiagora - Tem uma meta de quando pretende entregar o projeto da nova lei do incentivo à cultura? 

Beto Dois a Um - Não, eu não tenho essa pretensão ainda, porque as câmaras setoriais nunca tiveram tanta adesão como está tendo [a CST da Cultura]. As reuniões são gigantes. São reuniões de três, quatro horas, com muita gente participando. Tivemos três reuniões só de ouvidoria, ouvindo, entendendo, e eu acho que é fundamental. Esperamos tanto tempo, agora que a gente tá tendo a oportunidade de debater, que a gente debata com muita profundidade.

Volto a dizer, eu gostaria muito que nós construíssemos uma lei que dialogue de verdade com a sociedade. Quando eu tava do outro lado da mesa, eu vi muito acontecer isso: essa lei aqui, bacana, lei para cultura, só que a cultura não conseguia fazer o uso. A ideia era boa, mas a construção era precária. Eu não posso ter esse equívoco. Eu não posso me dar o luxo de cometer esse erro. Esse é meu povo, a cultura e o esporte são minha vida. 

Então eu preciso entregar um produto que entregue avanços ao segmento, mas que seja exequível em relação à ótica do poder público. Não adianta eu sonhar com X% do orçamento cravado para cultura  se eu tiver a leitura de que isso não vai se concretizar. Então quero fazer um parâmetro para que a gente tenha avanços e se conecte com a realidade.


Leiagora - Bom, tudo isso está acontecendo aqui na Assembleia Legislativa, essa discussão, porque você está aqui, um deputado que tem essa história toda ligada à cultura e ao esporte. E para o futuro, você está preparando um grupo político ligado à cultura para participar das eleições municipais de 2024?

Beto Dois a Um - Tô. Tô porque essa é uma fala que eu tenho construído desde quando eu era candidato, desde quando eu era secretário no município. A cultura e o esporte sempre tiveram muita vergonha, dificuldade de se manifestar politicamente. E as coisas da política são definidas na política. Se a gente não tivesse um deputado da cultura, do esporte aqui, a cultura e o esporte estariam sendo debatido de uma forma mais acanhada, penso eu. 

A Assembleia, as câmaras municipais, elas são os foros adequados para que a gente discuta as pautas, então quanto mais representantes da cultura e do esporte nós tivermos nas mais variadas esferas do poder público, mais poder de decisão, mais argumentação, mais verdade vai ter nessa discussão. 

Então, eu tenho preparado meu time. Fiz nessa semana um início de uma preparação, eu quero capacitar meu time de uma forma bem bacana, na parte de marketing, na parte jurídica, na parte eleitoral, de contabilidade. Eu quero muito fazer um time, incentivar e inspirar os trabalhadores da cultura do esporte. E não só da cultura e do esporte, aqueles que se sentem preparados e capacitados que querem fazer diferença na vida das pessoas, se apresentem. E quanto mais candidatos na cultura do esporte nós tivermos, mais crescimento no segmento de uma forma geral vamos ter.

Eu fiz uma reunião, recentemente, do Fórum Estadual de Cultura, fazia muitos anos que não ocorria e eu falei dessa importância da gente fortalecer.


Leiagora - E você, inclusive, já trouxe um evento de qualificação política essa semana. Trouxe o Marcelo Vitorino, que referência em marketing político no Brasil...

Beto Dois a Um - Esse é meu jeito de pensar grupo. Eu quero, eu acho importante os atores, os trabalhadores da cultura e do esporte participarem do processo eleitoral. Mas, não só eles: quem esteve comigo. 

Eu fiz uma fala muito clara durante as eleições que aquele era o momento em que eu precisava deles. E eles me acolheram, eles me socorreram. Agora inverteu, agora as próximas eleições são as deles, são as eleições municipais, onde os prefeitos, os vereadores, as lideranças que estiveram comigo vem à reeleição, atores, assessores hoje são candidatos. É o momento de eu dar o suporte. 

Então eu acredito no meu grupo muito próximo, eu acredito na qualificação. Nós trouxemos o Marcelo Vitorino, a Mariana Bonjour que são referência nacional. Essa foi a primeira de muitas reuniões que faremos. Eu fiz uma reunião aqui, fiz questão de locar Cine Teatro, eu queria que fosse num espaço que me trouxe coisas boas, me trouxe uma energia boa, aquela energia do Cine Teatro. Mas eu farei mais reuniões, tanto por regiões quanto por outros temas, outras pautas, a questão da qualificação jurídica, contábil, e mais mais personagens importantes do cenário nacional, do cenário local, também, que tem muita gente boa aqui para falar, 

É para qualificar quem esteve comigo e deseja participar das eleições, para quem quer pensar a política como eu. Não é só uma política por eleição, as pessoas têm que estar bem qualificadas para poder participar do processo eleitoral, então quero oferecer isso ao meu grupo. 

O  Marcelo Vitorino fez uma fala que me deixou muito feliz, que foi a primeira vez na carreira dele que ele viu um deputado fazer isso sem ser no ano eleitoral, para sua própria equipe, eu tô fazendo ao contrário agora é o momento de auxiliá-los. Falei isso na minha fala de abertura, eu quero qualificar meu time para que a gente tenha bons players aí nas eleições, preparados, qualificados, aptos em condição de disputar, para que a gente tenha um número muito maior de trabalhadores da cultura, do esporte, e o meu grupo, quem teve comigo,  qualificado preparado para disputar as eleições.


Leiagora - Normalmente nós vemos partidos organizando esse tipo de eventos.

Beto Dois a Um - Eu não tinha parado para pensar nisso, ele na hora falou eu falei 'pô, é verdade, né partidos fazem né, coligações, nas épocas das eleições', mas eu quero fazer diferente. Eu quero pensar a longo prazo, quero pensar um grupo. As pessoas que estão na minha vida, estão há muito tempo e eu quero que isso continue na política. Eu quero que na minha vida pública eu consiga que meu time, que as pessoas que pensam parecido comigo, que tem as mesmas ideias, os mesmos ideais, estejam preparadas, aptas a ocupar qualquer cargo, a participar de qualquer disputa e dialogar sobre qualquer assunto


Leiagora - Isso também mostra um pouco sobre os seus projetos para futuro também, que sua entrada na política não é planejada para ser uma coisa passageira, mas sim um projeto longo, certo? 

Beto Dois a Um - Eu gosto muito do que eu faço. Deus me deu privilégio de eu poder trabalhar com o que eu gosto. Eu gostava da música, trabalhei na música, na comunicação, sempre trabalhei com o que eu gosto e hoje eu tenho o maior prazer do mundo em trabalhar como deputado. Eu brinco que eu acordo feliz da vida de manhã para vir para cá, então, eu gosto, me sinto produtivo, me sinto útil, sei que estou fazendo diferença na vida das pessoas. 

Ontem eu tava falando com a minha mãe, ontem à noite, 'pô, que legal, num momento de tanto progresso no estado de Mato Grosso, de uma forma ou de outra, todos nós que trabalhamos nesse momento no poder público estamos colaborando com esse crescimento, né?' 

Me sinto privilegiado de poder estar fazendo parte disso, gosto do que eu tô fazendo. Não tenho paixão pelo mandato. Óbvio que desejei muito estar aqui, me preparei para isso, e hoje eu tô aqui graças a 26.446 votos de confiança que tive, mas eu pretendo fazer da melhor maneira possível. 

Quero viver essa experiência de uma forma intensa, forte. Não necessariamente eu preciso estar nesse cargo, talvez. Um grupo político se faz a várias mãos, mas nesse momento eu quero fazer meu mandato da melhor forma possível. E eu entendo que, além das minhas funções legislativas, preparar meu grupo político pro crescimento e para se manter ativo faz parte do meu processo.


Leiagora - Bom, e falando em funções legislativas, logo em eu primeiro ano como deputado você também assumiu a vice-liderança do governo na Assembleia Legislativa, que inclusive passa por um momento de crise. O líder Dilmar Dal’Bosco ficou afastado da ALMT por 45 dias e nesse período você passou a articular pelo governo junto aos deputados. Chegou a ser chamado para ser efetivado como líder?

Beto Dois a Um - Eu quero aproveitar a oportunidade e registrar meu máximo respeito ao Dilmar. Ele vem há muito tempo exercendo essa função, o Dilmar é um dos deputados mais atuantes da Casa, o Dilmar Dal'Bosco é um deputado que estuda, se prepara, exerce a liderança de forma total. Não é aquele cara que usa só liderança midiaticamente. Ele estuda projeto, ele tem um time preparado, ele deixa a coisa mastigada.

E eu me sinto muito feliz em poder estar convivendo com ele como vice-líder, auxiliando ele nas demandas que foram necessárias. Penso que o Dilmar é um cara preparado para a função, tá há muito tempo fazendo um bom trabalho. Não me lembro de um um líder tão longevo assim. Vem exercendo essa liderança de forma muito correta, muito decente, muito responsável. 

É óbvio que é humano, cansa, precisa se reorganizar, se estruturar, Dilmar está muito tempo nessa função. Não imagino hoje um nome mais preparado para para continuar a liderança do que ele. Eu sou muito grato em poder estar ali, ao lado dele, aprendendo diariamente como se faz isso.


Leiagora - Você se sente confortável nessa função? 

Beto Dois a Um - Sim, mas foi uma ação conjunta. O Dilmar sempre esteve lá. A equipe do Dilmar sempre esteve lá. Então não me senti sozinho em nenhum momento. Eu tava ali cumprindo a minha função. A função do vice-líder é essa, auxiliar o líder. Então me senti cumprindo meu papel.
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