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Notícias / Cinema

19/01/2022 às 11:20

Filme aborda as intersecções da imigração negra em Lisboa e em Cuiabá

O curta 'Intersecção – A História de Quem Migra' será lançado na próxima terça, no Cine Teatro Cuiabá

Priscila Mendes

Filme aborda as intersecções da imigração negra em Lisboa e em Cuiabá

Foto: Divulgação

As vivências de migrantes dos países de língua portuguesa no Brasil são diferentes das experiências de brasileiros em Portugal? Quais as dificuldades, quem acolhe, como é viver na pele preta em um país diferente de suas raízes?

Tantas reflexões do diretor Rodrigo Zaiden floresceram no curta "Intersecção – A História de Quem Migra", a ser lançado na próxima terça-feira (25), às 19h, no Cine Teatro Cuiabá. A entrada é 1kg de alimento não perecível e arrecadação será revertida para alguma entidade de imigrantes de Cuiabá, a ser indicada pelo Instituto de Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune).

O projeto do filme foi aprovado pelo edital MT Nascentes, da Secretaria de Estado de Cultura, Esportes e Lazer (Secel/MT), com recursos da Lei Aldir Blanc, e permitiu traçar o paralelo entre Cuiabá - cidade onde vivem moçambicanos, angolanos e outros migrantes falantes da língua portuguesa - e Lisboa - capital do país explorador e colonizador desses, de outros e do Brasil, onde Rodrigo Zaiden realizou um intercâmbio.

Em 2017, Rodrigo Zaiden e o parceiro de roteiro, Aluízio de Azevedo, coletaram algumas imagens, utilizando um celular e uma câmera GO PRO. Com a aprovação do projeto, em 2021, os produtores voltam a campo e realizam gravações em Lisboa e Cuiabá, bem como o processo de edição/finalização.

Partindo de contextos individuais, especialmente em razão das diferenças nos países (e cidades) escolhidos, o filme apresenta situações limítrofes da imigração, percorrendo memórias, identidades e territórios físicos e simbólicos, humanizando um tema tão urgente, que atinge milhões de pessoas.

Surgem histórias como as de Lígia, Marvinda e Ka Codé, em Lisboa; ou de Lídia, Uzak e Silvina em Cuiabá; as relações delas com as mudanças, o processo de adaptação, as relações afetivas e de trabalho, a luta pelos direitos humanos e por cidadania.

Segundo a produção, oobjetivo do filme é amplificar as vozes das pessoas negras em situação de imigração, a fim de chamar a atenção, principalmente, do poder público, responsável por propor soluções e atender as demandas destas comunidades.

Segundo o governo mato-grossense, entre 2010 e 2018, Cuiabá recebeu mais de 3,5 mil haitianos, sem contar os imigrantes ilegais. Em Portugal, os brasileiros representam o maior número de imigrantes, somando mais de 151,3 mil pessoas vivendo legalmente. Só em 2019, 38 mil brasileiros migraram para o país lusitano.

O começo de tudo

Em 2017, Rodrigo Zaiden realizou um intercâmbio em Lisboa, Portugal. No país, experimentou na pele condições e contradições que a imigração traz. De um lado, a exclusão por ser brasileiro e negro. De outro, o afeto e a confiança que recebeu de inúmeras pessoas pretas, principalmente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), que também tentavam nova vida em terras lusitanas.

“Percebi que apesar da diversidade de origem das pessoas com quem estabelecia laços de amizade, como Moçambique, Cabo Verde, Angola, Guiné Bissau e Brasil, todas passavam pelas mesmas situações da imigração, principalmente, por estarmos no país que colonizou os nossos países. Daí que surgiu a ideia de registrar esses diálogos, para que pudéssemos expressar nossas reflexões sobre temas que nos circundavam, mas também a milhões de pessoas, por questões sociais, ambientais ou raciais”, pondera Zaiden.

“Inicialmente, o objetivo era focar apenas em histórias de vida que se cruzavam em Lisboa. Mas quando me mudei para Mato Grosso em 2019, percebi que os problemas da imigração se repetiam em Cuiabá com pessoas negras de Haiti, Moçambique, Venezuela, entre outras. Apesar da diversidade de suas origens, as intersecções ocorrem tanto lá, quanto cá e poderiam vir à tona, complementando o filme e o entendimento artístico sobre o assunto”, pontua Zaiden.

Hibridação

Para realizar a gravação em Portugal e Mato Grosso em 2021, o projeto contou com uma equipe híbrida, composta por profissionais de Mato Grosso, Rio de Janeiro e Minas Gerais, bem como de Lisboa.

“Registramos os modos como a imigração impacta diferentes pessoas de distintas culturas e nações, por um lado e, por outro, como essas pessoas se interseccionam num contexto urbano global de uma nação que não é a sua, produzindo novas formas de viver, identidades e resistências. O mesmo brasileiro que sofre racismo como imigrante em Portugal é o que pratica o preconceito com outros imigrantes em Cuiabá. Este ciclo de exclusão ao outro, ao estrangeiro, precisa ter fim, já que o direito de ir e vir está amplamente expresso em todos os documentos internacionais e na constituição federal de Brasil e de Portugal”, finaliza a codiretora Karen Ferreira.

Ficha Técnica:
Realização: Secel/MT, com recursos da Lei Aldir Blanc
Apresentação: Kaiardon Produções
Direção: Rodrigo Zaiden
Codireção: Karen Ferreira
Produção Executiva: Rauta
Consultoria de roteiro e montagem: Wuldson Marcelo
Roteiro: Rodrigo Zaiden e Aluízio de Azevedo
Montagem: Karen Ferreira e Ju Segóvia
Edição: Ju Segóvia
Produção: Kaiardon Produções
Direção de Fotografia: Maíra Zenun
Operação de Câmera: Leon Augusto e Rodrigo Zaiden
Sonoplastia: Estúdio Selvagem
Trilha Sonora: DJ Black Josie
Colaboração Trilha Sonora: A Luisa Lamar, Sharamandaya, Caio Mattoso, Afra Catarse e Juliana Silva
Designer: Carol Trindade
Finalização e Colorização: Isabela Padilha
Assessoria de Comunicação: Aluízio de Azevedo
Produção Local Portugal: Beatriz Carvalho
Beleza Portugal: Bia Leonel
Beleza Brasil: Alisson Rangel
Poesia: Luzia Luz Gomes
Narração: Eliana Mara
Apoio: Nega Filmes, Casa das Pretas e AEEC-MT
Agradecimentos Especial: Antonieta Luisa Costa
Agradecimentos aos participantes
Lígia Kellermann (Brasil) - Lisboa
Lídia Dju (Moçambique) - Cuiabá
Marvinda Isabel Pereira (Moçambique) - Lisboa
Silvina Gomes (Moçambique) - Cuiabá
Ousseynou Dieye Uzak (Senegal) - Cuiabá
Bakar Ramos (Guiné Bissau) - Lisboa
Jhon Kalagary (Brasil) - Lisboa
Maíra Zenun (Brasil) - Lisboa
Kalynna (Haiti, República Dominicana) – Cuiabá
Maria Nascimento Fortes (Portugal) – Lisboa
Com informações da assessoria
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