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Notícias / Cinema

28/07/2020 às 11:26

Realizadores de coletivo negro disponibilizam 8 filmes nas redes sociais

Os curtas-metragens são atração da Temporada de Filmes Online nas próximas duas semanas

Maria Clara Cabral

Oito curtas de realizadores audiovisuais ligados ao Coletivo de Audiovisual Negro Quariterê são atração da Temporada de Filmes Online nas próximas duas semanas. A ação do Cine Teatro Cuiabá organizada em substituição à programação presencial cancelada em atenção às medidas de contenção e prevenção à covid-19.

O compartilhamento ocorre a partir desta terça-feira (28), às 19h30, nas redes sociais do Cine Teatro Cuiabá e Cineclube Coxiponés. A curadoria é de Anna Maria Moura e Wuldson Marcelo e todos os curtas têm classificação indicativa 14 anos.

Trata-se de curtas-metragens premiados na Mostra de Audiovisual Universitáriao e Independente da América Latina (MAUAL), como ‘Leonina’, de Rodolfo Luiz, e ‘Como ser racista em 10 passos’, de Isabela Ferreira, cuja estreia lotou pela primeira vez o auditório do Centro Cultural da UFMT.

Toni Bernardo, estudante de Guiné-Bissau covardemente assassinado em Cuiabá, no ano de 2011, é lembrado no documentário ‘Memórias de Toni’, da Corte Seco Produções. A saudosa Marília Beatriz de Figueiredo Leite é uma das personagens entrevistadas em ‘Abecedário’, de Jonathan César.

Álamo Facó e Ella Nascimento protagonizam ‘Pandorga’, de Maurício Pinto, que, assim como ‘Como ser racista em 10 passos’, terá episódio da série Cine Comentário Sonoro.

A cultura do skate é tema de 'Sob os pés', de Juliana Segóvia & Neriely Dantas. E tem ainda Anna Maria Moura em ‘Poemargens’, experimento poético-audiovisual lançado durante quarentena. Só para citar alguns.

Enquanto durarem as medidas de distanciamento social, a Temporada de Filmes Online difunde conteúdos audiovisuais independentes, com ênfase na produção realizada em Mato Grosso. O compartilhamento de novos filmes mantém o dia da semana e horário em que tradicionalmente acontecem as sessões presenciais do Cine Teatro Cuiabá.

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Os filmes


Abecedário: encontros e desencontros nas letras mato-grossenses

(Jonathan César, 2017, 30’)

Sinopse: Aqui, através de memórias, também se conta a história das letras em Mato Grosso para além da instituição. Os encontros e os desencontros que ressignificaram o alfabeto português no centro da América do sul e formaram outra coisa, outro abecedário.


Como ser racista em dez passos
(Isabela Ferreira, 2018, 13’)

Sinopse: Curta provocativo que traz à tona e confronta o racismo estrutural velado, através de situações sensíveis, normalizadas e naturalizadas que serão facilmente identificadas pelo público. O filme mostra a realidade cotidiana de pessoas negras comumente afetadas pelo racismo enraizado, por atitudes que vão além do verbalmente dito. O racismo é real e precisa ser discutido.


Leonina
(Rodolfo Luiz, 2017, 5')

Sinopse: O curta acompanha instantes da vida de Leo. A felicidade para todos é relativa e para Leo é muito simples: viva.


Memórias de Toni
(Corte Seco Produções, 2020, 11’)

Sinopse: Toni Bernardo veio da Guiné-Bissau para Cuiabá por um convênio com a UFMT para estudar economia, mas no dia 22 de setembro de 2011 foi espancado e morto em uma pizzaria próxima à universidade. Quase nove anos depois o documentário “Memória de Toni” traz a lembrança desse caso no momento em que o mundo protesta contra o racismo e vários movimentos sociais reivindicam justiça para Toni.


Pandorga
(Maurício Pinto, 2017, 17’)

Sinopse: Acompanhados de um envelope que guarda o futuro, um casal (Ella Nascimento e Álamo Facó) decide viajar numa estrada cheia de memórias e sentimentos. As reflexões e acontecimentos no caminho podem reconstruir sua história.


Poemargens

(Anna Maria Moura & Sol Ferreira, 2020, 25’)

Sinopse: Sol e Ananás coadunam em poemas, investigando as possibilidades de comunicação entre poesia marginal e performatividade para uma produção artística singular e autoral onde rimas se tecem e trajetórias se recriam.


Se acaso a tempestade fosse nossa amiga eu me casaria com você
(Wuldson Marcelo & Felippy Damian, 2015, 20’)

Sinopse: Um dia na vida de um casal de namoradas. A crise no relacionamento, que completou seis anos, aprofunda-se com os transtornos emocionais que acometem Bárbara (Juane Mesquita) e a inversão de papéis, que coloca Karina (Thaísa Soares) como a divertida e festeira das duas. Neste dia tudo o que foi até então silenciado explode e a casa se torna local de estranhamento e terapia.


Sob os pés
(Juliana Segóvia e Neriely Dantas, 2015, 20’0)

Sinopse: O calor de 40º graus, a sinuosidade das ruas cuiabanas e o relevo irregular da cidade tornam-se obstáculos instigantes para os praticantes de skate. Aparentemente encerrados em recônditos discretos aos olhos alheios, os skatistas permeiam a cidade de Cuiabá revelando-se um grupo conciso, organizado, solidário e singular.

Cine Comentário Sonoro

Para complementar a difusão online de curtas dos realizadores do Coletivo de Audiovisual Negro Quariterê, serão publicados dois episódios da série Cine Comentário Sonoro no dia 04 de agosto (próxima terça-feira), às 19h30.

Em um dos episódios, Maurício Pinto relembra bastidores de produção de ‘Pandorga’. No outro, Isabela Ferreira divide memórias sobre a realização de ‘Como ser racista em 10 passos’, curta premiado na MAUAL 2018.

Na série ‘Cine Comentário Sonoro’, realizadores relembram histórias associadas à produção de seus filmes, através de uma faixa de comentário sonoro integrada aos curtas. Todos os episódios estão disponíveis no canal do YouTube do Cineclube Coxiponés.

A série é uma parceria entre realizadores, Cineclube Coxiponés da UFMT e Rede Cineclubista de Mato Grosso (REC-MT).

Coletivo de Audiovisual Negro Quariterê

O Coletivo de Audiovisual Negro Quariterê é formado por afrodescendentes que atuam como produtores e entusiastas do audiovisual no estado de Mato Grosso, com o objetivo de discutir temáticas relacionadas às questões raciais e suas interseccionalidades, que agravam preconceitos de gênero, sexualidade, geracional, estratificação social e econômica.

Nesse sentido, o coletivo realiza, incentiva e apoia ações voltadas para a promoção da equidade de raça e gênero no segmento audiovisual. Tem ainda a missão de propor e monitorar políticas públicas nos âmbitos municipal e estadual que convergem em ações afirmativas.

O encontro de profissionais negros da cultura e do audiovisual que daria origem ao Coletivo Quariterê aconteceu em 19 de setembro de 2017, dias após participarem da Oficina de Cinema Negro ministrada pelo Prof. Dr. Celso Prudente na UFMT, entre 11 e 14 de setembro do mesmo ano.

Cerca de um ano antes, em 2016, uma ação da Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso chamou a atenção desses mesmos realizadores negro e ativistas dos movimentos sociais negros ao propor a realização da I Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso, marcada para acontecer no mês da Consciência Negra, em novembro de 2016.

Naquela época, a organização da mostra havia sido planejada e protagonizada por pessoas brancas, que se propunham a discutir narrativas e experiências negras, em filmes repletos de representações estereotipadas, objetificadas e subalternizadas. As atividades “formativas” intituladas Deu Branco, assim como toda a produção, tiveram como argumento de que não havia profissionais negros no setor audiovisual em Mato Grosso aptos para debater os temas.

A soma desses fatos despertou indignação e gerou protestos nas redes sociais que contaram com apoio de diversas lideranças do movimento negro, especialmente impulsionadas por profissionais negros do setor cultural da cidade de Cuiabá. Diante da situação, a I Mostra de Cinema Negro foi suspensa e após muitos debates, foi reorganizada.

Em seus quatro anos de existência, o Coletivo Quariterê já organizou três edições Mostras de Cinema Negro, de 2017 a 2020, e atualmente prepara-se para realizar a nova edição, que em razão da pandemia de covid-19 acontecerá na internet. Este ano, a temática da Mostra é 'Sobre(vivência)' e está com inscrições abertas até 30 de julho.

A Sessão Afrocine, que ocorre desde o ano de 2018, é outro projeto do coletivo, criado em parceria com o Cineclube Coxiponés da UFMT. A sessão é gratuita, aberta aos alunos da universidade e à comunidade, conquistando um público.

Em 2019, o Coletivo Quariterê produziu de maneira independente o primeiro filme do Coletivo: ‘A Velhice Ilumina o Vento’, de Juliana Segóvia, ainda sem data de estreia. O filme tem como protagonista Valda (interpretada por Benedita Silveira), mulher preta, periférica, trabalhadora e que tem como descontração a ida à Bailes da Terceira Idade.

O filme foi planejado todo de forma colaborativa e envolveu na realização mais de 24 pessoas negras, desde a pré-produção à pós-produção, com o intuito não só de que o coletivo tivesse uma obra audiovisual com temática negra, mas que também pudesse servir como experiência de formação audiovisual para todos os participantes, refletindo, assim, sobre a constituição da equipe e os bastidores de um filme.

Atualmente, compõem a diretoria e o conselho fiscal, da associação MTCine, visando pautar a equidade racial e fomentar a representatividade, fazendo valer o debate sobre a inclusão das pessoas afrodescendentes no cenário audiovisual. Neste momento de pandemia, o Quariterê desenvolveu o projeto QuariTV, no qual entrevista pessoas de diversas áreas para falar sobre negritude e também sobre o momento atual na perspectiva da população negra.
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