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Notícias / Entrevista da Semana

29/05/2022 às 08:00

Educação é prática primordial para evitar acidentes no trânsito

A gerente de Ações Educativas do Detran-MT, Gresiella Almeida, afirma que ensinamentos básicos ainda precisam ser trabalhados como forma de conscientização

Angélica Callejas

O Maio Amarelo é o mês de conscientização mundial acerca do alto índice de mortes e acidentes no trânsito. Diante disso, o Leiagora entrevistou a gerente de Ação Educativa no Trânsito do Detran de Mato Grosso, Gresiella Almeida.

Apesar de todos compreendermos o importante e indispensável papel da fiscalização dos órgãos de seguranças, também é importante fomentar a discussão sobre a educação, valor que permeia todos os âmbitos da vida em sociedade.

Através da educação, conforme reiterado por Gresiella, os motoristas têm consciência sobre o que pode ou não ser feito enquanto condutores de um veículo. Dessa forma, a convivência no trânsito, visando a vida e a manutenção da saúde, torna-se preferência, acima do medo de ser multado ou da perda pontos por infração.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Leiagora - Qual a importância de criar um mês para falar da conscientização no trânsito?

Gresiella - A campanha Maio Amarelo acontece neste mês de maio voltada principalmente para atenção à vida, por meio de uma resolução do Contran, que traz a importância de abordar esse tema e ter um mês específico para trabalhar isso de forma mais intensa. Então, a gente concentra [as ações] nesse mês de maio, porém, nós temos aí a resolução que, durante o ano todo, traz a abordagem que deve ser feita por meio das campanhas educativas, que este ano é o “Juntos Salvamos Vidas”. O Maio Amarelo seria como um momento de maior intensificação na questão dos acidentes de trânsito, mas também voltado às campanhas educativas que são realizadas todos os anos pelo Contran, deliberadas pelo Contran. Todo ano é escolhido um tema, e esse tema é abordado. Como tem o mês do outubro rosa, novembro azul. Lembrando que, neste mês, o importante seria mesmo dar foco, mais intensidade a essa abordagem referente ao número de acidentes de trânsito. 

Leiagora - Quais as razões de ainda haver pessoas bebendo e dirigindo, mesmo sabendo de todos os riscos? As campanhas de conscientização ainda não são suficientes?

Gresiella - Nós, hoje, brigamos, digamos assim, temos um combate direto com a mídia. A mídia televisiva, que lida principalmente com a aquisição de veículo, de consumo de bebida, de fazer festas e baladas, a gente tem esse embate. A gente fica com déficit de empoderamento nas nossas campanhas, porque a indústria fabrica um veículo e foca no quê? Velocidade, potência, capacidade do veículo ser mais forte, maior. Da parte da educação, por ser educação, a gente já tem um certo pezinho mais atrás. Elas [as mídias] vêm bombardeando esses jovens. Hoje, o maior índice de acidentes são com jovens entre 18 a 39 anos. Então, velocidade, consumo de bebida alcoólica, colocadas nas mídias, colocadas também nas músicas, como sendo algo legal. A gente fica, infelizmente, nessa contrapartida.

Leiagora - Por que combater isso?

Gresiella - Então, teria que ter uma abordagem educativa não somente dos órgãos ligados ao Sistema Nacional de Trânsito, mas também dessas mídias que estão aí hoje. Essa contrapartida também deveria partir das indústrias, fabricantes de bebidas, fabricantes de veículos, fabricantes de qualquer tipo de consumo que você tenha, principalmente, nas baladas. De dizer assim: “O carro é legal, o carro é bacana, o veículo tem potência, mas nós temos um código de trânsito que precisa ser obedecido. Precisa utilizar equipamentos de contenção de segurança”. Então, a “briga” junto com as campanhas midiáticas é essa, pois elas são de forte empoderamento desses jovens, e acabam causando e sofrendo esse tipo de situação dentro do trânsito.

Leiagora - Ultimamente tem sido noticiado diversos acidentes com passageiros de transportes por aplicativo por falta de cinto de segurança. É uma infração utilizar o assento traseiro sem cinto? 

Gresiella - Sim. É uma infração, sim. Quando a gente fala de utilização de cinto de segurança, é importante que o equipamento de contenção seja utilizado por todos os ocupantes do veículo. Ele sendo, sim, uma infração de natureza gravíssima. A gente diz que o uso é obrigatório de acordo com o artigo 65 do Código de Trânsito. Então, quando a gente depara com isso, quem é o responsável maior pelo veículo? O condutor. Ele que fica com o encargo e os outros com corresponsabilidade. Essas infrações vêm acontecendo com muita frequência, de forma muito habitual, e a gente tem visto vários casos de artistas, pessoas que foram jogadas para fora do veículo. E o que é necessário? O apoio das campanhas midiáticas, o apoio da comunicação, o apoio das grandes emissoras de TV. O condutor muitas vezes pensa primeiro em infração, em multa. “Quanto é que vou pagar?” Não pensa na questão da vida. Então, mostrar isso de uma forma mais bacana, mais incisiva, porque a infração é uma consequência, mas e se for a vida? Aí não tem retorno.

Leiagora - Dados do anuário do Detran-MT de 2021 mostram que o ano de 2020 teve mais acidentes com vítimas fatais que o ano de 2019, apesar de em 2020 ter sido registrado menos acidentes. Isso é um indicativo de que as pessoas estão mais desatentas, imprudentes no trânsito?

Gresiella - Esse comparativo de evolução, que você fala da questão dos acidentes de 2019 para 2020, que houve uma redução, a gente tem que olhar o cenário mundial, porque houve uma pandemia em 2020. Então, assim, qual é a real efetivação dessa diminuição? Isso é algo que tem entrado em discussão, inclusive com projetos e programas de outras instituições. Então, teremos uma base melhor agora em 2022, que voltou à "normalidade". Mas os Detrans, no caso, o Detran de Mato Grosso, que tem essa gerência nossa que é de campanhas educativas, faz o alerta à população através de ações externas. 

A nossa parte informativa, não tão somente nossa, como também de todos os setores envolvidos com atendimento, é informar e orientar o condutor. Não podemos ter responsabilidade tão somente aqui nessa parte do Detran, porque o processo formativo não depende só de nós, depende também das auto escolas. Elas também estão envolvidas de forma direta no processo de formação do condutor.

Então, é importante que elas possam sensibilizar o condutor para que ele desperte o processo de consciência. O que acontece às vezes? É necessário rever isso a nível nacional… como é a metodologia? É importante também corresponsabilizar o condutor, porque ele sabe, ele passou por uma auto escola. E como está a metodologia dessa auto escola? Está bacana? Como é o processo de ensino e aprendizagem quanto a isso? Tanto prático quanto teórico. E o Detran faz a parte dele, informativa. 

Aqui, na gerência de Ações Educativas, o trabalho é informativo-orientativo. Você me pede uma palestra para a sua empresa, para sua escola, para sua instituição pública, eu vou lá e vou dizer assim: “O código de trânsito fala isso e isso, você pode isso aqui, você não pode isso aqui”. Então, a gente orienta e informa. A partir desse momento, o condutor e o cidadão, ele precisa utilizar isso para vida. Volto a dizer: as campanhas educativas que nós fazemos, durante o ano todo, através de um planejamento bem extenso, elas são nesse cunho de orientar e informar o cidadão. 

Mas a gente precisa também aliar isso às mídias, igual você está fazendo agora. Por que a gente está conversando? Porque há uma necessidade de informar às pessoas o que tem acontecido nas vias. Por que tem esse número de acidentes? O que está faltando? E, nesse processo, a gente vem conversando e atendendo, junto com o Renaest [Registro Nacional de Acidentes e Estatísticas de Trânsito], junto com a presidência, junto a diretoria de veículos de habilitação, onde a gente tem que melhorar e qual é o foco que a gente tem que atender.

Aqui, nós temos um foco, com a colaboração dos servidores de outro segmento, fazendo ações para chamar atenção, por exemplo, para um alto índice de acidentes, muita infração por falta de cinto de segurança ou não uso de capacete, que é a nossa parte, com o apoio de outras instituições governamentais e não governamentais.

Leiagora - Em relação a natureza das infrações, em 2020, exceder a velocidade e avançar o sinal vermelho ocupam o segundo e terceiro lugar nos registros de infração. Quais os perigos dessas condutas?

Gresiella - São duas situações muito básicas, digamos que até muito primárias. Ter que falar para um condutor que ele não pode exceder a velocidade dentro de uma via, porque ali existe um limite. Geralmente, bairros ou até mesmo grandes avenidas, o condutor não vê ninguém e quer exceder a velocidade. É muito da consciência do condutor. Educação, ela não parte somente aqui da educação para o trânsito. Educação é a base para ser consciente no trânsito. 

As abordagens que a gente faz, por exemplo, em pit stop, com outras forças de seguranças, a gente percebe no público atendido que, de 100%, 80% não usa cinto de segurança atrás, e em 40% o condutor está sem cinto. Então, quando a gente percebe que essas duas infrações, que são infrações básicas, estão acontecendo com frequência, a gente deve pensar qual está sendo a base educativa desse cidadão? Porque se é vermelho, ele é imperativo, é pare! Às vezes a pessoa quer ganhar tempo, e em 5 segundos perde 20 horas, 30 horas em consequência de uma batida. 

Então, a gente está tentando realizar mais campanhas informativas. “Ah, mas isso é tão básico, parar no semáforo”... mas não estão fazendo, então, a gente faz a orientação, que cabe a nós.

Leiagora - As sextas, sábados e domingos ainda concentram os maiores números de acidentes no  trânsito. Isso está relacionado com o consumo de bebidas alcoólicas? A fiscalização tem sido eficiente e suficiente para combater essa prática ilícita?

Gresiella - A primeira pergunta, com relação às bebidas… com certeza! O número de festas e baladas aconteceu, retornando a nossa normalidade de eventos tem relação direta com isso. A questão também das festas de famílias, quando se deslocam nos finais de semana para visitar algum parente, ir em outro município. Então, assim, o momento agora é sair de casa, mas que seja uma saída consciente. Que seja uma saída que a pessoa entenda que é um final de semana, mas não precisa aumentar velocidade, exagerar na atitude no trânsito, pode se oferecer para ser o amigo da rodada. É tudo uma questão de educação, de planejamento. 

Temos que falar também da questão dos transportes por aplicativos… tem sido frequente as pessoas estarem se deslocando com os veículos por aplicativo, e a gente tem percebido essa mudança de comportamento principalmente entre os jovens. O que é muito positivo.

Eu tenho acompanhado a operação Lei Seca e tem dado um resultado muito bacana das forças de seguranças, Detran, Sesp, Polícia Civil, Batalhão de Trânsito, Semob. Tem feito bem para a sociedade no momento que ela opera, principalmente, nas vias de grande fluxo, e nos períodos onde ocorrem festas, eventos… Tanto é que Mato Grosso é referência nessa questão da operação Lei Seca.

Leiagora - Alguns condutores ainda têm resistência de utilizar a cadeirinha para transportar as crianças. Porque esse dispositivo é indispensável para os pequenos?

Gresiella - Nós temos alguns dispositivos de segurança como o bebê conforto, o assento de elevação, a cadeirinha, e o próprio cinto de segurança. É indispensável a utilização desse equipamento de contenção de segurança, porque elas [as crianças] são as mais vulneráveis dentro do veículo. O bebê conforto, por exemplo, tem todo um posicionamento correto para ser colocado, justamente por conta da fragilidade da criança.

Às vezes, pensamos que, por ser mais um ocupante, pode ir no colo. É humanamente impossível você segurar a criança, ou um bebê no colo, em caso de acidente, mesmo você estando com cinto de segurança. Em caso de batida, ele vai ser lançado e jogado dentro do veículo. Por isso a importância de utilizar corretamente todos aqueles aparatos que disse anteriormente, que são de contenção de segurança das crianças. É necessário utilizar, porque, a partir do momento que você coloca a criança, ela está sendo protegida e você inibe qualquer tipo de letalidade em até 80%.

Leiagora - Outra prática que também tem ganhado notoriedade são os rachas e as manobras com carros e motocicletas, como empinar, dar cavalo de pau. Como isso é abordado nas ações do Detran?

Gresiella - Devido a esse percentual expressivo de jovens que estão realizando ou sofrendo acidentes na via, a nossa abordagem está focada também nesse grupo. O que a gente pode fazer é a orientação, a questão de respeitar a velocidade, de utilizar equipamento de segurança. Hoje nós demos uma palestra para uma turma no ensino médio e foi abordada essa temática. Por que não pode? Não pode fazer na via pública porque existem leis que o próprio Código de Trânsito Brasileiro traz, elaboradas por engenheiro de trânsito, que entendem que aquela via deve ser percorrida na quilometragem exibida nas sinalizões. Também porque ali tem pessoas, e você não está sozinho com o veículo. 

Se quer praticar algum esporte radical, que envolve velocidade e um veículo, tem todo um aparato de segurança, os próprios carros são produzidos com material diferente, além do espaço diferenciado [autódromos e pistas] para realizar. 

No trânsito, para a locomoção, o convívio social e a comunicação são indispensáveis. A partir do momento que você eleva sua velocidade, você não consegue ter comunicação, porque com excesso de velocidade, não consegue observar os pontos perigosos, pessoas passando, sinalização. Então, como tratar isso com os jovens? Através da sensibilização para que compreendam os perigos desse tipo de conduta.

Leiagora - Como solicitar palestra educativa do Detran?

Gresiella - A gente faz planejamento trimestral. Geralmente, em grandes campanhas, a gente começa a fazer desde o começo do ano, mas basta enviar um email para a gereducdetran.mt.gov.br. A gente sempre prioriza, dependendo do local, o atendimento a essas pessoas, que acontece de forma personalizada. Por exemplo, uma transportadora está com problema de motoristas com excesso de velocidade. A gente vai com abordagem referente a isso. Por que não pode? O que o Código de Trânsito estabelece? As penalidades, as causas e as consequências. Uma escola onde os pais não utilizam cadeirinha com os alunos, nós vamos e orientamos os pais acerca disso. Além das ações de pit stop, amigo da rodada, atendimento aos professores, para trabalhar de forma transversal com crianças, adolescentes e jovens nas escolas. Temos um corpo técnico de analistas, e pedagogos que são próprios para auxiliar nesse tipo de orientação.
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