Cuiabá, quinta-feira, 09/05/2024
17:59:45
informe o texto

Notícias / Entrevista da Semana

17/07/2022 às 08:00

Apenas 9% das pessoas com esquema vacinal completo contra covid-19 vão parar na UTI

Vacina reduz em 10 vezes chance de morte, mas boa parte da população ainda opta por correr o risco de ser alvo do vírus

Débora Siqueira

Apenas 9% das pessoas com esquema vacinal completo contra covid-19 vão parar na UTI

Foto: Leiagora

A pandemia do covid-19 não acabou e talvez nem acabe, teremos que aprender a conviver com as mutações e o poder de estrago que o vírus pode fazer. Por ora, a melhor arma para combater o coronavírus são as vacinas disponibilizadas na rede. Contudo, muitos não tomaram ou se recusam a completar o esquema vacinal conforme a faixa etária.
 
A teimosia tem custado caro, houve aumento dos casos e das internações. Mais de 90% dos que estão na UTI lutando pela vida não tomaram todas as doses ou sequer iniciaram o esquema vacinal. Uma parcela bem menor, de 9% a 10% estão com esquema vacinal completo.
 
Nesta entrevista, Juliano Melo, secretário adjunto de Atenção e Vigilância à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES), comenta sobre a redução de até 10 vezes chances de morrer de covid-19, com as doses certas no braço, dentre outras informações.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:
 
Leiagora Os casos de covid-19 voltaram a crescer em Mato Grosso e no país. Isso já era esperado ou foi uma surpresa?
 
Juliano –
A gente já tinha um cenário que era muito provável de que haveria novos aumentos de casos, considerando que a gente tem uma gama de variantes surgindo aí o tempo todo, como aconteceu já nas outras duas vezes e impactar no quantitativo de casos, como ocorre agora.

A gente sabe que esse delay entre uma onda e outra, ele ainda é um delay curto porque o vírus circula muito forte ainda no mundo e isso faz com que esse vírus se adapte muito rápido. Por isso a importância da vacinação porque ela diminui esse volume de transmissão e aí essa lacuna de tempo se estende mais até chegar a um ponto, de talvez a gente não precisar tomar essa dose de vacina com tanta frequência.
 
Leiagora A Prefeitura de Acorizal deu férias coletivas de 11 de julho a 29 de julho como forma de segurar o aumento dos casos. Esta é uma das formas que os municípios podem adotar para segurar uma nova onda da doença?
 
Juliano –
Eu não sei te dizer se isso é uma receita válida porque a gente teria que analisar toda a proposta. Só as férias coletivas como uma ação de contenção não é uma ação. Agora, pode ser que ele tenha implementado uma série de outras em relação ao isolamento domiciliar, em relação à testagem, ao diagnóstico precoce, ao serviço de busca de contato. Pontualmente não tem nenhuma das ações que vão ser efetiva a não ser a vacinação.
 
Leiagora Há riscos de voltar as medidas mais rígidas como obrigatoriedade do uso de máscaras, suspensão de aulas, restrição de horários?
 
Juliano –
Sempre é possível. Se a gente for analisar que o vírus em si do covid-19, ele tem uma capacidade de mutação muito alta. Até agora tem variantes que são sensíveis à vacina. Isso quer dizer quanto mais a gente vacinar, menor vai ser o volume de transmissão e menor vai ser a chance da gente ter que voltar essas medidas específicas. Obviamente a gente não está isento de ter uma variante dessa que não é imunosensível e aí, obviamente, o impacto na saúde pública deve ser muito maior.
 
Leiagora Então a variante é o determinante para isso?
 
Juliano –
Sempre. Assim como pode surgir em qualquer momento outro vírus respiratório qualquer que seria como o covid e gerar uma nova pandemia, gerar um novo processo.

Isso acontece temporalmente, a gente tem na história mundial que em torno de dez anos de lacuna, entre uma pandemia e outra. O que a gente vem percebendo é que tempo vem diminuindo, talvez pela velocidade de circulação das pessoas no mundo, que aumentou muito. Mas a gente sempre se prepara para uma possibilidade de ter uma nova pandemia em algum outro momento e, se precisar, implementar novas medidas, o que não é caso agora.
 
Leiagora Recentemente, a secretaria de saúde notificou 124 municípios de Mato Grosso sobre a situação de risco relacionada à covid-19. Cabe ao estado distribuir as vacinas e os municípios vacinar. O que o estado pode fazer para que de fato haja aumento da cobertura vacinal?
 
Juliano –
Os municípios normalmente já têm uma estratégia bem ativa na vacinação. O que a gente está percebendo é uma baixa procura do cidadão pra buscar essa vacinação. Obviamente, tem municípios que precisam fazer ações fora do ambiente de vacinação, buscar na escola, fazer parceria com centro de idosos, entre outros, para que ele melhore seu índice em si. Isso é uma conduta padrão dentro do programa, inclusive.

Então, os municípios que têm essa dificuldade precisam aperfeiçoar. Contudo, a grande maioria dos municípios fez acessos diferenciados, drive-thru e facilitou de uma série de formas a vacinação.

Começamos com uma procura muito grande, até briga em relação à disponibilidade e hoje a gente está num cenário que as pessoas talvez entendam que tomar uma dose ou duas doses já está protegido e que não precisa completar o esquema. Está dificultoso para que essa população volte ao posto de saúde e é importante deixar claro que o esquema vacinal completo é a dose disponível no momento para aquela faixa etária.
 
Leiagora Antes as pessoas queriam furar a fila da vacina, depois escolher a vacina, agora não querem a vacina. O que o senhor acha que aconteceu?
 
Juliano –
Eu ainda acredito que as pessoas acham que uma dose ou duas doses são suficiente para proteger, então há uma desinformação porque o esquema completo pra essa pessoa é a dose disponível para vacinação.

Hoje nós já estamos na quarta dose para alguns públicos, que é o maior de 40 anos. Este é o grupo mais vulnerável para internar mesmo tendo tomado três doses. Estão evoluindo para internação e óbito, tanto que nós estamos com mais de 80% de ocupação dos leitos de UTI covid.

Todos ou praticamente todos esses pacientes são mais de 60 anos e tem comorbidades e tomaram muitos dele duas doses, até três doses, até as quatro doses. Se a pessoa tem o esquema completo está entre 9% e 10% das internações.
 
Leiagora Então mais de 90% dos internados atualmente não têm esse esquema completo?
 
Juliano –
A gente acha que é a questão do entendimento do que é um esquema completo. Tem gente que acha que uma ou duas doses são suficientes para estar protegido. Por outro lado, existe desde o início da pandemia muita dificuldade no alinhamento de gestão entre governos.

Desalinhou muito em momentos que não poderíamos, gerou muitas dúvidas e abriu espaço para aquele grande público, que até então já existia, mas não era tão vigoroso, que é esse público antivacina. Esse público mais radical o Brasil sempre teve, mas eu acho que esse desalinhamento propiciou que esse grupo ganhasse força e fôlego e teve impacto na vacinação aqui em Mato Grosso
 
Leiagora As fake news ainda prejudicam a vacinação?
 
Juliano –
As fake news são fruto do processo de desalinhamento e comando.

Para ser bem prático, uma vez que você tem uma autoridade importante na saúde pública e sanitária, o presidente ou o secretário de saúde, qualquer um deles, que não falam na mesma linha dentro do momento crítico de crise, gera uma certa dúvida. Esse ambiente de dúvida propicia surgir fake news.

Agora, depois de dois anos, com a vacina, isso vem diminuindo um pouco, mas ainda é forte. Tem aqueles que acham que tomou uma dose e acha que está protegido e 9% a 10% dos internados já estavam com o esquema completo.

A vacinação não é a segurança 100% do Super-Homem. Existe um risco, obviamente nós estamos falando de um risco quase dez vezes menor de evoluir pra uma internação do que aquele que não completou o esquema.
 
Leiagora O número de leitos da covid foi reduzindo aos poucos e agora já está novamente batendo na casa dos 80% de ocupação. Eles serão retomados novamente?
 
Juliano –
A gente separa um pouco dos leitos covid, que é esse que é divulgado, e lembra que existe toda uma rede SUS que não é carimbada especificamente covid, mas que interna.

Vou dar um exemplo, o Hospital São Mateus ou a Amecor, eles têm quatro pacientes internados de covid na UTI deles e não está dentro desse painel de leito de covid, que é só SUS. Existe toda uma rede por trás que absorve esses casos.

O que a gente vem percebendo que o leito exclusivo de covid, apesar de estar nos 80%, por enquanto, por esses dias deu uma estabilizada. A gente observa que se isso aumentar ou exigir mais, nós vamos fazer os movimentos e ampliar esses leitos para adequar, para acomodar. Mas eu venho observando que esses pacientes estão procurando a iniciativa privada, estão internando, ou em hospitais públicos municipais ou regionais que não estão no painel. No painel só entra as unidades pactuadas com o Estado para usar a covid.
 
Leiagora Qual o custo de um leito covid em relação ao leito normal em enfermaria e UTI? Tem muita diferença?
 
Juliano –
A diferença é a organização do acesso. Quando eu digo que eu tenho 10 leitos ou 30 leitos covid no Metropolitano, o acesso é apenas a esse paciente de covid. Então ele vem com diagnóstico. Se o município que detectou não tem mais leito, não tem espaço para esse paciente ficar, aí pede a vaga e ele é transferido para cá.
 
Leiagora Cuiabá está sofrendo com a falta de médicos na rede básica. Isso está impactando na alta complexidade com pessoas sendo internadas com casos mais graves de outras doenças? No Hospital Estadual Santa Casa, por exemplo?
 
Juliano –
A Santa Casa não é um hospital para Cuiabá, atende todo interior e mais de 50% dos seus pacientes são regulados. Mas eu posso te afirmar que os problemas na atenção básica e na atenção secundária, principalmente quando eu dificulto o acesso por falta de médico, complica a situação de qualquer paciente.

Um paciente de covid que se eu deixar dois, três dias sem atendimento, ele pode evoluir para uma gravidade sem o atendimento adequado, e vai chegar pedindo vaga para UTI, numa situação pior do que estava. Sem dúvida, acaba impactando no Estado depois de forma direta e até indireta.

Se o paciente chega numa UPA e não tem condições de ser atendido por algum motivo, ele volta para casa, ele vai ficar muito mais debilitado até chegar num ponto que ele tem que ser estabilizado num leito de semi-intensivo e pedindo vaga para uma UTI. Toda vez que a gente vê paciente pulando da UPA ou do PSF direto pra UTI é que houve algum problema.
 
Leiagora A pandemia vai acabar ou só vamos aprender a conviver com ela?
 
Juliano –
A nossa história tem pandemias e endemias que foram se misturando no tempo, isso não tende a acabar.

Tivemos o H1N1, a endemia da dengue. O covid-19 se destacou por ser um vírus com uma capacidade mutante muito grande e de transmissão muito intensa e se destacou na série histórica.

O mundo hoje circula numa velocidade muito grande, então de um dia pro outro a gente consegue transferir esse vírus da Ásia para América do Sul. Eu acho que não há uma possibilidade da gente conviver na nossa história sem pandemias.

O que é preciso dizer é que as pandemias sempre vão impactar a nossa sociedade, e quanto a isso nós precisamos aprender a conviver.

Antes do covid, quem estava gripado já havia recomendação de usar máscaras e lavar as mãos, já existia isso. As outras pandemias que o mundo teve ensinaram que é um processo natural, vai ter que aprender a fazer isolamento, vai ter que aprender a tomar medidas pessoais, vai ter que confiar nos serviços públicos, principalmente, que é quem normalmente dá conta na pandemia, porque não é o privado. Essa é uma situação clara que temos que confiar mais no SUS e melhorar esse sistema para que ele responda melhor num outro momento.
Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.


 

0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do site. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet