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Notícias / Entrevista da Semana

25/09/2022 às 08:00

Feliciano Azuaga, candidato a senador, defende renovação política

Em entrevista ao Leiagora, contou as bandeiras da sua campanha pelo Novo e os objetivos do partido nas eleições de 2022

Paulo Henrique Fanaia

Feliciano Azuaga, candidato a senador, defende renovação política

Foto: Arte: Leiagora / Foto: Divulgação

Com apenas 41 anos de idade, Feliciano Azuaga tem um currículo acadêmico de peso. Formado em Economia, Azuaga é morador de Sinop, membro da comunidade de inovação HubNorte, professor universitário e ex-diretor tecnológico na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), onde também é pesquisador no departamento de Economia e coordenador do Centro de Informações Socioeconômicas Cise-Unemat. Ele também é mestre em Economia Industrial e Inovação pela UFSC e Doutor em Economia pelo Pimes-UFPE.
 
Filiado ao Partido Novo, Feliciano já disputou uma vaga de deputado federal por Mato Grosso, entrou na disputa suplementar ao Senado Federal em 2020 e, este ano, novamente disputa o cargo de senador.
 
O candidato tem ciência de que faz parte de um partido que ainda busca se impor na política e conta que objetivo principal da legenda é buscar engajamento da sociedade, inserir a ideia de uma nova política e servir de exemplo, mostrando que política é para todos.
 
Em uma conversa descontraída, Azuaga contou ao Leiagora as principais bandeiras de sua campanha: reforma tributária, trabalhista, diminuição de impostos, a abstenção do fundo eleitoral e, principalmente, uma reforma completa na política nacional, trazendo a juventude para o ambiente eleitoral.
 
Leiagora - Na sua primeira eleição para o Senado Federal, em 2020, o senhor ficou em último lugar na disputa, atingindo pouco mais de 21 mil votos. O que o motivou a disputar novamente as eleições este ano?
 
Feliciano Azuaga – Paulo, essa é a minha terceira eleição, a segunda eleição ao senado. No Partido Novo a gente tem alguns diferenciais em relação aos princípios, valores e uma das diretrizes do partido é que, política é um processo de longo prazo. A gente não olha a política olhando simplesmente na próxima eleição, então a gente tem alguns objetivos estratégicos. O primeiro objetivo é mostrar que é possível pessoas comuns participarem do processo eleitoral. Eu sou um professor universitário de uma cidade do interior do estado que tem 150 mil habitantes, sem padrinho político, sem recursos financeiros, sem usar fundão eleitoral. Então, pra mostrar: “olha, politica é pra você”. Então, esse é o primeiro objetivo, que é possível sim participar duma eleição majoritária em Mato Grosso e não pedir benção pra cacique eleitoral, e esse objetivo foi atingido na primeira eleição. Só que como é uma primeira eleição sem toda essa infraestrutura, esse suporte, a gente tem várias dificuldades. E a gente também disputou uma eleição no meio de uma pandemia. Eu até lembro, eu fui aí dar uma entrevista pra vocês, inclusive aí no estúdio e a gente não conhecia os jornalistas, os órgãos de imprensa. A gente sabia que Cuiabá era estratégico pra conseguir gerar conteúdo pra todo o estado de Mato Grosso. Passei aí hospedado no Hotel Delmond, que é ai do lado, durante quase um mês e, de 2.800 [votos] que eu fiz na eleição a federal, já pular pra 21 mil [votos] usando, acho que R$ 40 mil, se não me falha a memória que estava lá na prestação de contas, com sete segundos de televisão, pra gente foi um avanço gigantesco.

Essa eleição vai ter menos competidores, então fica mais claro pras pessoas quais são as diferenças das propostas. A gente já teve um aprendizado da eleição de 2020. Em 2022, a gente foi muito mais estratégico em como se comunicar. Nós entendemos que, além do conteúdo ser diferenciado, é importante os canais de distribuição. A gente tem uma proposta no Partido Novo de fazer uma campanha muito barata usando recursos tecnológicos, usando as redes sociais, usando bem os conteúdos que são gerados pela imprensa do estado de Mato Grosso e o que motiva é que, quando você sai de uma eleição, aparecem novos nomes. E algumas práticas que o Novo trouxe lá em 2018, 2020, o Novo não usava fundo eleitoral, já é um diferencial de vários candidatos. Você percebe nessa eleição vários candidatos das majoritárias, das eleições também pro legislativo, já se apresentam como pessoas que não usam fundo partidário. Então já foi o primeiro impacto.
 
Segundo impacto: eu tenho uma estudante aqui de 23 anos que é candidata a federal. Então você mostra pras pessoas que é possível participar, você aumenta o engajamento, aumenta o interesse dos jovens pela política e a gente está atingindo também esse objetivo. Então, esses são os fatores que fazem com que a gente saia mais uma vez nessa campanha majoritária. Que a gente entende que política é um processo de longo prazo que a gente tem que continuar nessa tendência de crescimento e chegar cada vez mais forte nas próximas eleições.
 
Leiagora - O senhor ainda vem sendo conhecido no estado. E por que não disputar um cargo como o de deputado estadual ou federal?

Feliciano Azuaga - Como eu falei, como o objetivo do partido também é ser referência pra pessoas que queiram entrar na política, a gente observa a questão da exposição. Qual que seria a chance de eu estar conversando com você se fosse candidato a deputado federal? Perto de zero! Qual a chance de eu estar participando de um debate televisionado? Zero! Então, a gente decidiu que, pra conseguir levar o nosso discurso, as nossas ideias, o nosso convencimento e atingir de forma massificada, não tem como você ir pruma eleição que não fosse uma eleição majoritária, ou uma eleição pro governo do estado, ou uma eleição do Senado, porque é uma eleição extremamente conceitual. Tem aquelas eleições de vereadores que é uma eleição corpo a corpo. Na eleição do Senado, a eleição é conceitual, de propostas, de diferencial ideológico. Então a gente percebe isso. Então foi analisando a amplitude que a eleição ao Senado daria e com esse impulsionamento e levar as ideias pra todo o estado de Mato Grosso.
 
Leiagora - Vamos agora falar de uma bandeira que você e o Partido Novo pregam muito que é a bandeira de não usar o fundo partidário. Como fazer uma campanha sem utilizar esse fundo?

Feliciano Azuaga - É uma campanha de engajamento, então, a gente tem como um diferencial do Partido Novo: um processo seletivo, ser ficha limpa, não usar recurso público, dar oportunidade pras pessoas que são pessoas comuns, não tem o caciquismo para você pedir benção. Você passou no processo seletivo, fez o curso de formação, a vaga é sua! Pra não acontecer o que aconteceu com a Natasha (Slhessarenko do PSB) em Cuiabá por exemplo. Se prepara durante tantos meses, chega meia hora antes da convenção, é tirada do jogo por uma medida partidária, o chefe manda, sai fora.

Então, a gente faz como? Engajamento pra conseguir as doações. Eu estou fazendo doações pra minha própria campanha. O principal é usar conteúdo que é gerado nas entrevistas, os debates, através dos vídeos que são feitos pela nossa equipe de comunicação e esperar o momento certo de fazer o impulsionamento. A gente sabe que nessas campanhas majoritárias, a decisão de votos vem quatro dias antes da eleição. A gente pega as pesquisas aí que foram feitas nas últimas semanas, 80% das pessoas nem sabem citar o nome dos candidatos. Somente deputado federal, estadual e senador. Então a gente prepara toda uma estrutura de conteúdo e no momento certo a gente vai fazer o impulsionamento para o público que a gente consegue atingir. Então, não adianta eu falar que eu vou falar pro público que está extremamente polarizado, porque esse público não vai me dar atenção e não vai acabar fazendo a conversão de voto nesse momento. Então, a gente vai pro público mais jovem, praquele cidadão que está cansado da polarização, aquele cidadão que está cansado com o custo de vida, pras pessoas que se interessam por política, mas não se veem representados. Isso faz uma estratificação e a gente acaba impulsionando, porque isso é muito mais barato. Eu não acredito que material gráfico sendo jogado na rua vai converter voto e vai fazer as pessoas engajarem num projeto político. Eu não acredito que ficar balançando bandeira e dançando nas avenidas vai fazer as pessoas mudarem de opinião sobre a realidade dela. Então, a gente faz uma campanha barata e economizando. Eu viajo só de ônibus à noite pra economizar diária de hotel, inclusive, volto pra Cuiabá no domingo, eu saio daqui 23h, chego aí 6h, ganho a noite, aproveito o dia pra mostrar pro cidadão que, “olha, o seu dinheiro tem que ir pra falta de ambulância na Baixada Cuiabana, pra duplicação de rodovias aqui na região norte. Tem que ir pra questão de infraestrutura da região sul do estado e não pra pagar conta de candidatos que vão gastar R$ 3,8 milhões em campanha ao Senado.
 
Leiagora Sobre esse novo modelo de fazer política proposto. É um modelo bem diferenciado, bem orgânico, mas pelo que a gente percebe, a população ainda não o abraçou e acaba elegendo os políticos tradicionais. Qual a sua expectativa de que a população possa abraçar esse novo modelo?

Feliciano Azuaga - O sistema eleitoral é blindado pra evitar novos nomes. Por que a população só vota nos mesmos? Porque só os mesmos disputam a eleição. Se eu voltasse em 1970, no estado de Mato Grosso, eu vou contar os mesmos nomes, das mesmas famílias. Quando o sistema se blinda criando o fundão eleitoral, quando volta o horário eleitoral gratuito, que não tem nada de gratuito, quando ela cria cláusulas de barreiras, quando ela não permite a candidatura avulsa, candidatura independente, você transfere o poder pra pequenos grupos. Então, a primeira coisa que a gente tem que quebrar é colocar novos nomes. Eu preferia estar discutindo política com pessoas de 30, de 40 anos, como Natasha, com a Aline, com o Arthur de 30 anos de Rondonópolis, do que estar discutindo com pessoas que estão com 70, com 80 e estão com 50 anos e que tornaram a política uma profissão. Segundo aspecto é conseguir visibilidade, que é um outro desafio, uma outra luta. Depois que a gente saiu com a candidatura majoritária, você consegue visibilidade. Aí vem o terceiro passo que é engajar as pessoas no processo eleitoral. Tirar a pessoa daquela zona de conforto e fazer ela se filiar a um partido, fazer ela disputar uma eleição, mostrar pra ela que política não é lugar só pra bandido, que é pra gente comum que quer resolver o problema, mas como é uma coisa de cada vez.

Quando você imaginaria alguém de 37 anos, como eu disputei uma eleição há dois anos, 39 anos tenho uma eleição ao Senado da República. Quando começaria a imaginar pessoas de 23, 22, 30 anos, disputando cargo federal. Então quebramos essas duas primeiras barreiras, agora é visibilidade. Se você pegar um advogado, que é o caso do Arthur, pegar uma Aline, que é uma estudante universitária e falar assim: “olha, assim que você conversa com um jornalista. Você tem que aprender a dar entrevista. Você tem que aprender a engajar as pessoas. Tem que aprender a pedir dinheiro”. Nós temos que aprender a captar recursos. Isso não é um processo fácil. A terceira fase é aumentar a amplitude dessa quantidade de pessoas. Então a gente está, eu falo ali, que a gente está nesse estágio dois, ampliando o nosso discurso quando vocês oferecem o espaço pra gente. Quantas milhares de pessoas a gente vai atingir a partir dessa semana? Quando eu vou falar numa rádio? Vou participar de um debate de três horas em Cuiabá? Quantas mil pessoas vão falar assim: “Opa! Tem algo diferente aí! Poderia ser eu lá”. Então é isso que a gente quer, que o terceiro estágio vamos alcançar nos próximos anos. Então a gente sabe que não pode acelerar o processo, porque senão essas pessoas ficam desiludidas, acreditam em um movimento e nunca mais querem saber de qualquer movimento político.
 
Leiagora - Vamos jogar em números: “Eu acho que daqui a X anos isso já vai ter melhorado”. Você consegue fazer uma previsão?

Feliciano Azuaga - Eu posso pegar o Partido Novo. O partido disputou uma eleição faz seis anos atrás. Começou com quatro vereadores. Na outra eleição já vai pra oito deputados, já elege o governador do segundo maior colégio eleitoral do país. Na terceira eleição, o novo saiu em poucos municípios do país candidato a prefeito, mas já elegeu o prefeito da principal cidade em termos de PIB e de renda de Santa Catarina que é Joinville. E já tem uma leva para deputados estaduais. Deve fazer novamente uma bancada razoável. Então é um crescimento paulatino. Não adianta a gente querer crescer e andar além das nossas pernas, que isso não vai ser um crescimento sustentável. A gente tentou uma disputa ao governo do estado de Mato Grosso, mas falou assim: “olha, governo do estado você tem que ter uma outra estrutura, tem que ter uma outra equipe, tem que ter uma outra capacidade de financiamento, de logística. Não dá!”

É uma coisa de crescimento. É melhor a gente consolidar o crescimento nessa eleição ao Senado e pela próxima eleição ser candidato a prefeito de Cuiabá, de Sinop, prefeito de Rondonópolis, depois vir pruma candidatura ao Senado, ao governo do estado, daqui quatro anos. Então, a gente pensa política como projeto de longo prazo. Porque senão, a gente vai ficar vendo o quê? Novamente alguém que se elege apoiando o candidato A, dois anos depois está apoiando o B, porque ele só quer, simplesmente, manter o cargo e não é isso que a gente acredita.
 
Leiagora - Uma das bandeiras do Partido Novo são as privatizações, porém, nós vivemos em uma sociedade que está ficando cada vez mais pobre, em que o povo passa fome. Como podemos conciliar essas políticas de privatização com uma sociedade que, claramente, não tem condições para pagar por esses serviços básicos?

Feliciano Azuaga - O que o Novo defende é que o estado, o governo, eu sou servidor público, as pessoas esquecem disso o tempo todo, e por estar dentro da máquina e trabalhar mais de 10 anos com avaliação de políticas públicas, a gente vê que muito dinheiro é desperdiçado. Se você olhar nas defesas do partido, a gente defende que o estado deve focar no que é essencial, que é saúde, educação e segurança. Uma pessoa pobre ela depende duma UPA, que às vezes não tem um raio-X, não tem o mamógrafo. Ela depende de um exame de imagem que as vezes está só no hospital regional de outra cidade. Ela precisa de uma ambulância. Não tem ambulância. Ela precisa de uma estrada. Eu voltando de Mutum semana passada, de Cuiabá pra Sinop, fiquei 4h parado na BR-163 porque teve um acidente. O estado não faz bem o básico. Se você quer ter uma boa educação, tem que pagar escola particular. Se você não quer ficar numa fila de seis anos pra fazer uma operação de coração no SUS, tem que ter plano de saúde ou pagar um hospital particular. Se quer ter segurança, você tem que pagar condomínio ou tem que pagar segurança particular. Você tem medo de viajar e sua casa ser assaltada. Um dos motivos de eu ter mudado de residência aqui em Sinop foi que invadiram a minha casa enquanto a minha esposa estava lá com meu enteado.

Por que o estado tem que ter uma televisão com dois canais? A famosa TV do Lula. Por que que o estado tem que ter uma empresa chamada EPL, que tem 220 funcionários pra ser gestor de um trem-bala que não existe? Por que o governo federal tem que ser sócio de fábrica de camisinha? Quem tem que fazer camisinha é a Jontex, quem tem que ter televisão é o Leiagora. Você acha de verdade que quem está lá nessas empresas está preocupado com o bem estar da população pobre ou está preocupado com divisão de cargos? Eu fiz uma dissertação de mestrado sobre a Petrobras aí que eu mudei minha concepção do estado. Na minha dissertação de mestrado de setor petroquímico, é estratégico você ter o petróleo nas mãos. Aí eu cheguei lá na Petrobras era assim: “você tem que conversar com o diretor da empresa da Petrobras Argentina. Aquele cara lá é indicado do PP. Aquele cara lá é indicado do PTB. O cara do correio é indicado do Roberto Jefferson. O cara da extração é indicação do Ciro Nogueira”, aí ficava “ué, mas pra que que ele indica?” Pra que que você acha?

Então quando a gente percebe que a Petrobras tem participação de franquia de salgado de fast food, isso é prioritário pra pessoa pobre? Boa parte do estado de Mato Grosso não tem esgoto. Eu sou de uma região nobre de Sinop que não tem sinal de celular. Eu não cobro a Anatel. Eu não tenho esgoto. A estrada é simples. 70% das estradas em Mato Grosso não tem pavimentação e eu quero que o estado seja dono de trem bala? Fast food? Fábrica de camisinha? Não tem lógica! Então o Novo acha que você tem que vender essas empresas que não são foco pra resolver o problema das pessoas em situação de calamidade, situação de miséria e focar naquelas áreas que são essenciais pro estado. Quem gosta de empresa estatal são os grupos políticos que através do nosso presidencialismo de coalizão só estão interessados em cargos e divisão depois dos espólios pós eleição.
 
Só pra dar um exemplo que eu gosto de dar bem trágico. Olha o PP, vamos pegar o PP, que é o famoso centrão. O PP atualmente é da base do governo, inclusive o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Como é que o PP libera dinheiro do fundo partidário prum candidato que é oposição ao próprio governo federal aqui em Mato Grosso? Liberou R$ 2 milhões essa semana pra campanha contrária ao governo federal. Qual a lógica disso?
 
Leiagora - Outra política do partido é reduzir os entraves burocráticos e os impostos. Como fazer isso sem prejudicar a arrecadação do estado?

Feliciano Azuaga - Primeira coisa: Burocracia. A minha esposa foi abrir uma empresa esse ano. Quatro meses pra abrir um CNPJ. A média de países da OCDE são sete dias. Se eu quiser abrir uma empresa hoje na Estônia, aqui de Mato Grosso, eu abro essa empresa em um dia. Quantidade de documentos necessários? Zero! Tá? Quem depende ás vezes da máquina pública, eu considero que o cara é meio maluco. Quem quer abrir um negócio no Brasil, quem quer montar uma empresa, montar um açougue, montar uma indústria, a vida desse cara vai se tornar um inferno. Porque a gente tem o excesso de etapas burocráticas pra fazer qualquer ação da vida do cidadão. Se eu precisar comprar uma ação do Facebook eu faço aqui uma compra online e não assino um papel. Tenta fazer um Habite-Se da sua casa. Quantos documentos a prefeitura vai te pedir? O estado vai te pedir? O cartório vai te pedir? E quanto isso vai te custar? No Brasil nós vivemos num manicômio tributário.

Se um empresário de Cuiabá quer vender produtos pro país inteiro, a vida dele vai virar um inferno, porque em cada estado vai ter uma regra de ICMS, uma regra alfandegária, um procedimento. A regra muda, ele tá sendo multado, está descumprindo a lei. A primeira coisa é essa, tornar a vida mais simples. Coisas práticas, unificar impostos federais, criar faixas de ICMS pra todo o país seguir. Isso tornaria a vida das pessoas mais simples. Primeiro aspecto é isso. Segundo aspecto: brasileiro não sabe quanto ele paga de imposto. Ele vai tomar uma cervejinha e ele não sabe que 60% ali é imposto. Ele vai colocar R$ 200 de gasolina, ele não sabe que R$ 80 é imposto. Você está correto, sem você olhar do outro lado que é os gastos, você não consegue cortar receita porque você vai ter um problemão. Por isso que a gente defende que o estado tenha uma reforma interna. Não dá pra pegar recurso do cidadão. Aí vamos entra novamente naquela coisa, quando a gente fala, a gente vai cortar o recurso do cidadão, é o fundo eleitoral de R$ 4.9 bilhões, isso dá pra fazer três VLTs, a cada eleição. Isso é essencial do cidadão. O cara às vezes gosta do PT o outro gosta do PL. O cidadão paga a conta de todo mundo e ninguém pergunta pra ele se ele quer pagar a conta. Quando eu olho o presidente do Senado usando o jatinho da FAB, será que isso é essencial? Então se a gente não cortar a gordura, não estou falando pra cortar de saúde, educação e segurança, mas eu estou falando de tirar o excesso.

Por exemplo, você tem aposentadoria especial? Você tem plano de saúde ilimitado? Eu não tenho! Você tem foro privilegiado? Se você não pagar imposto, ninguém vai te aliviar. Por que o político tem que ter? Por que eu tenho que dar subsídio pra multinacionais que não precisam de subsídio? Será que é o estado da Bahia tem que dar subsídio pra Ford? Estou falando de uma megacorporação. Então, a gente tem muita distorção no Brasil. Quando a gente começa a eliminar as distorções, o dinheiro começa a sobrar. R$ 4, R$ 9 milhões, daria pra fazer três VLTs e sobraria dinheiro. Daria pra fazer oito Arenas Pantanal. Será que o cidadão quer pagar imposto pra isso? O estado virou uma maluquice. E aí tem orçamento secreto que ele nem sabe pra onde tá indo o dinheiro, ele não sabe pra quem pediu e boa parte dos recursos que foram enviados não tem projeto. Pra onde esse dinheiro tá indo? Tem que reestruturar o funcionamento da máquina pública e aí você vai conseguir cortar as gorduras.
 
Eu sou professor universitário da Universidade do Estado de Mato Grosso. Na empresa de vocês, vocês ganham por produtividade. Se a empresa cresce, vocês ganham mais, vocês crescem, expandem. Eu como funcionário de carreira pra melhorar meu salário, se eu ganhar um prêmio Nobel amanhã, nãi vai aumentar nada. Eu só ganho se eu ficar velho. Qual que é o incentivo que eu tenho pra ser mais produtivo? Isso é uma coisa que vai funcionar? Claro que não! Então, se a gente não reestruturar a máquina pública e a finalidade dos gastos, a conta não fecha, uma hora a conta não fecha. A gente viu essas últimas semanas cortes na Farmácia Popular, a gente está vendo o corte do Ministério da Ciência a da Saúde e vai pagar o orçamento secreto? Que compra voto pra prefeito? O orçamento secreto é o mensalão legalizado. Não adianta nada você falar mal do mensalão lá de trás que pagava R$ 30 mil para deputado federal votar, no escândalo que o PTB trouxe à tona, e hoje aceitar o orçamento secreto que é um dinheiro que ninguém sabe pra onde está indo e é pra comprar apoio pré-eleitoral.
 
Leiagora - Agora vamos falar sobre tópico específicos. A saída de Mato Grosso da Amazônia Legal. Qual é a sua posição?

Feliciano Azuaga - Isso é pra animar a militância, principalmente a militância mais radical, mas tem vários impactos econômicos e eu, falando como economista, quando você sai da Amazônia Legal, você perde muito acesso aos recursos, principalmente pra financiamentos, FMO, tem problema de fundos relacionados a proteção da Amazônia. Isso é incentivo pra industrialização, é incentivo pro setor de serviços e impacto econômico. Se você sair e perder acesso à crédito subsidiado, é impactante pro estado de Mato Grosso. Tem deputado que faz esse tipo de proposta sem analisar as consequências. Eu gosto de falar sempre em economia, a gente fala muito de boas intenções e a gente conhece o lugar que está cheio dessas boas intenções. A gente tem que analisar o impacto das ações. Então sendo bem objetivo, não considero uma boa escolha, do ponto de vista econômico, o Mato Grosso sair da região Amazônica. Ela tem um apelo muito grande, a gente tem muito recurso no mundo pra investimentos na região Amazônica e você sair e perder todo esse apelo, perder essa quantidade de recurso que existe no mundo hoje, pra investimento na região, não é nada inteligente. É como se eu estivesse fechando boa parte das portas de crédito pra investimentos na minha região. Ninguém quer abrir mão de investimento no mundo. Por que que a gente vai fazer isso aqui? Na nossa região?
 
Leiagora - E quanto à reforma tributária e à reforma trabalhista?

Feliciano Azuaga - A reforma trabalhista foi um avanço. A gente pega aqui a nossa CLT, ela vem da década de 40, então ela foi um avanço que aumentou a flexibilidade e a gente tem que entender o seguinte, o mundo mudou e o mundo do trabalho mudou. A gente viu hoje o surgimento do home office, a gente tá chegando a novas profissões, a gente está vendo que o perfil dos trabalhadores também está mudando, das empresas está mudando e a legislação trabalhista tem que ser atualizada. Ela não pode se tornar aquela coisa exploratória, de nenhuma das partes. A gente tem o excesso de poder de determinados sindicatos, determinados seguimentos trabalhistas e o excesso de poder às vezes do empresário, essa negociação ela está desigual, mas você tem que dar flexibilidade e a justiça ser simplesmente um mediador de uma melhor ação pros dois lados.

Não existe trabalhador sem empresário e não existe empresário sem trabalhador. Então a legislação tem que ser modernizada e evitar os excessos. Eu considero que ela não deve ser revogada como o Lula tá falando Ela foi um avanço nos últimos anos, mas pode ser aperfeiçoada e melhorada, porque o mundo, principalmente o mundo pós-pandemia, é um outro mundo. Essa questão mesmo de local de trabalho e a jornada de trabalho, a gente está vendo que ela está cada vez mais flexível pra atender a demanda aí das novas gerações.
  
Leiagora - E a reforma tributária?

Feliciano Azuaga - Quanto à reforma tributária, a gente tem que novamente voltar a sentar à mesa. A melhor proposta que existia era a proposta do deputado federal Baleia Rossi, que foi literalmente engavetada pelo Arthur Lira por uma briga interna no Congresso Nacional. É uma proposta tributária que tem que voltar à mesa focando em dois pontos que eu considero principal, a simplificação do sistema. Nós temos um sistema de mais de três dezenas de impostos, de milhares de regras que mudam praticamente mensalmente no Brasil. Isso torna a vida do empresário um manicômio e focar também na redução da carga tributária. A partir do momento que você torna o sistema mais simples e reduz a carga tributária, o Brasil volta a ter competitividade. Hoje empresa nenhuma brasileira é competitiva porque você não consegue competir com um país com sistemas mais simples.
 
Leiagora - O senhor é a favor ou contra o porte de armas?

Feliciano Azuaga - Sou favorável ao porte de armas seguindo o que a legislação determina. Fazer todos os procedimentos, cadastro, teste psicotécnico, capacitação, como uma CNH, mas com muito mais cuidado, porque a arma tem outra finalidade, que é uma finalidade de segurança. Como no estado de Mato Grosso a gente tem um problema do chamado “Novo Cangaço”, isso se faz uma demanda principalmente nas áreas mais rurais. A gente sabe o que aconteceu em Nova Mutum, o que aconteceu em Campo Novo do Parecis nos últimos anos. Eu sou favorável, mas seguindo os critérios pra dar segurança pra população e também evitar que isso se torne um canal de vazamento de armas pra outras situações perigosas, como o crime organizado. Sou favorável ao aperfeiçoamento do sistema de concessão.
 
Leiagora Aborto. O senhor é a favor ou contra?

Feliciano Azuaga - Eu sou contra, mas por questão religiosa. Mas eu acho que as exceções que estão definidas na legislação estão adequadas pra situação atual.
 
Leiagora - Pra gente encerrar. Quanto aos auxílios sociais, o senhor é a favor ou contra?

Feliciano Azuaga - Sou a favor que o auxílio atenda as pessoas nessa situação de vulnerabilidade, principalmente no período pós-pandemia. A gente lembra os seguimentos sofreram muito neste período. Seguimento de bares, restaurantes, seguimento de turismo, de eventos e as pessoas entraram em situação de necessidade mesmo. Mas é uma situação de curto prazo e é uma situação temporária. A gente tem que lembrar sempre. Eu gosto de falar isso sempre: “Pra combater a desigualdade tem que atacar as causas da desigualdade”. Então não adianta você não ter formação técnica e profissionalizante que você vai ter esse problema durante 30 anos. Não adianta a gente ter dois sistemas educacionais brasileiros que você vai perpetuar essa desigualdade de formação educacional. Então, a minha posição é que é essencial nesse momento, mas a gente tem que olhar pra causa da desigualdade, porque ela é duradoura e se a gente ficar fazendo só uma política paliativa essa política nunca vai sair de cena.
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