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Notícias / Entrevista da Semana

24/12/2023 às 08:00

ENTREVISTA DA SEMANA

Papai Noel Pantaneiro leva doações, amor e muita solidariedade às famílias do Pantanal

Clóvis Matos atua há mais de 15 anos levando livros, brinquedos e roupas às comunidades ribeirinhas do estado

Karine Arruda

Papai Noel Pantaneiro leva doações, amor e muita solidariedade às famílias do Pantanal

Foto: Montagem/Leiagora

O clima natalino reserva surpresas, presentes, ceias recheadas e família reunida. Mas além disso, também contempla um momento de solidariedade que envolve doações de roupas, alimentos e brinquedos às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Atitudes como essas são essenciais para manter o espírito de esperança trazido pelo Natal dentro de cada ser humano, porém, essas ações que são reflexo de empatia podem ser repetidas durante todo o ano, independente de qualquer data comemorativa.

É exatamente nesse ponto que Clóvis Matos atua. Ele, que é historiador pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e escritor, contribui todos os anos e praticamente todos os meses levando donativos às comunidades ribeirinhas do Pantanal.

Por conta do característico cabelo branco e a barba comprida, Clóvis passou a ser conhecido como Papai Noel Pantaneiro, mas para além do nome peculiar restrito ao Natal, ele leva diversas doações durante todo o ano às famílias que moram em comunidades rurais e que vivem mais distantes da capital Cuiabá.

O projeto do historiador, que começou com o intuito de incentivar a leitura, se expandiu e hoje leva uma lição de amor e solidariedade por onde passa.

Confira abaixo a entrevista na íntegra e conheça um pouquinho do Papai Noel Pantaneiro:

Leiagora - Clóvis, nos conte um pouco sobre a sua história e como surgiu o Papai Noel Pantaneiro.

Clóvis Matos -
Eu já fazia um trabalho antes com o Inclusão Literária no Pantanal, com os livros, e eu sempre fui barbudo e cabeludo, então as pessoas já me chamavam de Papai Noel, independente de eu ser Papai Noel ou não. Nisso, quando eu comecei a fazer o trabalho de Papai Noel no shopping, eu vi que faltava alguma coisa para completar esse trabalho e como eu já tinha uma relação muito legal com as pessoas do Pantanal, eu resolvi virar o Papai Noel Pantaneiro.

Fui conhecendo a história desse povo e vi que ninguém ia lá levar nada para ninguém, nunca foram, não tem assistência nenhuma. As pessoas ficam muito afastadas e isoladas quase que dentro da capital, foi assim que eu comecei o Papai Noel Pantaneiro, comprando coisas para levar às comunidades. Depois o projeto foi crescendo e eu fui procurar pessoas para me ajudar a conseguir brinquedos, roupas, calçados e outras coisas para doação.

Leiagora - Quando começou a campanha do Papai Noel Pantaneiro deste ano e quais comunidades ribeirinhas serão contempladas?

Clóvis Matos -
Hoje, a gente atende mais de 2 mil pessoas por ano levando presentes. Neste ano, serão 67 comunidades atendidas. Todos os anos a gente atende as necessidades do povo e isso já acontece há 15 anos.

Tem uma coisa engraçada. O Pantanal reúne em um pequeno espaço quatro, cinco, seis casas e isso é considerado uma comunidade. A uns 10 km à frente, reúne um pequeno povoado que representa outra comunidade e que inclusive tem diferenças muito distintas de cultura.

A comunidade mais populosa de lá é São Pedro de Joselândia, que fica a 200 km de Cuiabá, mas nem sempre eu vou lá porque quando chove não tem como chegar, a estrada rompe, mas eu espero que esse ano tenha espaço porque lá tem muita gente para atender.

Sobre as ações desse fim de ano, não tem uma data específica, depende muito das conveniências das pessoas que me ajudam e que estão sempre me acompanhando para terem disponibilidade.

Eu faço sempre o lançamento da campanha na loja Eletro Fios porque a proprietária da loja é madrinha dos projetos. Neste ano, o lançamento foi dia 4 de novembro, mas normalmente acontece por volta do dia 15 até o dia 20 de outubro.


Leiagora - Como as doações funcionam? Ainda é possível doar brinquedos e livros?

Clóvis Matos -
A própria Eletro Fios recebe as doações dos meus projetos o ano inteiro. Além deles, também é possível doar na BPW, a Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de Cuiabá.

Ainda existem grupos de apoio como o de funcionários da Energisa que se mobilizam e doam cerca de 500 ou 600 brinquedos para mim. O Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso (TRT-MT) também virou um grande parceiro esse ano e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MT) abriu uma campanha dentro da instituição. Isso mostra que essas entidades acreditam em mim e no meu trabalho.

Leiagora - Ainda está cedo, mas você já tem planos para a campanha do próximo ano?

Clóvis Matos -
Eu tô pensando muito nessa de agora, mas tudo tem dado muito certo, até mais que os anos anteriores. A gente tá recolhendo muita coisa boa, as pessoas estão apostando muito no trabalho e tá chegando gente nova. Isso é o que importa.

Sobre os projetos, eu tô inclusive aberto a novas sugestões. Tem uma coisa que esse ano eu não consegui fazer, mas ano que vem eu quero fazer que é voltado aos idosos lá no Pantanal. Eles estão até me cobrando que eu só levo coisas para as crianças, sendo que eles também estão precisando, mas eu já levo roupas para essas pessoas. Eu vou incluir essas necessidades na programação do ano que vem, essa pode ser a grande novidade.

Leiagora - Agora mudando um pouco de assunto, esse é o primeiro ano pós pandemia que a gente vê tantos eventos e lugares com ambientes natalinos (Arena Pantanal, shoppings, prefeituras). Qual é sua percepção entre o pré e pós pandemia?

Clóvis Matos -
O meu trabalho no shopping reflete muito isso porque eu financio o Papai Noel Pantaneiro com parte do cachê que eu recebo do shopping e parte do dinheiro das fotografias, o serviço de fotografia é meu. Todo esse dinheiro é para financiar porque não fica barato uma ação dessa do Papai Noel Pantaneiro, nunca fica por menos de 15 a 20 mil reais todo ano.

Então, eu meço muito o movimento do shopping pelo tanto de fotografias que eu vendo. Nesse ano, eu tô fazendo em média 60 fotografias por dia, bem acima do que a gente fazia em outro anos e no ano passado, por exemplo, que foi o primeiro ano pós pandemia que eu voltei a trabalhar.

Leiagora - Tendo em vista que o Natal é uma época de festividade para reunir a família, você acha que esse crescimento todo de público e oferta desses atrativos revela uma ''superação'' do luto da pandemia, já que muitas famílias perderam entes queridos?

Clóvis Matos -
Eu acho que superação não, mas é uma retomada da vida “normal”. Eu não vejo como superação, eu vejo pessoas que vem ao shopping que não vieram no ano passado. É uma retomada da rotina e, até por conta do calor, muita gente tem ido para se refrescar também, às vezes não vai nem comprar, mas sim fugir do calor.

Leiagora - Falando agora da sua trajetória como Papai Noel, pode nos contar sobre algum momento muito emocionante que vivenciou ao longo desses anos?

Clóvis Matos -
Claro, tem um momento que eu não esqueço até hoje. Assim que eu comecei a fazer o Papai Noel no shopping, uma garota de 4 anos de idade na época chegou com um casal, que eu acho que eram irmãos, ela sentou no meu colo e eu fiz a clássica pergunta: “O que você quer ganhar de Natal esse ano?

Nesse momento, ela virou pra mim e falou a maior surpresa até hoje do meu trabalho: “Papai Noel, eu quero ganhar uma escada para chegar na lua e pegar uma estrela”. Eu até perguntei para o casal se eles tinham falado alguma coisa, mas eles não comentaram nada. Isso me deixou marcado no meu trabalho e na minha vida pessoal, quando eu lembro disso eu fico rindo sozinho.

Já no Pantanal, também tem surpresas super agradáveis como as crianças chegarem pra mim e falarem que não querem brinquedo, só querem os livros e isso não foi só uma vez não, foram várias. Coisas assim que me marcam e me emocionam.

Uma outra situação inusitada foi quando um outro Papai Noel foi nessas comunidades distribuir balinhas e eles não aceitaram o cara, não receberam nem a balinha dele. Quando eu cheguei lá eles falaram que aquele não era o Papai Noel deles e que eu viria ainda.

Então assim, é algo muito gostoso e vai ser muito ruim se eu tiver que deixar de fazer isso um dia, tanto para eles quanto para mim.

Leiagora - Diante de todas essas histórias, quais ensinamentos essa profissão ou esse hobby te trouxe e qual deles foi o mais importante?

Clóvis Matos -
Eu digo hoje com toda a firmeza que o que me move é o amor e a solidariedade. A solidariedade que eu tenho hoje com esse povo e com outros povos para onde eu vou foi criado dentro das minhas ações, mas muito se aprofundou diante das minhas ações no Pantanal, com esse projeto do Papai Noel Pantaneiro.

A solidariedade salva a humanidade e eu tenho isso na minha cabeça e nas minhas ações, nos meus trabalhos. É uma prática que eu faço já há muito tempo e tenho certeza de que as pessoas também recebem isso com muito carinho.

Leiagora - Além das regiões ribeirinhas, você tem trabalhos voltados para a periferia da cidade?

Clóvis Matos -
Eu atuo muito pouco em Cuiabá, mas eu viajo muito para outras regiões de Mato Grosso e hoje em mais seis estados eu levo livro para essas pessoas, principalmente pessoas que moram em comunidades afastadas, em lugares em que ninguém vai lá levar nada para esse povo. Atualmente, eu passo por Rondônia, Goiás, Tocantins, Pará, Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.

Aqui em Cuiabá, eu atuo muito pouco porque de alguma forma tem mais gente fazendo coisas por aqui e nesse outros lugares não tem, eu quem estou praticamente sozinho.

Leiagora - Agora pra descontrair um pouco, Cuiabá e Mato Grosso são regiões muito quentes e usar a roupa do Papai Noel não deve ser nada fácil. Você acha que o Papai Noel cuiabano não deveria usar bermuda e regata? Uma espécie de liberdade poética adquirida pelo calor da região?

Clóvis Matos -
Olha, no Papai Noel do shopping o público não aceita, é uma coisa de público. Já no Pantanal, a minha roupa é essa, é uma bata sem manga, ou seja, uma camisa larga sem gola e uma bermuda, essa é a minha roupa do Papai Noel Pantaneiro. Nesse caso, ela é verde, não é vermelha por causa do Pantanal, não tem sentido eu ficar de vermelho lá dentro com tudo verde ao meu redor.

Inclusive, esses dias eu quase morri porque eu faço trabalhos sociais o tempo inteiro e o pessoal do 1º Batalhão de Polícia Militar me convidou para fazer a chegada do Papai Noel em um trabalho que eles realizam ao lado do Shopping Popular e a chegada seria de helicóptero. Nisso, eles queriam que eu fosse com a roupa normal de Papai Noel, mas olha, eu nunca vi tanto calor na minha vida.

Leiagora - Por fim, gostaríamos que deixasse uma mensagem de Natal a todos e se pudesse dar um presente para Cuiabá neste momento, qual presente daria?

Clóvis Matos -
Sempre que eu encerro alguma entrevista que eu faço, eu digo para que sejamos solidários ao extremo, não limitemos as nossas vontades de sermos solidários, não importa aonde você estiver, não importa o nível social da pessoa que vai receber, sejamos solidários que eu acho que é isso que toca profundamente toda a bondade das pessoas, isso acaba com muita maldade que tem por aí.

De presente para Cuiabá, eu daria chuva para amenizar tudo isso e atender toda a nossa população.
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