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Notícias / Entrevista da Semana

21/01/2024 às 08:00

ENTREVISTA DA SEMANA

Meteorologista prevê verão de muito calor e expectativa de mais chuvas no período de seca com a chegada do La Niña

Verão caloroso, porém com temperaturas que não deverão atingir extremos como na primavera do ano passado

Luíza Vieira

Meteorologista prevê verão de muito calor e expectativa de mais chuvas no período de seca com a chegada do La Niña

Foto: Arquivo Pessoal / Montagem Leiagora

Após um ano de muito calor em Mato Grosso e uma estiagem severa que impactou diretamente no pilar econômico do Estado, a agricultura, em entrevista ao Leiagora o meteorologista Francisco de Assis Diniz, afirma que o verão no estado deve permanecer caloroso, porém com temperaturas que não deverão atingir o ápice da primavera do ano passado.

Quanto à seca, o professor que atuou como Diretor do Instituto Nacional de Meteorologia, afirma que ainda que é cedo para analisar a situação, mas admite que com o fenômeno El Niño saindo de cena para que a La Niña passe a operar é provável que com o resfriamento dos oceanos no meio do ano a tendência é de que chova mais em 2024.

O especialista ainda evidencia como o posicionamento geográfico da Capital mato-grossense é favorável ao calor que se intensifica na baixada em específico por conta de eventos climáticos mas também pelo aquecimento global, consequência, principalmente da queima de combustíveis fósseis.

Confira a entrevista completa:

Leiagora - O ano de 2023 foi um ano muito desafiador em relação às ondas de calor em todo Brasil. E há quem diga que em 2024, também por conta do fenômeno El Niño, o verão seja muito quente. Diante disso, o que a meteorologia aponta para Mato Grosso esse ano?

Francisco - O verão deve ser ainda quente, mas não tão quente, não posso comparar com o que foi a primavera (período de seca no Estado). É muito irregular a primavera no Estado, muitas ondas de calor bem intensas, mas no verão não deve acontecer essas ondas de calor tão intensas. Mas é previsto que o verão tenha temperaturas acima do normal ainda, devido também a influência do El Niño. 

Mas vale lembrar que o El Niño está terminando logo, né? Vai começar a enfraquecer de fevereiro para março e entre março e abril deve estar terminando o El Niño. Então o efeito do El Niño durante, vamos dizer assim, o final do verão, não vai ser essas coisas todas não. Ele perde o efeito em relação ao possível surgimento da La Niña, muito rapidamente no meio do ano. 

Leiagora - Para ficar mais claro, o senhor poderia explicar a diferença entre o El Niño e a La Niña e como esses efeitos climáticos podem afetar Mato Grosso neste primeiro semestre?

Francisco - Então, o fenômeno El Niño é o aquecimento das águas superficiais que ocorrem lá no Oceano Pacífico ao longo do Pacífico Equatorial, né? Quando as águas estão mais aquecidas, diz que está existindo o fenômeno, que está no período em que as águas são aquecidas. O El Niño tem influência no clima da América do Sul e no Brasil,  na região central do Pacífico, onde está mais ou menos chamada a área do El Niño 3 e 4.

Hoje está na faixa de média das temperaturas acima do normal na região, a medida está 1.4. Então é um El Niño mais ou menos moderado a forte, variando. Para você ter uma ideia, o El Niño de 2015, 2016, nessa época do ano? Ele estava com 2,3, bem mais elevado, agora está em 1,4. 

O fenômeno da La Niña é exatamente a situação contrária, que é o resfriamento das águas superficiais ao longo do acervo pacífico equatorial. Uma das águas que estão mais frias diz que está existindo o fenômeno da La Niña, ela contribui para ter mais incidência, a penetração das ondas de ar frio com mais frequência integrando no Brasil, ou seja, trazendo mais condições de frio. 

E quando tem o El Nino, contribui para maiores temperaturas no Brasil, fazendo com que haja também ondas de calor e fazendo com que tenha mais bloqueios também na América do Sul para dominar as ondas de calor. 

Leiagora - O senhor disse que o El Niño vai até mais ou menos março? Quando a La Niña deve começar e qual o efeito disso no Estado?

Francisco - É, ele deve estar terminando. Vai de março a abril. E normalmente tem perigo de neutralidade no oceano, né? Nem o El Ninho, nem La Niña, mas provavelmente do jeito que está indicando as previsões da evolução das temperaturas da superfície do mar, deve dar-lhe logo um resfriamento mais rápido, logo no Oceano Pacífico, dando assim início ao fenômeno da La Niña.

Leiagora - Mas quanto às temperaturas, então não deve ser um ano de mais calor, como foi registrado em 2023 em Mato Grosso?

Francisco - Não, esse verão não vai ter temperaturas recordes como tivemos em 2023, não. Talvez não chegue nem perto. As condições de temporais vão continuar, né? As condições temporais, as chuvas fortes, os eventos extremos, ainda vão continuar devido também à contribuição não somente do El Niño, mas também devido à situação que a Terra está passando por um período bastante quente.

Leiagora - No ano passado as mudanças climáticas afetaram muito a rotina no campo aqui em Mato Grosso, principalmente por que em alguns pontos não choveu o necessário nas áreas de plantio. A gente deve ter o mesmo cenário este ano, de pouca chuva nos meses em que antes eram conhecidos como início do período chuvoso?

Francisco - Em 2023 realmente foi muito irregular a chuva do Mato Grosso, com estiagem, pouca chuva, desde o início das chuvas, desde outubro, até praticamente meados de dezembro, mas também já estava até previsto e avisado, devido à condição que de certa semelhança como também teve em 2015. Segundo ponto, também tinha a previsão de janeiro ser o mês mais chuvoso, como está acontecendo.

Mas as condições indicam agora pela frente, em fevereiro também com a condição de boas chuvas. Em março deve chover, mas de acordo com a climatologia um pouco menos, em abril também chove, mas ainda de acordo com a climatologia, um pouco menos. Então não vai faltar chuva nem em março, nem em abril. Deve ter chuva, porém, de menor intensidade em março. Não há indicação de que tenhamos uma estiagem tão severa como a que tivemos durante o final do ano de 2023, durante a primavera, para o Mato Grosso. 

Nos primeiros meses do ano, indica uma certa recuperação nas chuvas da região. Apesar de já ser tarde demais, para o lado agrícola que também já não aguenta mais, as perdas já aconteceram.
 
Agora, com relação às voltas das chuvas para 2024, o período de chuva que começa no final do ano, para setembro para outubro no Mato Grosso, essas condições ainda estão longe, mas já é melhor para o meio do ano. Com o estabelecimento da La Niña que provavelmente deve chegar no meio do ano, a expectativa é de uma situação completamente contrária de 2023. A La Niña vai favorecer período de muita chuva para Mato Grosso, principalmente entre setembro e dezembro.

Leiagora - Aqui no Mato Grosso, os principais modelos de negócio no Estado são a agricultura e a pecuária. E esse modelo de negócio, teria alguma responsabilidade quanto a essas ondas de calor que vem impactando todo o país, mas principalmente o Estado?

Francisco - Não, esse problema climático é um problema global, não somente, por exemplo, no Mato Grosso. O Brasil está sofrendo também com essas condições de viver dentro dos extremos meteorológicos e climáticos.

Mas isso está associado a uma situação mais global também, em que o planeta está sofrendo, várias regiões do globo estão sofrendo com essas condições também. Devido, como eu falei a condição com o aquecimento que a Terra está passando. Também tem contribuição do El Niño que tem escala de efeito, vamos dizer assim, quase global. Ele tem escala de efeito no hemisfério como um todo, na América do Sul, na África, na Austrália e outras regiões também não somente por causa da questão do Mato Grosso, não. 

Leiagora - Apesar de ter feito muito calor aqui no ano passado, de acordo com o INMET Cuiabá não chegou a bater recordes de calor se comparado com outras cidades do país. Mesmo frequentemente sendo mais quente. Queria saber se há alguma explicação para isso e se esse ano Cuiabá pode bater recordes.

Francisco - Cuiabá tem sido bastante quente, né? As primaveras dos últimos,  praticamente dez anos, Mato Grosso, não somente Mato Grosso, o Centro do Brasil, as primaveras dos últimos 15 anos mais ou menos para cá, as primaveras têm sido quentes no Centro do Brasil. 

Talvez devido à condição geográfica de Cuiabá também, que faz com que haja essa situação, né? A entre maiores temperaturas. As temperaturas chegaram de 44 graus, chegou no ano 2020, né? 2022, 2023, praticamente possa estar se repetindo agora,  essas repetições dessas altas temperaturas em várias partes do globo também está associada à questão do aquecimento que a Terra está passando também.

Leiagora - O senhor falou um pouquinho da nossa localização geográfica, que contribui para todo esse calor. Eu também queria que o senhor explicasse como essa formação do relevo, Como isso impacta também nesse calor extremo?

Francisco - Geralmente a cidade de baixada, elas são mais quentes. Como o Cuiabá está numa baixada, aí realmente contribui para que haja esse aumento de temperatura somado ao aumento de temperatura que já está existindo no globo normalmente.

Então, quando há ondas de calor no centro do Brasil, consequentemente, em Cuiabá ainda mais quente que o normal devido à situação da baixada que está a localização geográfica. 

Leiagora - E a gente percebe também que isso piora muito porque falta planejamento na cidade, né? Em específico aqui no centro de Cuiabá, locais em que há mais concentração de pessoas, concentração de concreto e aí fica muito pior. Queria saber se o senhor tem algumas dicas para que as autoridades possam fazer, de imediato para fazer com que esse calor fosse de alguma forma amenizado?

Francisco - É, uma maneira também seria de fazer mudança no solo, mais grama, onde possa infiltrar mais água. Segundo ponto é que se estabeleça uma política de plantação de muitas árvores dentro da cidade, isso ameniza também a temperatura.

Leiagora - O senhor falou bastante sobre esse aquecimento que a terra tem sofrido, como a humanidade tem contribuído para isso?

Francisco - O aquecimento da terra dá-se pelo fato da atividade humana que está contribuindo e tem também os fatores naturais também que contribuem. Só que a atividade humana está sendo maior. Principalmente a questão da queima dos combustíveis fósseis. A emissão dos gases de efeito estufa para a atmosfera faz com que cada vez mais contribua mais para esse aquecimento global que a terra está passando. Faz com que haja maior concentração dos gases de estufa na atmosfera, consequentemente, mantém maior temperatura na superfície da terra, aliás, na camada mais baixa também da atmosfera, deixando a terra mais aquecida. Isso é uma grande contribuição dessa situação, é a queima dos combustíveis fósseis. Imagina, por exemplo, você pegar 20 mil cidades no globo, na terra, 20 mil cidades de porte médio, por aí assim, porte grande, queimando combustível direto ao longo do dia, o quanto não é emitido de emissão de CO2 para a atmosfera.
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