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Notícias / Entrevista da Semana

23/01/2022 às 08:00

Crise epidemiológica e política: como colocar a Saúde de Cuiabá nos eixos?

A entrevistada da semana é a nova secretária de Saúde da Capital, Suelen Alliend

Priscila Mendes

Crise epidemiológica e política: como colocar a Saúde de Cuiabá nos eixos?

Foto: Arte: Leiagora / Foto: Luiz Alves

Suelen Alliend assumiu como titular da Secretaria de Saúde de Cuiabá há menos de duas semanas e tem o compromisso de "arrumar a casa". Do ponto de vista político e administrativo, a pasta vivenciou um 2021 turbulento, com recorrentes escândalos.

Mas Suelen não é nova no papel. Ela estava no cargo, interinamente, desde agosto, ou seja, desde o desdobramento da Operação Curare, que investigou, dentre outros envolvidos, o então secretário de Saúde, Célio Rodrigues. Depois disso, já teve que lidar internamente com a Operação Capistrum, que questionou os critérios adotados à época para a concessão do Prêmio Saúde, afastando, inclusive, o prefeito Emanuel Pinheiro; e com o resultado da CPI dos Medicamentos, finalizada em dezembro de 2021 pela Câmara Municipal.

E, em meio a uma pandemia que estava aparentemente controlada até dezembro, Suelen precisa enfrentar a sobrecarga na demanda do SUS, para além do aumento esperado nos casos de covid-19, em decorrência das festas de fim de ano: uma variante de alto contágio, a Ômicron, e um surto de gripe.

A entrevistada da semana tem 17 anos de experiência na gestão de serviços de saúde, ora em Cuiabá, ora em Várzea Grande. Já atuou na captação de recursos, na área financeira, na habilitação de serviços de saúde, entre outras frentes estratégicas das áreas-meio do SUS.

Fala ao Leiagora sobre soluções para a falta de medicamentos, estratégias de controle da crise epidemiológica, sobre entrega de obras atrasadas, sobre recursos humanos e sobre métodos para ampliar a transparência pública e evitar novos escândalos.

Confira a entrevista na íntegra:

Leiagora - Você assume em meio a uma nova onda de casos de covid-19 e um surto de influenza. Como gerenciar essa crise? Quais são as estratégias do município para enfrentar o atual cenário epidemiológico? Cuiabá reabrirá leitos de atendimento à covid?

Suelen Alliend - Não, na verdade Cuiabá não fechou os leitos. Houve uma diminuição do quantitativo de leitos. Esses leitos são pactuados nas três instâncias de colegiado. São pactuados no nível municipal, no nível estadual, que daí vai para o nível federal. Então, no momento que foram avaliar os dados para que diminuíssem os leitos, nós deixamos aquela reserva com uma margem de segurança dentro dos números que a gente vinha apresentando. Então, o hospital referência continuou... diminuiu a capacidade dos leitos, mas ele continuou com aquela margem de segurança, considerando a taxa de ocupação praticada nesses leitos. Nunca fechou, diminuímos, mas ele continuou. Porém, com a diminuição da taxa de ocupação de internação, foi pactuado nos colegiados a diminuição, para que pudesse fazer o retorno das cirurgias eletivas e de outras especialidades. Então, foi definido que Cuiabá continuaria com o hospital de referência e continuaria com 28 leitos de UTI adulto e 5 pediátricas, que foi baseado dentro de uma margem de segurança, considerando a taxa de ocupação. Na verdade, nunca foi desativado. Apenas diminuiu esse quantitativo. 

Leiagora - E sobre estratégias para o atendimento da influenza e da nova onda de covid, para além dos leitos?

Suelen Alliend - Já estava bem definido isso, né? No final de novembro, a gente já estava tocando outros projetos, retorno das cirurgias eletivas, porque a gente já tinha uma demanda reprimida bem grande. E aí, quando foi em dezembro, começamos a observar o aumento dos números. A vigilância epidemiológica acendeu a luzinha vermelha e a gente começou a observar o aumento desses números. A gente também estava acompanhando o aumento dos casos no cenário nacional... E aí a gente começou também com os casos de influenza. Então, aumentaram os casos de covid, os casos de influenza e aumentou também [a demanda em] nossa rede de urgência e emergência.

Hoje estamos num cenário bem preocupante. Então, nós fizemos um plano de enfrentamento da gripe, com as unidades básicas de saúde e quais atendimentos seriam feitos ali, as unidades da atenção secundária e atenção terciária. E estamos monitorando os números. Claro que, se isso aumentar, a gente vai mudando as estratégias. Nós temos uma capacidade instalada hoje que comporta um possível aumento, mas sempre analisando esses dados, pra gente tomar outras medidas necessárias. Inclusive já vai para a primeira atualização desse plano.

Leiagora - Alguns laboratórios privados já relataram falta de teste de covid. Há risco de desabastecimento no município?

Suelen Alliend - Os testes de covid são distribuídos pelo Ministério da Saúde. Porém, nós observamos que houve mesmo uma diminuição na distribuição desses testes. Acompanhando o cenário nacional, a gente percebeu que já há alguns fabricantes que não têm os testes. Não têm em quantidades necessárias para repassar para os municípios fazerem a aquisição. A gente já viu que está faltando mesmo em todo o Brasil. Inclusive, São Paulo vai estabelecer critérios mais rígidos para que a população seja testada. Quando tiver sintomas e etc. Essas medidas, a gente também vai analisar como vai fazer. A tendência é que aqui também siga o cenário nacional.

Leiagora - Após dois anos de pandemia, houve mudança de prioridades no uso do orçamento público. Quais são os investimentos previstos para a Saúde? 

Suelen Alliend - Estamos fechando o Plano Municipal de Saúde de Cuiabá do quadriênio 2022 - 2025 e dentro dele já vão estar todos os investimentos, metas e indicadores que nós vamos trabalhar para 2022. Mas não posso adiantar nada, porque ainda não é oficial.

Leiagora - Com relação às obras atrasadas, qual é o planejamento para entrega? Quais serão entregues ainda em 2022?

Suelen Alliend - As obras também - não poderia ser diferente - foram bastante atingidas com o cenário da pandemia. Foi um cenário anormal. Dessas obras que a gente estava com previsão de entrega em 2020 e 2021, em dezembro de 2021, entregamos quatro novas unidades [básicas de saúde]: no Osmar Cabral, no Nova Esperança, no Novo Horizonte e entregamos a unidade lá do Ribeirão do Lipa. Já temos um cronograma de novas entregas que está sendo validado com o prefeito [Emanuel Pinheiro], eu imagino que em janeiro nós vamos entregar mais algumas unidades e já com previsão de entrega também da UPA Leblon, lá na região leste.

Leiagora - Como a pandemia impactou na entrega de obras. Em que sentido?

Suellen Alliend - É porque as prioridades, no momento de pandemia, passaram a ser outras. Era uma doença que ninguém, que não tinha recursos [previstos] nem em nível federal. Foi preciso mudar as estratégias. Então, a gente teve que fechar algumas coisas e a prioridade naquele momento, naquele cenário de guerra, era enfrentar aquela pandemia. O município, naquele momento, teve a rede de saúde bem estrangulada. Ele enfrentou, nos primeiros meses de pandemia, praticamente todo aquele custo sozinho. Até que foram descobrir mais ou menos o que era [a doença], que se organizou uma rede de atenção maior, que o Ministério da Saúde definiu portarias... e realmente atrapalhou nesse planejamento. 

Leiagora - Quais são as unidades que estão previstas para janeiro?

Suelen Alliend - Nós temos mais três novas unidades previstas, entre janeiro e início de fevereiro, mas não estão confirmadas ainda. O que a gente está enfrentando hoje na nossa rede de assistência: nós não temos o RH [recursos humanos] suficiente para equipar essas unidades; nós não temos profissionais disponíveis; abrimos o seletivo público e pedimos concurso. Então, a gente precisa desse efetivo de RH para que a gente possa abrir essas outras unidades. A gente está com previsão de entrega da [UBS] Nico Baracat, do Jardim Imperial, e do Alvorada. Estão prontas e está faltando apenas a gente ajustar essa questão de RH. 

Leiagora - E como será resolvido esse déficit de pessoal? 

Suelen Alliend - Nós temos um edital de processo seletivo que estava aberto, as inscrições foram até o último domingo. Também solicitamos concurso público e o pedido está em análise. A previsão de contratação do seletivo é de quase quatro mil servidores, com várias vagas de cadastro reserva. Então, tão logo a banca consiga finalizar o cronograma estabelecido, a gente vai priorizar as aberturas dessas unidades.

Leiagora - A CPI dos Medicamentos fez diversos apontamentos sobre a gestão dos remédios. O que já foi feito para mudar e evitar novos desperdícios, como em caso de validade? Nessa mesma linha, há reclamações de falta de medicamentos. Como está a aquisição e o abastecimento no município?

Suelen Alliend - O relatório da CPI dos medicamentos foi concluído em dezembro e a Câmara [Municipal de Cuiabá] ainda não nos encaminhou esse relatório, apesar de cobrar, por várias vezes a Câmara, o relatório na íntegra - porque são vários anexos, vários documentos.

O que a gente tem conhecimento é o relatório que foi disponibilizado nas mídias. Mas já entrei em contato, para que a gente possa recebê-lo na íntegra. Até pra gente ter conhecimento de toda situação que foi apontada, esse momento de resposta.

Mas, pensando nas situações que foram apontadas lá pela comissão da CPI, nós já começamos, em 2021 mesmo, a reestruturar o Plano de Assistência Farmacêutica do município. Inclusive, ele está descrito dentro desse plano municipal de saúde - quadriênio 2022 a 2025, já com base no que a gente teve conhecimento que foi apontado.

Foram feitas algumas ações dentro do CDMIC [Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos de Cuiabá], mudamos alguns fluxos, já tomamos algumas decisões. E também fizemos uma aquisição de medicamentos e insumos... Enquanto finaliza o processo de licitação de medicamentos...  Que a gente está com um pregão grande [em andamento]... Então, com base nisso, pedimos autorização, a gente noticiou os órgãos de controle externo, que a gente faria uma compra emergencial para que não virasse um caos.

A gente conseguiu fazer uma aquisição grande, não resolvemos ainda 100%, mas conseguimos abastecer uma boa parte da rede. Só que, daí, aumentaram os casos de covid, de de gripe, e a rede de urgência emergência - em que Cuiabá atende 60% de toda a demanda do estado - que atrapalhou um pouquinho o nosso planejamento, que seria para março, e a gente já tem que adotar outras estratégias, pra que não fique desabastecida a nossa rede.

Leiagora - Havia um planejamento de medicamentos, que era suficiente até março, mas vai acabar antes e terá que tomar outra estratégia, é isso?

Suelen Alliend - Isso, com o inesperado [gasto do] orçamento, com tudo ao mesmo tempo... Já era esperado o aumento dos casos de influenza, mas não era esperado esse aumento desproporcional dos casos de covid. Mas a gente já tem a boa notícia: o pessoal que trabalha com a parte de licitação já publicou o edital com o grande pregão de aquisição de medicamentos, que é de R$  52 milhões e a previsão que nos deram é que em 30 dias já finaliza todo esse processo e já vai resolver grande parte desse desabastecimento aí.

Leiagora - Você assume a secretaria em meio a escândalos de corrupção. Esteve interina desde agosto também por isso. Como isso afeta a gestão e o que tem sido feito no quesito legalidade e transparência, para que não haja novos escândalos? 

Suelen Alliend - Não vou falar de gestões passadas, que não convém, mas na minha gestão, a gente tem adotado algumas medidas estratégicas, como a edição de normas e procedimentos. A gente alinhou bastante os nossos controles internos, as nossas equipes de auditoria. E o foco desses trabalhos é justamente evitar esses vícios, esses erros em processos. A gente tomou várias medidas administrativas de fluxo, mudamos alguns fluxos aqui dentro, pra evitar esses erros, para evitar novos escândalos.
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