Cuiabá, domingo, 28/04/2024
16:09:47
informe o texto

Notícias / Geral

25/12/2023 às 13:00

CAPITAL MATO-GROSSENSE

Um semestre de extremos: temperaturas elevadíssimas e escassez de chuva marcam segunda metade de 2023

Profissionais que trabalham ao ar livre reforçam como têm se adaptado às mudanças climáticas

Luíza Vieira

Um semestre de extremos: temperaturas elevadíssimas e escassez de chuva marcam segunda metade de 2023

Foto: Luiz Alves | Fablício Rodrigues

Muitos cuiabanos podem ter pensado que o emblemático ‘Segundo sol’ tantas vezes cantado pela saudosa Cássia Eller, de fato, poderia ter chegado na Capital. Seja logo nas primeiras horas da manhã, com o sol a pino, de tardezinha, ou quando já era noite, o calor não deu trégua no segundo semestre de 2023, que conseguiu bater recordes com temperaturas muito elevadas. Mas, isso não foi só culpa do principal astro do planeta. Nessa história climática de derreter, há muitos fatores que impactaram no efeito causado pelo calor latente, como a falta de chuva após um longo período de estiagem severa.

O Leiagora conversou com o climatologista e professor do departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Rodrigo Marques, que detalhou como ocorreram os picos de calor registrados na Capital mato-grossense neste ano. Segundo o especialista, o dia de mais calor foi registrado em 19 de outubro, quando a cidade registrou 44,2ºC, deixando para trás o dia mais quente já registrado em 2020, quando chegou a 44ºC.

“Estamos tendo mudanças no comportamento climático terrestre, então o que se verificou foi uma grande massa de ar quente que ficou estacionada sobre o Brasil Central, juntamente com um anticiclone que acabou inibindo a formação de nuvens e chuvas. Então este ar quente que ficou estacionado foi sendo ainda mais aquecido, o que resultou nestas temperaturas que nunca tínhamos sentido”, elucidou.

Como explica o pesquisador, o El Ninõ, fenômeno responsável pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico além de ser responsável pelo aumento das temperaturas, é quase que proporcionalmente culpado pela baixa de chuvas, em específico em novembro. No mês da primavera, a típica ‘chuva do caju’ - aquela que marca o fim do período de estiagem - até veio, mas em baixíssimas proporções. 

Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia, a média de chuva para o mês de novembro, calculada em comparação aos anos de 1991 a 2020 seria de 194,6 milímetros. Contudo, neste ano choveu apenas o equivalente a 14% desse total, ou seja, 27, 5 milímetros. A baixa foi pior que em 2020, em que foram registrados 95,1 milímetros de chuva, ano em que o estado enfrentava graves impactos em virtude das queimadas no Pantanal. A situação piora ainda mais se a comparação for com o ano de 2018, quando choveu o equivalente a 409,6 milímetros.

O que fazer para melhorar? Quais as consequências, conforme os especialistas? São perguntas que não contemplam respostas a curto prazo, no entanto, as expectativas para os próximos anos também não são tão positivas.

Leia tambémCuiabá poderá registrar 168 dias seguidos de calor intenso em 2050

“O que podemos esperar são eventos extremos de calor e seca mais frequentes, assim como o aumento de calor faz com que se aumente as chances de temporais, ou seja, eles devem ser mais frequentes. Apesar de que na média histórica tenha aumentado as chuvas em Cuiabá, temos a sensação de que está mais seco, e precisamos entender melhor se tem chovido muito concentrado em poucos dias. Estes extremos não estão restritos a Cuiabá, cidades como Poxoréu e Nova Maringá já registraram temperaturas superiores a 44,2°C”, considerou o professor.

 

Manoel Ferreira, comerciante

Foto: Luíza Vieira

O que esperar do futuro?

Seu Manoel Ferreira, raizeiro há 60 anos e que comercializa seus produtos na região central de Cuiabá, tem boas recordações da infância vivida com a família na região do Coxipó do Ouro e tem se preocupado com as próximas gerações.

“Lá na roça a gente queimava a roça até 20 de setembro, chegou no dia 20 de setembro você não queimava mais porque vinha chuva, nós estamos em novembro e não tem chuva. Passou outubro seco. Mas, a culpa é de quem? Do ser humano, em uma ganância muito grande foi desmatando, queimando, os rios estão secando, não tem vegetação. E se agora está assim, imagine daqui a 20 anos, 30 anos. Eu, não sei se vou ver isso, mas o que será dos meus netos? Não vai ser fácil”.

Do limão se faz limonada, ou melhor, no caso da feirante Ana Lúcia, suco de

Ana Lúcia, feirante do centro de Cuiabá

Foto: Luíza Vieira

guaraná. A comerciante que trabalha em uma feira situada no centro da Capital afirma que tem sofrido com o calor, mas o tempo seco tem feito com que ela estocasse mais bebidas para vender devido à grande procura dos clientes e transeuntes que se locomovem nesta região da cidade. Mesmo com o estoque maior, às vezes ainda tem cliente que acaba sem um refresco.

“Falta, chega meio dia e já não tem mais nada, aí passa a tarde toda sem vender, porque a gente vende uma caixa térmica cheia, aí vende tudo e a tarde toda é o pessoal procurando água”, revelou.

Se está difícil para o seu Manoel e Ana Lúcia que trabalham embaixo de uma tenda, imagina para quem fica diretamente exposto ao sol. Esse é o caso do seu Valdemir Anselmo dos Santos, que atua como pedreiro e segurança.

 

Valdemir Anselmo dos Santos

Foto: Arquivo pessoal

“Muito mais quente que no ano passado [...] É, protetor solar, aí nós temos uma parada de 15 minutos de turno com o hidratante, com 15 minutinhos de parada para assistência e aí a gente toma aquele soro, né?”. Felizmente, Valdemir trabalha em uma empresa que disponibiliza protetor solar, isotônicos e uma parada no expediente em momentos de muito calor, todavia, nem todo mundo tem essa oportunidade.

“Eu chego cansado em casa de ficar no sol. Se não fosse os hidratantes que a gente toma aqui, a gente não aguenta, né? Tem gente que desmaia, não aguenta”, afinal, Cuiabá não é para amadores.
Clique aqui, entre na comunidade de WhatsApp do Leiagora e receba notícias em tempo real.

Siga-nos no Twitter e acompanhe as notícias em primeira mão.


 

0 comentários

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do site. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
Sitevip Internet