Cristiane Castrillon da Fonseca Tirloni, 48 anos, foi assassinada na madrugada do dia 13 deste mês, e o corpo dela foi deixado dentro do seu próprio carro, no estacionamento do Parque das Águas, em Cuiabá. O ex-policial, Almir Monteiro dos Reis, 49 anos, é apontado como autor do feminicídio. Após 10 dias do crime bárbaro que ceifou a vida da advogada, a Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu o inquérito policial e indiciou o investigado pelo crime de estupro, homicídio quadruplamente qualificado e fraude processual.
De acordo com o delegado titular da DHPP, Marcel Gomes de Oliveira, durante os 10 dias que precederam o crime, foram realizadas várias diligências para a conclusão do inquérito policial.
“Diante do prazo curto, justamente de 10 dias, tivemos as equipes engajadas especialmente para analisar celulares e imagens catalogadas. Então tivemos muito trabalho, especialmente durante a análise das imagens… Também foram ouvidas todas as testemunhas que corroboram com os fatos narrados na ocorrência, e com todo o aparato técnico a gente aprovou o inquérito e ele foi indiciado”, explicou em entrevista coletiva à imprensa nesta quinta-feira (24), na sede da delegacia.
Durante a investigação, a equipe da DHPP conseguiu delinear o trajeto da vítima e do ex-policial.
Abaixo, o Leiagora listou a cronologia do crime de acordo com as investigações da Polícia Civil, confira:
Tarde de sábado (12) - Durante a tarde, véspera do Dia dos Pais, a advogada Cristiane participa de um churrasco entre familiares e amigos, onde permanece até o início da noite.
22h00 - Cristiane sai do evento familiar e vai com o primo até um bar nas proximidades da Arena Pantanal. No estabelecimento, a vítima conhece Almir. Em determinado momento, o primo dela vai embora e a deixa com o homem.
23h30 - Após ficarem conversando e se beijarem, os dois saem do bar. A advogada vai com Almir até a residência dele, localizada no bairro Santa Amália, na capital.
Das 00h às 2h00 de domingo (13) - Nesse intervalo de tempo, a vítima mantém relações sexuais com o ex-policial, mas se recusa a praticar sexo anal e Almir a estupra e espanca brutalmente. Vizinhos ouvem gritos.
Após o abuso, o feminicída coloca o joelho na barriga da advogada e com um travesseiro a asfixia até a morte.
2h00 - Depois de matar Cristiane, o ex-policial realiza uma limpeza geral na casa dele a fim de apagar os vestígios do crime. Com as mãos sujas de sangue, ele deixa vários rastros em maçanetas de portas, em duas pias, torneira e no ralo, por onde escorreu a água que usou para lavar as mãos.
Nas pias, Almir coloca a roupa de cama e também o travesseiro, junto com várias substâncias líquidas, como creolina, deixou de molho para tirar o sangue e outros resquícios do crime.
Ainda durante a madrugada, o suspeito retira o corpo da vítima do quarto, passa pela sala que é anexa à garagem, e vai até o carro, onde coloca a advogada dentro do veículo dela, um Jeep Renegade, no banco do passageiro, e coloca um óculos de sol nela.
Em seguida, o autor do feminicídio retorna para o interior da casa e realiza uma limpeza geral nos cômodos da residência em que havia ficado vários pontos de sangue.
8h30 a 9h00 - Almir sai da cena do crime e dirige até o Parque das Águas com o corpo da advogada no carro da própria vítima. No local, ele deixa o veículo estacionado e pega um uber para voltar para casa.
Cerca de 30 minutos depois, ele se encontra com uma outra mulher na porta de sua casa, a qual ele conheceu em um aplicativo de relacionamento, e a beija. Este já era seu terceiro encontro com ela. Almir e a mulher ficam juntos durante todo o dia.
14h00 - Preocupados com o paradeiro de Cristiane, que não dormiu em casa, e após diversas tentativas de contato, o irmão dela acessa um aplicativo que indica que o celular dela estaria no Parque das Águas e se desloca até o local e encontra o corpo da irmã já sem vida. Ele ainda a encaminha a um hospital.
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15h00 - A Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) inicia as investigações após a equipe ser acionada para realizar a liberação do corpo da vítima.
21h10 - É feita a comunicação efetiva do crime. Após as diligências, os policiais identificam, por meio de imagens, o último local em que a vítima esteve antes da morte.
23h00 - Na residência, os policiais realizaam a abordagem do suspeito, que confessa ter dormido com a vítima, porém apresenta diversas contradições sobre os fatos posteriores e o envolvimento no crime de feminicídio. Ele alega que Cristiane teria caído e batido a cabeça em alguns locais da casa, e depois apresenta outra versão, a de que ela havia se machucado ao bater a cabeça na piscina no dia anterior, quando estava no churrasco com a família. Na sequência, o ex-policial é preso em flagrante.
14 de agosto - Pela manhã, Almir é interrogado pelos delegados Marcel Gomes de Oliveira e Ricardo Franco que atuaram no flagrante.
Durante à tarde, o suspeito passa por audiência de custódia e a juíza da 6° Vara Criminal de Cuiabá, Suzana Guimarães Ribeiro, decide converter a prisão em flagrante em prisão preventiva.
Na audiência, a defesa do ex-policial militar usa como argumento o laudo de esquizofrenia para tentar livrá-lo da prisão, mas o pedido é indeferido pela juíza.
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20 de agosto - Almir que estava preso na prisão militar, em Chapada dos Guimarães, e é transferido para a Penitenciária Central do Estado (PCE), em Cuiabá. A transferência ocorre atendendo ao pedido feito pelo Ministério Público ao Governo do Estado.
24 de agosto - A Polícia Civil divulga as informações sobre a conclusão do inquérito concluído no fim do dia anterior. Como resultado, o ex-policial é indiciado pelo crime de estupro, homicídio quadruplamente qualificado e fraude processual. O laudo técnico constatou que a vítima foi abusada sexualmente e brutalmente espancada pelo suspeito.
O processo agora está em mãos do Poder Judiciário e segue para o Ministério Público que poderá oferecer denúncia ou solicitar novas diligências.